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Desconfiança nas Forças Armadas cabo-verdianas

Nélio dos Santos (Praia)20 de maio de 2016

As Forças Armadas cabo-verdianas enfrentam uma onda de desconfiança interna, após 11 mortes no posto militar de Monte Tchota, na ilha de Santiago. O massacre aconteceu há três semanas.

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Antenas no Centro de Comunicações de Monte TchotaFoto: Lusa
O exército de Cabo Verde enfrenta uma onda de desconforto, após os acontecimentos no posto militar de Monte Tchota, na ilha de Santiago. O massacre que vitimou onze pessoas, oito eram militares e três civis, entre os quais dois espanhóis e um cabo-verdiano, ocorreu há três semanas.

O principal suspeito é o soldado António Silva Ribeiro mais conhecido por Entany Silva que confessou a autoria do crime.

Tudo terá acontecido entre a madrugada e a manhã do dia 25 de abril. O soldado António Silva Ribeiro matou a tiro todos os militares que estavam em serviço no destacamento de Monte Tchota e mais dois técnicos espanhóis e um cabo-verdiano, alegadamente por motivações pessoais.

O massacre foi descoberto somente na terça-feira, dia 26, por volta das 10 da manhã quando se deslocaram ao centro de Monte Tchota técnicos de uma empresa de telecomunicações.

O soldado William Gomes faz parte da primeira equipa que foi destacada para substituir os oito militares mortos. “Inicialmente não queria vir ao Monte Tchota, mas tive que vir. Foi difícil ver os meus companheiros mortos. Aquela imagem não me sai da cabeça. O dia-a-dia é deixar andar… com alguma desconfiança. Agora estamos muito mais atentos”.

William Gomes ainda está abalado com tudo o que aconteceu. “Cheguei e encontrei todos os meus camaradas mortos, basta aproximar da caserna que sinto o cheiro do sangue e logo vem-me aquela imagem horrível”.
Uma visita ao Monte Tchota
Kap Verde Schießerei
Militares cabo-verdianos no Monte Tchota, um dia depois do massacre. (26.04.2016)Foto: Reuters/D. Barros
A visita da DW África ao Monte Tchota começa às 11 horas. Percorremos as instalações de uma ponta a outra, o soldado que nos acompanha diz-nos “ali foi morto um civil. Os outros dois espanhóis foram mortos daquele lado”.

Na outra extremidade o comandante da Terceira Região Militar conferencia com um grupo de jornalistas. O tenente-coronel Carlos Monteiro acredita que o episódio de Monte Tchota não vai manchar a credibilidade das Forças Armadas cabo-verdianas. Porém, reconhece que os militares enfrentam uma "onda de desconfiança".

O sargento do destacamento Hervino Almeida está em Monte Tchota há sete dias. É um dos nove militares que garantem a segurança do mais importante centro de comunicações do país. Almeida disse à DW África que o ambiente no destacamento é de camaradagem, mas também de desconfiança. “Ninguém acredita em ninguém. Claro que há desconfianças”.

Em Monte Tchota, todo o armamento dos militares à excepção dos soldados em serviço, era guardado no quarto do sargento. Agora todos os militares têm a sua arma na mão e atentos para o que der e vier. “Estão sempre acompanhados da respetiva arma. Depois dos acontecimentos do último mês os militares estão sempre excitados, mas os nossos superiores têm nos aconselhado calma e muita atenção”.
Abalo na estrutura militar
Kap Verde Praia General Alberto Fernandes Monte Tchota
O Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, General Alberto Fernandes, demitiu-se após o massacre de Monte Tchota.Foto: Forças Armadas de Cabo Verde
A chacina de Monte Tchota abalou o país e a estrutura militar, até aqui uma das mais credíveis do arquipélago. Em termos de segurança nos quartéis, diz-nos o comandante da Terceira Região Militar, as coisas nunca voltarão a ser iguais. As Forças Armadas reforçaram o sistema de segurança em todas as instalações militares e em todas as infraestruturas que vigiam.

O sistema de segurança foi reforçado, mas há um senão. A maior e mais importante região militar do país está sem rádios de comunicação. Toda a comunicação é feita através de telemóveis.

O Governo mandou abrir um inquérito para saber exatamente o que aconteceu, quais as reais motivações de Entany Silva e eventuais falhas.O Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, General Alberto Fernandes, demitiu-se na sequência dos acontecimentos de Monte Tchota.

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