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Custo de vida em Angola pode aumentar ainda mais

Madalena Sampaio21 de maio de 2013

Angola prevê aumentar as taxas alfandegárias de 30% para 50% ainda este ano. Cerveja, água e produtos agrícolas são alguns dos bens que deverão ver o imposto aumentar. Más notícias para os consumidores, avisa economista.

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Medidas do Governo vão pesar na carteira dos consumidores, alerta economistaFoto: Getty Images

Angola é atualmente um dos países mais caros do mundo. Em 2010 e 2011, a capital, Luanda, estava no topo da lista das cidades do planeta onde o custo de vida é mais elevado, de acordo com um ranking elaborado anualmente pela consultora britânica Mercer.

Para 2013 prevê-se uma nova subida. Os angolanos vão passar a pagar ainda mais por bens como cerveja, água, refrigerantes e produtos agrícolas, entre outros produtos importados. O aumento dos preços será uma consequência da subida das tarifas aduaneiras de 30% para 50% ainda durante este ano, segundo revelou o ministro da Economia de Angola, Abrahão Gourgel, em entrevista à agência financeira Bloomberg. O objetivo deste agravamento não é aumentar as receitas tributárias, mas proteger as fronteiras do país.

Porém, o mais afetado será, desde logo, o bolso dos consumidores, explica o economista angolano Filomeno Vieira Lopes.

Angola Rohstoffe
"Luanda será a cidade mais cara do mundo por muito tempo"Foto: DW/Renate Krieger

"Uma vez que também não há planos para poupar nos outros custos que formam o preço, certamente vai ter um impacto direto no consumidor, o que naturalmente, pelo nível de rendimentos que as populações em Angola têm, vai criar problemas difíceis relativamente ao nível de vida", diz o economista. "Desta vez, não tenhamos dúvidas: vamos ficar à frente de Tóquio. Luanda será a cidade mais cara do mundo por muito tempo."

Segundo o economista, a indústria alimentar angolana deverá ser a mais atingida por esta medida, uma vez que o setor faz sobretudo a importação de alimentos.

Porquê preços tão altos?

Filomeno Vieira Lopes lembra, no entanto, que se Angola tem preços muito altos neste momento, isso não se deve só a questões relacionadas com a fronteira.

"Isso está relacionado com a estrutura de custos, problemas de desorganização, questões de insegurança e com o facto de Angola não ter um mercado financeiro suficientemente desenvolvido, sendo que muitos empresários são forçados a investir eles próprios." Segundo Lopes, os altos preços também estão relacionados com "problemas de corrupção".

Custo de vida em Angola pode aumentar ainda mais

O economista critica o facto de não se estar a atacar verdadeiramente as causas do encarecimento dos produtos. "Está-se a tentar uma via que vai sobrecarregar ainda mais os consumidores."

Importação do protecionismo?

Nos anos 70, foi implementado na América Latina um amplo programa de substituição de importações. Acreditava-se, nessa altura, que o desenvolvimento dos países do terceiro mundo passava necessariamente por medidas como essa. Mas o programa, cujo objetivo era a criação de um setor industrial, fracassou. Para trás ficaram indústrias pouco competitivas.

Serão os atuais planos de Angola uma réplica dessa política de substituição? Em certa medida, responde Filomeno Vieira Lopes. Ou seja, tenta-se também em Angola "substituir importações, mas não pela via mais correta, que é a via da criação de indústrias competitivas a nível nacional. Agora, se as taxas aduaneiras foram alteradas nalguns produtos, isso poderá ter um certo efeito inverso."

Segundo o economista, "há um grande trabalho de organização que tem de ser feito sobretudo no setor produtivo para fazer com que os produtos tenham alguma competitividade."

Hafen von Luanda Angola Afrika
Plano de substituir importações deve incluir aposta em indústria nacional competitiva, diz economistaFoto: AFP/Getty Images

Vieira Lopes defende ainda que é preciso desenvolver duas indústrias em Angola: a indústria agroalimentar e a indústria de construção de materiais.

Outra questão que se põe é até que ponto o elevado protecionismo da indústria nacional poderá eliminar a possibilidade desta concorrer nos mercados internacionais: "Esta indústria vai ter certamente produtos mais caros. E se não existirem manobras a nível da taxa de câmbio, não haverá competitividade externa. A menos que isso possa depois ser compensado na base de variações na taxa de câmbio", diz Filomeno Vieira Lopes.