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Covid-19: 'Fique em casa' é o lema do Dia da Paz em Angola

4 de abril de 2020

Angola celebra 18 anos de paz e reconciliação nacional. O feriado nacional sempre foi comemorado com atos políticos e atividades recreativas. Mas devido à pandemia do novo coronavírus as ruas ficaram em silêncio.

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Ruas vazias em Luanda, a capital de Angola
Dia da Paz em Angola foi marcado por silêncio e ruas vazias Foto: DW/M. Luamda

Em Angola, o 04 de Abril é um feriado nacional. A data é comemorada desde 2002, com reflexões sobre a paz, unidade e reconciliação nacional e, nas zonas periféricas, com música, comida e maratonas.

Esta é a data em que foram assinados os acordos de paz de Luanda em 2002 - depois damorte de Jonas Savimbi, líder fundador da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), na província do Moxico, leste de Angola, a 22 de fevereiro de 2002. 

Na véspera das celebrações do ano passado, toda a imprensa, incluindo rádio, televisão e jornais, preencherem os principais espaços informativos com notícias, reportagens, análises e opiniões sobre o Dia da Paz em Angola. E os angolanos faziam viagens para algumas províncias do país e para o exterior. Mas, este ano, a data foi marcada por um silêncio quase total.

Dia da Paz só nas redes sociais

Nas primeiras horas deste sábado (04.04), alguns poucos angolanos recordaram o Dia da Paz, Unidade e Reconciliação Nacional, mas apenas nas redes sociais. No Facebook, os cidadãos fizeram publicações e comentários sobre o feriado celebrado em tempo de luta contra o novo coronavírus.

"Custa-me acreditar que não posso caminhar em paz em pleno Dia da Paz", escreveu o internauta Bernabé Kassinda Lucas no Facebook.

Joana Clementina, que tem um dos perfis mais conhecidos e comentados em Angola, comentou: "Angola, feliz Dia da Paz", o que gerou o engajamento de vários de seus seguidores. 

Comemorações simbólicas

A DW África conversou com alguns cidadãos sobre as celebrações tímidas do Dia da Paz em Angola. O jornalista angolano Felix Abias nota a diferença em relação aos anos anteriores. "Estaríamos a mentir se disséssemos o contrário: as celebrações são diferentes. Estamos em estado de emergência por causa da ameaça da Covid-19. Só isso explica bem a grande diferença em relação aos anos anteriores. Todo mundo está em casa", sublinhou Felix Abias.

Para este profissional, a mensagem sobre a paz neste clima de luta contra a pandemia "não cativa a atenção das pessoas". "Muitos não sabem o que vão comer. Se conseguirem hoje, ficam ansiosos em relação ao dia seguinte", diz. "A melhor mensagem por ocasião do Dia da Paz era dizer que foi encontrada a solução da Covid-19, mas quem é Angola diante da Covid-19?", questiona.  

Andre Kinvuandinga, outro jornalista angolano, observa que o Dia da Paz passou despercebido este ano. "Este dia é diferente, não apenas por ser sábado, mas também por ser numa fase em que todos estão em casa", explica.

Carlos Maneco, professor de gestão documental do Instituto Superior de Ciências de Comunicação (ISUCIC), também não tem dúvidas de que a pandemia alterou o modo de comemoração das festividades da paz. "Este ano, por conta da Covid-19, pela primeira vez ao fim de 18 anos, a celebração do Dia da Paz e Reconciliação Nacional é diferente. Aliás, o próprio ministro da Administração do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, disse que se faria de forma simbólica", afirmou.

Embora a pandemia tenha limitado as comemorações, houve atos simbólicos conduzidos pela ministra de Estado para a Área Social de Angola, Carolina Cerqueira. Em declaração à imprensa, a governante disse ser necessária a contínua homenagem aos autores da paz e a preservação do que se considera em Angola a segunda maior conquista depois da independência em 1975.

"Queremos que a paz que esperávamos que seja definitiva e duradoura perdure em Angola para o beneficio dos seus filhos, para prosperidade e desenvolvimento do nosso país. Esta homenagem que hoje efetuamos representa que, nós, a nação angolana, estamos agradecidos a todos aqueles que derramaram o seu sangue e deram a sua juventude para o melhor da nossa pátria angolana", declarou. 

Mercado vazio em Luanda, a capital de Angola
Mercado informal na capital angolana foi encerrado devido à pandemia da Covid-19Foto: DW/M. Luamda

O que fazem os angolanos em casa?

Isolamento social, distanciamento social, confinamento social e a mensagem "fique em casa" são as expressões mais utilizadas nos últimos dias em Angola desde o início do surto do novo coronavírus no país. Os apelos visam conter a cadeia de contaminação comunitária. Universidades, escolas, igrejas, mercados informais continuam encerrados.

A DW África procurou saber o que os angolanos fazem em casa enquanto dura o estado de emergência. "Em casa, leio, vejo filmes, fico nas redes sociais e oriento o exercício das crianças, um trabalho que não foi feito pelos seus professores. Como ninguém pode sair de casa com exceção a nós, jornalistas, quando vamos trabalhar, estamos a nos reinventar fazendo coisas que nunca fizemos antes", conta André Kivuandinga.

O jornalista Felix Abias tem estado aproveitar o tempo de quarentena com a família sempre que o ofício não o chama. "Estou a trabalhar em regime de torno. Ou seja, continuo a trabalhar, mas não todos os dias. Os demais membros da família estão em casa. Estou a estudar com a minha filha e a brincar com os pequenos", diz.

Por sua vez, a leitura e as letras preenchem o dia-a-dia do professor Carlos Maneco em casa. "Estou com a família a participar das tarefas diárias de casa, escrever crónicas e, sobretudo a ler muito. Os livros são do [escritor angolano] Pepetela", sublinha.

Carlos Maneco diz que o estado de emergência é de cumprimento obrigatório. Mas entende quem sai a rua em busca de pão para a família. "Eu sou professor e tenho de ser modelo para a sociedade. Trata-se de um decreto presidencial e todos nós estamos obrigados a obedecer, embora perceba que há muitos angolanos, ou mesmo a maioria, que se não sair à rua está condenada a não comer", conclui.  

Os números da Covid-19 em Angola

Esta sexta-feira (03.04), assinalou-se uma semana desde que foi declarado o estado de emergência pelo Presidente angolano, João Lourenço, devido à pandemia do novo coronavírus. Os angolanos têm pela frente mais uma semana até o fim da emergência decretada a 27 de março. Se a situação prevalecer, o estado de emergência será prorrogado, à semelhança de outros países afetados, como Portugal.

"Temos oito casos positivos, dos quais dois resultaram em óbito e um foi recuperado. São 162 casos suspeitos", disse esta sexta-feira o coordenador da comissão multisetorial da luta contra o coronavírus em Angola, Pedro Sebastião.

Em Luanda, capital angolana, foram montados cinco centros de quarentena.

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