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HistóriaAlemanha

Como um armador impulsionou o colonialismo alemão

Cai Nebe
17 de janeiro de 2024

Em 1884, a bandeira do Reich alemão foi içada em Douala, Camarões. Mas, em negociações obscuras, um comerciante de Hamburgo passou do comércio para o transporte dos soldados alemães que subjugaram os Herero na Namíbia.

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Foto: Comic Republic

O que era a empresa Woermann? 

A empresa de navegação e comércio C. Woermann, de Hamburgo, estabeceleceu-se pela primeira vez em Douala, nos Camarões, em 1868. Comercializava ao longo da costa da África Ocidental.

Adolph Woermann assumiu o negócio do pai, Carl Woermann, em 1874. O jovem ambicioso acreditava que África era um mercado para produtos alemães de baixo custo, como álcool, e uma fonte de mão de obra barata para produzir matérias-primas valiosas para as fábricas alemãs.

Por que é que Woermann queria colónias?

O crescente número de colónias, criadas por outras nações europeias, fez com que Woermann temesse que ele e outras empresas alemãs perdessem o acesso aos mercados africanos. O chanceler Otto von Bismack estava relutante em estabelecer colónias, encarando-as como um luxo caro.

Mas à medida em que a concorrência europeia pelos mercados africanos crescia, também crescia o lobby de empresários como Woermann. Em 1883, ele propõs o estabelecimento de protetorados na África Ocidental, convencendo Bismarck que isso poderia posicionar a Alemanha como uma grande potência.

Ilustração da cidade de Douala durante a ocupação colonial alemã
Ilustração da cidade de Douala durante a ocupação colonial alemã Foto: picture-alliance/akg-images

Quão crucial foi Woermann para o projeto colonial?

Alguns historiadores, como Kim Todzi da Universidade de Hamburgo, argumentam que a colónia alemã dos Camarões não teria existido sem Woermann. O Tratado Germano-Douala de julho de 1884, assinado pelos reis Bell e Akwa de Douala, garantiu a Woermann direitos de terra e o monopólio do comércio nos Camarões.

Woermann foi um ator-chave em 1884/1885, na Conferência de Berlim, que essencialmente formalizou as reivindicações coloniais europeias. O negócio marítimo de Woermann prosperou, tornando-se um sustentáculo do poder imperial alemão. 

Os "protetorados" eram bons para os comerciantes porque protegiam as empresas alemãs e os seus mercados da competição europeia. Eles também contavam com o apoio militar alemão. 

O que comercializou a empresa Woermann?

Cerca de 60% das exportações alemãs eram produtos alcólicos. Para defender essas colónias de rebeliões locais e outras potências europeias, seguiram-se as armas.

Isso encorajou os oficiais coloniais alemães a aventurarem-se para o interior, para explorarem rotas comerciais locais. Em 1905, 200 empresas operavam na África Ocidental, 30 pertenciam a Woermann. Criaram plantações comerciais de óleo de palma, cacau, borracha, tabaco e café nos Camarões, longe dos portos.

Jean-Yves Eboumbou Douala Manga Bell, descendente de Rudolf Duala Manga Bell, na inauguração da Praça Manga-Bell em Berlim, em 2022
Jean-Yves Eboumbou Douala Manga Bell, descendente de Rudolf Duala Manga Bell, na inauguração da Praça Manga-Bell em Berlim, em 2022Foto: Tobias Schwarz/AFP

O Tratado Germano-Douala não proibia isso?

Os chefes de Douala acreditavam ter assinado um acordo que limitava a atividade alemã à costa. Mas os oficiais coloniais apresentaram aos chefes um documento diferente da versão alemã, que acabou por ser assinada.

O estatuto de protetorado permitiu às empresas alemãs operar com suporte militar e Douala perdeu gradualmente o controle das suas rotas de comércio e territórios.

Como o colonialismo afetou os camaroneses?

As exportações proporcionaram imensos lucros à companhia Woermann, ao mesmo tempo que destruíram o tecido social camaronês. Muitas pessoas nunca tinham ouvido falar dos termos do Tratado Germano-Douala e muito menos concordaram com eles.

Muitos homens e mulheres foram forçados a trabalhar em novas plantações, onde as condições eram terríveis e os castigos corporais eram comuns.

Oficiais violentos como Jesko von Puttkamer garantiram que 20 a 30 mil camaroneses fossem forçados a colher e transportar borracha do interior para os barcos na costa. Líderes tradicionais que resistiram foram publicamente humilhados e houve aldeias incendiadas, o que forçou a migração para as cidades alemãs.

Quando Rudolf Douala Manga Bell, cujo pai assinou o Tratado Germano-Douala em 1884, protestou que o seu povo estava a ser abusado e as suas terras expropriadas, foi preso sumariamente por traição e executado em 1914.

Hereros aprisionados pela administração colonial alemã na Namíbia, em 1904/05
Hereros aprisionados pela administração colonial alemã na Namíbia, em 1904/05Foto: ullstein bild

Como a empresa Woermann afetou a NamÍbia?

A frota Woermann tinha o monopólio no transporte para as colónias alemãs e enviou cerca de 19 mil soldados e staff militar para o Sudoeste de África para esmagar a revolta dos Herero e Nama, entre 1904 e 1907. Ganhou milhões com o transporte de pessoas, materiais e armas para o Estado alemão. A certa altura, os custos da guerra ascenderam a mais de 600 milhões de marcos, uma soma astronómica suportada pelos contribuintes alemães. Seria o equivalente a 3,7 mil milhões de euros hoje em dia, segundo as contas feitas pelo historiador Kim Todzi.

Os Nama e Herero que sobreviveram à campanha militar foram levados para campos de detenção em Swakopmund e Lüderitz, onde empresas alemãs, incluindo a Woermann, usavam os prisioneiros de guerra para trabalho escravo em projetos de infraestruturas, como construção de linhas férreas e portos.

O que aconteceu depois de a Alemanha perder as suas colónias em 1919?

A estreita ligação da companhia Woermann ao Estado alemão significou a sua perda de influência em África quando a Alemanha foi forçada a renunciar às colónias depois da Primeira Guerra Mundial.

A era do comércio colonial explorador acabou, mas os danos causados pela ganância e violência deixaram cicatrizes nas comunidades nos Camarões e na Namíbia até hoje.

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