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Crescimento populacional dificulta desenvolvimento de Angola

11 de julho de 2018

Esta quarta-feira (11.07) celebra-se o Dia Mundial da População. Em entrevista à DW, sociólogo angolano Carlos Conceição reconhece que crescimento populacional acentuado pode trazer mais desafios que oportunidades.

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Luanda vai sendo "asfixiada": População na capital cresce ao dobro do ritmo no resto do paísFoto: Getty Images/AFP/S. Loeb

Dados publicados pela Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta que a população no continente africano irá duplicar até 2050, chegando aos 2,5 mil milhões de pessoas.

Em Angola, os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelados no final do ano passado, estimam que a população ativa ronde os 20 milhões. Desses, 20% encontra-se desempregada. Nos jovens entre os 15 e 19 anos de idade, a taxa de desemprego chega aos 46%. Uma realidade apontada pelo sociólogo e também docente universitário angolano Carlos Conceição que, em entrevista à DW África, afirma que existe "uma taxa de emprego muito reduzida e que não é proporcional ao número de habitantes".

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A população africana continua em crescimento aceleradoFoto: DW/J. Kanubah

Para este sociólogo, o aumento populacional no seu país não representa tanto "uma oportunidade", mas sim "um desafio", uma vez que "não é proporcional ao desenvolvimento humano".

Carlos Conceição afirma ainda que "os países africanos devem investir em políticas de controlo demográfico, porque não importa crescer e depois ter problemas de várias ordens que os próprios Estados africanos não conseguem controlar".

DW África: O continente africano é aquele em que o crescimento da população é mais acelerado. No entanto, em muitos países africanos, o aumento da população não é acompanhado pelo crescimento económico, tendo como consequência alguns problemas sociais. Pode-se dizer que é o que está a acontecer em Angola?

Carlos Conceição (CC): Sim, efetivamente porque em Angola temos uma densidade populacional quase não controlada. À medida que se vai registando essa densidade populacional, é verdade que esta vai interferir com políticas públicas, sobretudo políticas públicas direcionadas para as áreas de educação, saúde e habitação. Ainda vemos hoje a questão das assimetrias e das desigualdades sociais que têm vindo a acontecer entre nós. Tudo isso é fruto do crescimento populacional. Segundo estatísticas fornecidas pelo Instituto Nacional de Estatística, somos perto de 28 e 30 milhões e isto não se reflete no desenvolvimento das populações. Temos uma taxa de emprego, muito reduzida, que não é proporcional ao número de habitantes que, efetivamente, temos.

Crescimento populacional dificulta desenvolvimento de Angola

DW África: Portanto, em Angola o crescimento acaba por não ser uma oportunidade, mas um desafio, neste momento.

CC: Acaba por não ser uma oportunidade, acaba por ser um desafio, porque o crescimento demográfico não é proporcional ao desenvolvimento humano e isto não se reflete na qualidade de vida das populações. Sabe-se, por exemplo, que as projeções mundiais costumam indicar que o continente africano é um continente jovem, e Angola não foge à regra. A nossa pirâmide, na base, é maioritariamente jovem. Esses jovens, muitos deles, encontram-se em situação de abandono escolar, em situação de desemprego, em que não contribuem ativamente para o desenvolvimento do país.

DW África: De facto, o desemprego jovem em Angola atinge níveis consideráveis. Como é que pode e deve ser combatido? Quais as medidas que o governo angolano deveria tomar para fazer frente a esta realidade?

CC: Era importante que se criassem condições do ponto de vista da educação, mas também que as instituições de formação tivessem uma relação mais direta com as empresas. Temos estado a verificar, por exemplo, em Angola, que há um boom no crescimento das instituições de ensino superior e também no ensino geral público. Também temos parceiros privados que têm contribuído significativamente nesse sentido. Mas isso não tem resultado, porque as instituições formam e depois o Estado não tem capacidade de absorver as pessoas que têm estado a formar. Um outro aspeto é a questão da formação técnico-profissional. Também temos um défice nesse ponto de vista. Hoje costumamos ver situações de criminalidade, delinquência, sobretudo no seio da juventude, porque muitos desses jovens não conseguem ter oportunidade, nem de formação formal nas escolas, nem de formação profissional. Poderiam ter uma formação profissional e, como consequência, poderiam estar empregados ou até promover o autoemprego.

Angola Markt in Luanda
Taxa de desemprego de cidadãos entre 15 e 19 anos é quase de 50%Foto: picture-alliance/ZB/T. Schulze

DW África: E quanto às condições de acesso a meios básicos como a saúde ou a habitação, no futuro, será necessário também um maior investimento nestas áreas?

CC: Há um esforço, mas o esforço não é significativo. Estamos diante um quadro novo, ou seja, há um novo Governo. No quadro dessa nova administração, desde que assumiu o poder, temos visto que tem-se criado algumas políticas, tem-se reformulado certas situações. Mas isso não é suficiente. Os problemas em Angola não são de hoje, são problemas crónicos. Para serem ultrapassados, deve fazer-se um esforço redobrado em relação àquilo que temos estado a verificar. Ainda vai levar algum tempo para dar resposta no que diz respeito ao direito à educação, direito à saúde, direito ao emprego, direito à habitação. O crescimento populacional vai de facto, dificultar a implementação das políticas públicas no nosso país.

Angola Eisenbahnlinie bei Benguela
Êxodo rural vai dificultar gestão da capital angolanaFoto: picture-alliance/dpa/K. Ludbrook

DW África: A população em Luanda, capital de Angola, cresce duas vezes mais do que no resto do país. A tendência é que os jovens procurem cada vez mais as grandes cidades como é Luanda, por exemplo, e que isso acabe por agravar ainda mais a situação?

CC: Luanda é a cidade económica, é a cidade política, é a cidade administrativa do país. Isto tudo vai aliciando jovens de outras províncias do interior do país a acederem regularmente à cidade de Luanda, por isso é que ela cresce duas vezes mais. Temos os problemas das assimetrias sociais que são muito grandes no interior, diferentes daquelas que se encontram no litoral. Penso que essa situação vai continuar e vai dificultar a organização social da capital, a gestão da capital, que tem sido asfixiada. Temos assistido regularmente ao êxodo rural, que vai asfixiando a capital de Angola.

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