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Deslocados vivem com medo de ataques no centro de Moçambique

Bernardo Jequete (Manica)
17 de julho de 2020

Os ataques armados alegadamente protagonizados por homens da autoproclamada Junta Militar já provocaram centenas de deslocados na província de Manica, centro de Moçambique. O distrito de Gondola é um dos mais afetados.

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Centro de acolhimento de deslocados em GondolaFoto: DW/B. Jequete

Pouco mais de 200 pessoas, que perfazem 30 famílias, provenientes de Mucorodzi, Madziachena e Pinanganga, os povoados mais afetados pelos ataques armados no distrito de Gondola, refugiaram-se em zonas tidas como seguras na sede distrital.

As famílias fugiram das suas regiões e deixaram todos os seus haveres, incluindo casa, produção agrícola, animais domésticos, roupa. Agora, tentam recomeçar a partir do nada.

Os deslocados dizem ter deixado tudo o que tinham para trás por causa dos ataques incessantes, que dizem ser um entrave ao desenvolvimento da região. Por isso, pedem a intervenção do governo no sentido de por cobro à violência o mais rapidamente possível.

Acolhidos nos bairros Mazicuera e Josina Machel, nos municípios de Gondola e Cuzuana, no posto administrativo de Cafumpe, os refugiados lamentam as difíceis condições de vida.

Condições de vida difíceis

Simon Mateus, um dos deslocados que vive em Gondola, contou à DW África que os homens armados semeiam o terror na sua região e roubam os pertences às populações, para além de incendiarem viaturas e casas. 

"Nós viemos para aqui por causa dos bandidos que assaltaram a nossa zona. Queimaram carros e nós fugimos e dormimos no mato. Quando amanheceu viemos para cá. Aqui há falta de comida, panelas, mantas, tendas, óleoeda cozinha", relata.

Mosambik Flüchtlingszentrum in Gondola
Uma das cabanas onde vivem alguns deslocados em GondolaFoto: DW/B. Jequete

Ana Francisco, outra deslocada, disse que os homens armados também agridem os populares. "Chegaram quatro homens abriram a porta e começaram a bater ás pessoas e de seguida amarraram-nas e apoderaram-se de valores monetários e puseram-se em fuga", recorda.

Rachid Simões, autoridade comunitária do bairro Cuzuana, disse que as condições dos reassentados estão a melhorar, pois quando chegaram não tinham nem sequer tendas."A nossa luta é de termos uma paz definitiva. O  governo devia procurar uma forma de conversar com eles", diz.

Administradora de Gondola condena ataques

Etelvina Ambasse, administradora de Gondola, condena os alegados ataques da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, liderada por Mariano Nhongo. "Nós repudiamos essas ações, visto que o DDR está numa época muito avançada. Não sei porque continuam a perpetuar esses ataques à nossa população, visto que o Presidente da República, Filipe Nyusi, tem envidado esforços para manter a paz efetiva no país, em particular no distrito de Gondola", afirma.

Augusto Alexandre, delegado do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), em Manica, disse que a instituição tem preparado uma quantidade de produtos alimentares não especificados para apoiar os deslocados em Gondola.

O delegado do INGC disse ainda que a instituição que dirige providenciou há dias um kit composto por diversos produtos alimentares. "Há uma mistura de bens com destaque para mantas, baldes e alguns produtos de higienização. Na componente de ração alimentar, temos arroz, farinha, feijão e sardinha", especificou.