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Covid-19: Vacinação não está a avançar em África

António Cascais
21 de maio de 2021

África vive uma situação de escassez aguda de vacinas, depois de a Índia suspender a exportação deste fármaco profilático para vários países. Porém, observadores internacionais mostram-se esperançosos no futuro.

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Uganda I Impfstoff AstraZeneca
Foto: Badru Katumba/AFP/Getty Images

"No geral, o número de casos de coronavírus em África está a diminuir ligeiramente. No entanto, registámos um aumento em alguns países nas últimas semanas", disse Ngoy Nsenga, chefe do Gabinete de Emergência da Organização Mundial de saúde (OMS) em África, que é responsável por um total de 47 países, principalmente na África Subsaariana.

Atualmente, verifica-se um aumento do número de casos da Covid-19 na Argélia, Cabo Verde, Seicheles e Angola. Em algumas regiões da África do Sul também houve um aumento no número de infeções, acrescentou Nsenga.

Seicheles: infeções alastram apesar da vacinação

Para os especialistas, não é ainda claro se o aumento de infeções em alguns países poderia ter sido travado com o reforço das campanhas de vacinação. As Seicheles, por exemplo, estão entre os países do mundo na liderança do número de vacinações per capita. De acordo com dados do Ministério da Saúde daquele país, revelados em meados de maio, 63% das pessoas já receberam as duas doses da vacina necessárias. Ainda assim, a incidência da doença é superior a 1.000 casos por 100 mil habitantes.

Seychellen I Präsident Wavel Ramkalawan erhält COVID-Impfung
Wavel Ramkalawan (à direita), Presidente das Seichelles, recebeu a primeira dose da vacina anti-Covid-19 no início de janeiroFoto: Rassin Vannier/AFP/Getty Images

A OMS está a analisar os dados das Seicheles depois de o Ministério da Saúde daquele país anunciar há uma semana que mais de um terço das pessoas infetadas estavam totalmente vacinadas contra a doença. Nestas pessoas, a patologia desenvolve-se com quadros mais leves e menos sintomas, ainda que alguns doentes necessitem de internamento.

Segundo dados governamentais, cerca de 56% das vacinas administradas no país são da empresa chinesa Sinopharm. As restantes doses usadas são da AstraZeneca e foram fabricadas na Índia. No entanto, as entregas de vacinas a partir daquele país asiático estão a falhar não apenas no caso das Seicheles, mas em toda a África, uma vez que a Índia proibiu a exportação deste fármaco em abril.

Suspensão de entregas para África

Esta suspensão de entregas atingiu duramente os países africanos, defende Catherine Kyobutungi, chefe do Centro de Investigação em Saúde e População Africana (APHRC), uma das principais organizações de Saúde Pública em África, com sede em Nairobi, no Quénia.

Muitos países africanos, e especialmente a iniciativa global COVAX da OMS, que distribui vacinas pelos países mais pobres, contaram com a contribuição de suprimentos médicos da Índia, elaborando os seus planos de vacinação. "O Quénia, por exemplo, tinha mais de um milhão [de doses] em abril. Os cidadãos receberam a primeiro inoculação da vacina. De repente, o calendário de vacinação do Quénia ficou confuso", relata Catherine Kyobutungi.

Data visualization COVID-19 New Cases Per Capita – 2020-05-19 – Africa - Portuguese (Africa)
Média de novos casos diários nos últimos 14 dias em vários países africanos

Com a suspensão indiana, milhares de pessoas não receberam a segunda dose da vacina. "A segunda vacinação só será administrada depois de 12 semanas", diz Kyobontungi, em entrevista à DW África, contrariando as expectativas iniciais.

Mesmo países como o Ruanda ou Senegal, que são considerados particularmente eficazes na gestão pandémica, assistem a um progresso lento no que toca à vacinação. A proporção dos vacinados na população total de África permanece abaixo de 2%, sendo que a meta estabelecida pela União Africana de vacinar até 60% da população em África até ao final de 2022 não parece realista.

"Se me perguntarem se é um desastre ou apenas um atraso na recuperação, eu respondo: nós vemos isto como um atraso que podemos ultrapassar", comenta Ahmed Ogwell, vice-diretor da autoridade de saúde da União Africana (África CDC).

Nsenga Ngoy, do gabinete regional da OMS para África, vê a situação de maneira semelhante: "Acho que não devemos reduzir a meta, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para alcançá-la".

Destruição de doses

Corona-Impfung in Uganda
Uganda enfrenta difoculdades para administrar todas as doses das vacinas de que dispõeFoto: Luke Dray/Getty Images

Apesar da escassez de vacinas, alguns países estão a deixar expirar o prazo de validade das doses, como aconteceu no Malawi e Sudão do Sul. A Serra Leoa também anunciou em abril que um terço das quase 100.000 doses da vacina que o país recebeu em março não seria usado antes da data de validade. Já o Uganda administrou menos de um quarto das 964.000 doses da vacina AstraZeneca recebidas em sete semanas até ao final de abril. A explicação para este desperdício é multifatorial, mas é em parte explicada pela falta de infraestruturas.

Para Ngoy Nsenga, é importante manter o olhos no futuro, porque há verdadeiras histórias de sucesso em África: "Há países como o Ruanda ou Gana que inocularam praticamente todas as doses disponíveis".

No Gana e Ruanda, o enfoque deu-se inicialmente na população urbana, onde a distribuição é menos complicada e onde existe uma maior aceitação das vacinas pela população, refere Catherine Kyobutungi. Em Kigali, capital do Ruanda, os vendedores ambulantes e motoristas de táxi estão entre os grupos prioritários desde o início. Segundo Catherine Kyobutungi, a população rural será vacinada mais à frente, porque uma campanha de vacinação contra as convicções da população tem poucas hipóteses de sucesso.

Nsenga Ngoy é da mesma opinião: "A melhor maneira de fazer cumprir uma medida de saúde é envolver as pessoas e as comunidades".

A coerção ou o envolvimento das autoridades policiais pode ser contraproducente: "A população muitas vezes reage a isso com suspeita. O perigo de que as pessoas recorram a meios ilegais para contornar as medidas coercivas é grande", como a "falsificação dos boletins de vacinação, a fuga ou a difusão de teorias da conspiração", justifica Nsenga Ngoy.

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