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Covid-19: África está a sair-se melhor do que o esperado?

Julia Vergin
8 de setembro de 2020

As primeiras estimativas relativas ao impacto da pandemia no continente africano apontavam para um cenário de horror. Mas, meses depois, os números mostram outra realidade, o que está a intrigar os cientistas.

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Südafrika Coronavirus Johannesburg Schule
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Farrell

Apesar da sua população numerosa, das condições de vida e higiene precárias em muitos países e dos debilitados sistemas de saúde, o continente africano conseguiu contornar as altas taxas de mortalidade provocadas pela doença.

Porquê? Foi o que tentou explicar um grupo de cientistas num estudo publicado na revista "Science". Um dos motivos, avançam os investigadores, poderá estar relacionado com a experiência do continente em lidar com outras doenças infeciosas como o Ébola ou a febre de Lassa. 

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Experiência de África em lidar com outras doenças infeciosas pode ter ajudado no combate à Covid-19Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba

"As restrições de movimento e as quarentenas impostas têm tido um impacto real. Muitos países em África tomaram estas medidas muito cedo. Contudo, medidas rigorosas são difíceis de manter durante um longo período de tempo. Por isso, podemos assumir que com a flexibilização das medidas, o número de infeções aumentará", explica Edward Chu, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Continente jovem

Os investigadores frisam, no entanto, que num continente em que "a maioria das pessoas trabalha no setor informal", tornando difícil a aplicação das medidas de confinamento, o baixo número de contágios – quando comparado com outros países - terá de estar relacionado com outros fatores. 

A idade, por exemplo, poderá ser uma das razões, uma vez que, em média, a população do continente africano tem 19,7 anos, o que é uma vantagem, uma vez que os jovens são menos afetados pela Covid-19 do que os mais velhos.

Segundo o estudo agora publicado, as baixas taxas de contágio verificadas no continente podem também estar relacionadas com o reduzido número de testes realizados – não só porque os jovens são mais frequentemente assintomáticos, mas também pela debilidade dos sistemas de saúde em muitos dos países. 

"A falta de capacidade de teste torna extremamente difícil dizer o quanto a pandemia irá realmente afetar as populações dos países africanos", comenta Edward Chu.

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Covid-19 agravou as carências em vários setores em ÁfricaFoto: Getty Images/AFP/A. Mpiana

Efeitos colaterais do coronavírus

Da lista dos fatores que podem explicar a propagação relativamente baixa do vírus em África consta ainda o sistema imunitário da população. Apesar da Covid-19 não ter tido, como inicialmente previsto, um impacto desastroso no continente, não há razões para celebrar, considera esse responsável. "Temos constatado que os danos colaterais provocados pelas medidas para conter a pandemia podem ser muito mais graves do que os danos diretos causados pelo vírus", explica.

Neste ponto, as crianças e os jovens são os que mais sofrem, principalmente por causa da escassez de alimentos, de vacinação e medicamentos. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV (ONUSIDA) advertiram em maio que as reestruturações nos sistemas de saúde de vários países africanos com vista a enfrentar a Covid-19 poderão levar à morte de mais de 500 mil doentes com SIDA, por causa da falta de medicamentos antirretrovirais. Já em julho, a organização humanitária Oxfam alertou que cerca de 12 mil pessoas poderão vir a morrer diariamente naquele continente com fome.

África registou 211 mortos devido à Covid-19 nas últimas 24 horas, passando a um total de 31.494, em 1.306.157 casos de infeção, de acordo com os números mais recentes da pandemia no continente.

Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas registaram-se, nos 55 Estados-membros da organização, mais 6.768 novos casos e houve mais 6.827 recuperados, para um total de 1.045.083.

O maior número de casos e mortos continua a registar-se na África Austral, com 689.515 infeções e 16.056 mortos.

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