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Oposição e imprensa pública de costas voltadas em Cabinda

Simão Lelo
7 de março de 2022

Vários deputados da oposição em Cabinda queixam-se que não são ouvidos pelos órgãos de comunicação social estatais em Angola. Falam em "censura" e temem que a situação possa piorar com o aproximar das eleições gerais.

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Raúl Tati (UNITA): "Estamos a ser boicotados por esses órgãos públicos"
Raúl Tati (UNITA): "Estamos a ser boicotados por esses órgãos públicos"Foto: DW/J. Carlos

O braço de ferro entre alguns deputados da oposição em Cabinda e a imprensa pública dura há mais de um ano. Os deputados dizem que convidam a imprensa pública para os seus eventos, mas os jornalistas desses órgãos nunca aparecem. Queixam-se também que não são chamados a comentar os assuntos que afetam a província angolana.

O deputado independente Lourenço Lumingo diz que só tem uma palavra para descrever o que está a acontecer: censura. "Nós, na qualidade de deputados, temos pouco acesso, ou quase não temos acesso à imprensa local, falo exatamente da TPA e da RNA, em que as nossas entrevistas não passam", denuncia.

Cabinda tem cinco deputados na Assembleia Nacional: dois são do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), dois da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e um da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

Para Raúl Tati, do grupo parlamentar do "galo negro", há um "boicote bem arquitetado" na televisão pública e na Rádio Nacional de Angola (RNA) para desconsiderar o trabalho dos deputados da oposição.

"Estamos a ser boicotados por esses órgãos públicos que deveriam estar ao serviço do interesse público. Infelizmente, esses órgãos foram sequestrados e estão reféns do regime [do MPLA]. Creio que o que está a acontecer não é da vontade dos jornalistas. Mesmo que eles pretendam fazer um trabalho connosco, infelizmente, tais ordens, que não têm rosto, acabam por influenciar", argumenta.

Angola: Luta pela liberdade de imprensa

"Makas" antigas

As acusações de "censura" nos órgãos de comunicação social públicos são antigas. Ainda no tempo do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertou que quase toda a imprensa no país estava sob vigilância apertada.

Com a chegada de João Lourenço à Presidência da República, em 2017, foram notadas algumas melhorias. Mas episódios como o boicote temporário da TPA e da TV Zimbo à cobertura das atividades da UNITA, em setembro passado, despertaram novamente preocupação quanto ao estado da liberdade de imprensa em Angola.

O deputado Lourenço Lumingo diz que tentou em vão chegar a um entendimento com a imprensa pública, para pôr fim ao braço de ferro. "Endereçámos uma carta ao governador da província com o conhecimento do Sindicato dos Jornalistas em Luanda, da sétima comissão da Assembleia Nacional, da qual fazemos parte, e do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado. Nunca recebemos resposta. Portanto, decidimos nunca dar entrevista a esses órgãos públicos, porque estaríamos a perder o nosso tempo", explica.

Acusações "infundadas"

Contactada pela DW, a TPA em Cabinda não aceitou gravar entrevista. Um responsável, que pediu o anonimato, disse apenas que a direção da televisão não vai responder às acusações dos deputados, que considera "infundadas".

A RNA também não aceitou gravar entrevista, por as acusações "não refletirem" a política de gestão da nova direção.

Os deputados da oposição temem, no entanto, que, com o aproximar das eleições gerais de agosto, a situação piore, e haja cada vez mais um tratamento desigual dos candidatos e dos partidos na imprensa pública.