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Demissões no Reino Unido abalam negociações sobre o Brexit

mjp | Alexandre Schossler | Barbara Wesel | Lusa | Reuters
10 de julho de 2018

Três demissões no espaço de 24 horas. Está lançado o caos no Executivo britânico e nas discussões sobre o Brexit. Saídas expõem divergências entre conservadores e lançam Governo de Theresa May numa crise sem precedentes.

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Boris Johnson e David Davis estão de saída do GovernoFoto: Getty Images/D. Kitwood

Tudo começou na sexta-feira (06.07), quando o Governo conservador de Theresa May anunciou ter chegado a consenso sobre uma proposta de criar uma zona de comércio livre entre o Reino Unido e a União Europeia (UE). Mas a ideia não agradou aos adeptos de um "divórcio" mais radical com o bloco: no domingo (08.07), o ministro para o Brexit, David Davis, demitiu-se do cargo, seguindo-se de imediato o seu adjunto, Steve Baker.

Na segunda-feira (09.07), chegou a terceira carta de demissão, desta feita do ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson. Nem Davis nem Johnson concordam com o que classificam como concessões excessivas à UE, que, dizem, colocam o Reino Unido numa posição de fragilidade. 

As demissões expõem as grandes divergências no seio do Partido Conservador e lançam o já enfraquecido Governo da primeira-ministra britânica numa crise sem precedentes. Ainda assim, Theresa May parece determinada em seguir na mesma linha. No Parlamento, pouco depois das demissões, voltou a defender o seu plano de tentar estabelecer relações económicas estreitas com a União Europeia. 

London Unterhaus berät über Brexit
Theresa May defende proposta "responsável e credível" após demissão de ministrosFoto: picture-alliance/AP/Parliamentary Recording Unit

A política conservadora pediu a Bruxelas que as negociações sobre o Brexitsejam intensificadas este verão e admitiu que a sua proposta para uma futura relação comercial com a UE ainda requer um acerto de posições entre os dois lados. "O que estamos a propor é um desafio para a União Europeia. É necessário que os restantes 27 Estados-membros reflitam novamente e olhem além das posições que tomaram até agora e que possamos alcançar um acordo com um equilíbrio justo entre direitos e obrigações", disse.

Theresa May assegurou que a sua proposta, que pretende divulgar de forma mais detalhada na quinta-feira na forma de um "Livro Branco" sobre o Brexit, permitirá ao Reino Unido "retomar o controlo das respetivas fronteiras, dinheiro e leis". O plano de May prevê a livre circulação de bens, mas não de serviços e trabalhadores.

Empecilho nas negociações com UE

Não está claro se a UE vai concordar com as propostas contidas no plano britânico. As negociações deverão agora continuar com o substituto de David Davis, o secretário de Estado da Habitação Dominic Raab, um forte defensor do Brexit. Já Boris Johnson será substituído na tutela da diplomacia britânica pelo ministro da Saúde, Jeremy Hunt - que tinha apoiado a manutenção do Reino Unido na União Europeia.

Da perspectiva de Bruxelas, fica claro que as amplas divisões internas no Governo May são, de facto, o principal empecilho nas negociações entre a União Europeia e o Reino Unido sobre a relação entre os dois lados depois da saída, marcada para 29 de março de 2019.

Belgien EU Gipfel in Brüssel | Donald Tusk
Donald Tusk critica "confusão causada pelo Brexit"Foto: Reuters/P. Noble

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não poupa críticas ao processo: "Os políticos vêm e vão, mas os problemas que criaram para o povo ficam e a confusão causada pelo Brexit é o maior problema na história das relações entre a UE e o Reino Unido. Está longe de ser resolvido, com ou sem Davis. Infelizmente, a ideia do Brexit não foi embora juntamente com David Davis."

Da perspectiva britânica, não é claro se a primeira-ministra vai enfrentar uma oposição interna cada vez maior nos próximos dias, o que, em última instância, pode significar o fim do seu Governo, ou se terá força suficiente para seguir em frente com A sua proposta de um "soft Brexit", ou uma ruptura suave.

Corbyn pede demissão de May

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, pediu, entretanto, a demissão da primeira-ministra, acusando-a da incapacidade em negociar um acordo para o Brexit. "Temos uma crise no Governo e ainda não sabemos como será a relação futura com os nossos vizinhos e parceiros. Está claro que este Governo não é capaz de garantir um acordo que proteja a economia, os empregos e o nível de vida. É claro que este Governo não pode garantir um bom acordo para o Reino Unido", declarou.

Demissões abalam Reino Unido e negociações sobre o Brexit

Reino Unido e União Europeia tinham indicado outubro como um prazo para chegar a um entendimento para que o acordo possa ser ratificado pelos diferentes parlamentos nacionais dos 27. Sem um acordo de separação, aumentam as possibilidades de uma ruptura total com todos os mecanismos europeus em março de 2019, com consequências imprevisíveis para as duas partes.