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Covid-19: Onde se tratam agora as elites moçambicanas?

Nádia Issufo
2 de março de 2021

Graças à Covid-19, as elites sentiram na pele a precariedade do seu sistema de saúde. Nem o dinheiro lhes abriu portas, experimentaram a dor da maioria. Mas agora as avionetas já passam de novo para a África do Sul...

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Mosambik Maputo | Krankenhaus Polana-Caniço
Hospital Geral da Polana-Caniço, Maputo. Aqui são atendidos muitos doentes com coronavírusFoto: Romeu da Silva/DW

45 minutos de avião para Joanesburgo para consultas médicas de rotina é uma prática comum entre as elites moçambicanas. São provavelmente os abastados que mais impulsionam o chamado turismo médico na África do Sul. Também vêm para a Europa para tratamentos e há até quem se fixe por aqui para que possa respirar por mais tempo.

É que, em Moçambique, o sistema de saúde, às vezes, chega a ser degradante, como relata o citadino de Maputo, Leopoldo Timana: "Não temos equipamentos, não temos oxigénio, não temos camas vagas... Se isto era um caos, agora piorou. Quem tem dinheiro procura as clínicas [privadas], mas estas também, para alguns serviços, recorriam ao Hospital Central de Maputo [serviço público]."

E Timana sublinha que "a pandemia veio de alguma forma evidenciar as fragilidades do sistema de saúde".

Um desprazer que as elites passaram a experimentar com a pandemia da Covid-19. Nem o seu dinheiro e influência conseguiram a magia de abrir fronteiras. Passaram a experimentar o que a maioria da população conhece desde que nasceu, a decadência do sistema nacional de saúde. Sentir frustração, impotência e morrer, algumas vezes só por falta de condições hospitalares.

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Que lição tiram as elites da "passagem pelo purgatório"?

"De acordo com os últimos acontecimentos é o que se espera, que a elite que governa Moçambique hoje tome posição de melhorar os serviços básicos dentro do país", acredita o jornalista Zito do Rosário.

E o jornalista alerta "que do outro lado se vai buscar os serviços por causa da eficácia, mas é [preciso questionar] como as pessoas saem daqui, às vezes não têm os cuidados essenciais [no início da doença] e apresentam um quadro clínico grave. Então, devem dar uma atenção redobrada, agora, ao sistema nacional de saúde."

Mas, para o regozijo das elites moçambicanas, as fronteiras voltaram a abrir, pelo menos para quem não tem Covid-19. Os dirigentes voltaram a ser evacuados em jatos para a África do Sul para se beneficiarem do excelente sistema de saúde concebido pelos seus irmãos de Pretória - só que de lá não levam o exemplo.

Peso das contestações na Saúde pode gerar melhorias

Jorge Matine
Jorge Matine, pesquisador na área de saúdeFoto: Privat

Enquanto isso, as lamentações e contestações dos profissionais de saúde moçambicanos vão sendo geridas à porta fechada. Mas isso terá o seu peso na balança da mudança, entende o pesquisador para área de saúde da ONG Observatório Cidadão para a Saúde, Jorge Matine.

"[Há uma] lógica de criação de processos internos que podem provocar alguma mudança no setor em termos de priorização pró saúde", entende o pesquisado, que exemplifica: "O caso [da contestação] dos médicos em relação à falta de proteção, as mortes entre os profissionais de saúde, o que afeta o sistema, a falta de equipamento básico... A falta disto tem desencadeado alguns questionamentos dos provedores".

14% é a fatia que o setor da saúde deverá receber do bolo orçamental do Estado para 2021. Embora o valor represente um aumento de 5,6% em relação a 2020, o montante para a saúde está muito aquem das necessidades de um setor essencial. Um dificuldade a que continuará a escapar quem tem o bolso gordo...

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