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Covid-19: Influência da China aumenta em África

Martina Schwikowski | mjp
24 de abril de 2020

Depois de ataques racistas contra migrantes africanos na China, muitos exigem uma resposta de Pequim. Mas as autoridades do continente também precisam do apoio da China. O que está por trás da "diplomacia da máscara"?

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Ajuda médica chinesa a chegar ao Aeroporto Internacional de Acra, no Gana, a 6 de abrilFoto: imago images/X. Zheng

Países de todo o continente africano trabalham para travar a propagação do novo coronavírus - e quase todos recebem apoio da China. Na Etiópia e no Burkina Faso, por exemplo, médicos chineses estão há vários dias no terreno a aconselhar as autoridades de saúde nacionais no combate à pandemia.

Correspondentes da DW em diversos países relatam a chegada de contentores provenientes da China, carregados de máscaras, ventiladores e fatos de proteção. E o milionário chinês Jack Ma e a sua fundação estão a dar que falar com grandes donativos ao Ruanda e Camarões, entre muitos outros Estados.

A "diplomacia da máscara"

Para Stephen Chan, professor de Política e Relações Internacionais no Centro de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, os esforços da China são, acima de tudo, urgentes e necessários: "Eles providenciam máscaras, ventiladores e material para testes e tudo isso está a faltar em África". Mas Chan acrescenta: "O que os chineses estão a fazer é muito útil - também para as suas relações diplomáticas com África".

Nigeria Abuja | Coronavirus | Jack Ma Hilfsgüter
Equipamento médico doado à Nigéria pelo milionário chinês Jack MaFoto: Getty Images/AFP/K. Sulaimon

Nada disto é novo, uma vez que a China está presente em África há muitos anos com projetos de infraestruturas e programas de ajuda, lembra o professor. O apoio no âmbito da pandemia pode, por isso, ser visto como a manutenção desta parceria e um sinal de boa vontade, afirma Stephen Chan, "especialmente tendo em conta os recentes problemas que surgiram na China envolvendo os africanos que vivem no país".

Racismo na China

Chan refere-se aos ataques racistas contra migrantes africanos nas últimas semanas que estão a causar indignação em África. Sobretudo em Guangzhou, metrópole económica do sul da China, onde vivem muitos imigrantes africanos, multiplicam-se os relatos de discriminação aberta e hostilidade racista contra negros. Os estrangeiros são muitas vezes vistos como potenciais portadores do coronavírus. Muitos africanos foram impedidos de entrar em supermercados e há mesmo relatos de pessoas confrontadas com a rescisão de contratos de arrendamento.

Até agora, o Governo chinês tem minimizado os acontecimentos. Nos bastidores, no entanto, já foram tomadas medidas, diz Stephen Chan: as autoridades de Guangzhou estarão a tentar controlar o problema com formações anti-racismo. Ainda assim, as inúmeras críticas nos meios de comunicação social africanos revelam que a China tem um problema de imagem no continente.

O consumo de morcegos e o coronavírus

Cobus van Staden, especialista em assuntos chineses no Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, em Joanesburgo, concorda: "Houve muitas reações de indignação depois dos ataques a africanos a Guangzhou. Estamos agora a assistir à pressão da sociedade civil africana, que exige uma resposta dos governos". 

"Todos no mesmo barco"

Mas os governos africanos não têm muitas opções. Pelo contrário, van Staden considera que a crise forçou o continente a cooperar de forma ainda mais estreita com Pequim: "A crise económica global força África a renegociar a sua dívida financeira com a China". 

Stephen Chan também não espera grandes mudanças depois dos recentes incidentes: "Não acredito que vão afetar as relações políticas entre os dois continentes. Não há grandes problemas ao nível oficial".

Para o professor, é claro que a China vai continuar a aumentar a sua influência em África na sequência da crise. As atuais medidas de apoio podem transmitir uma forte imagem da China como um parceiro compreensivo e útil no continente. E também porque a economia chinesa sofreu com a pandemia do novo coronavírus, a mensagem de Pequim para África é clara: "Estamos todos no mesmo barco".

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