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Liberdade de imprensaGuiné-Bissau

Diáspora guineense vai ajudar Rádio Capital após ataque

24 de agosto de 2020

Até agora cerca de 15 mil euros já foram mobilizados para apoiar a recuperação da estação vandalizada em julho, por homens armados, em Bissau. Prejuízos causados pela destruição dos equipamentos rondam os 38 mil euros.

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Mariano Quade, membro da diáspora guineense: "Estaremos em condições de financiar o funcionamento da rádio em breve"Foto: DW/J. Carlos

A comunidade guineense espalhada pelo mundo mobilizou apoios em mais de 12 mil euros, destinados a recuperar a Rádio Capital FM, silenciada depois do recente assalto desencadeado por homens armados não identificados.

A campanha de recolha de fundos, que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa, contou com uma "significativa adesão" dos guineenses na diáspora, os quais "ficaram muito sensibilizados" com a causa, depois dos acontecimentos de 26 de julho passado.

"Nós procuramos reparar aquilo que foi estragado e devastado para apoiar a Rádio Capital a adquirir os materiais destruídos e a voltar a funcionar e a dar voz àqueles que têm ideias diferentes, que é o que se quer numa democracia e é o que deve ser salvaguardado. Estaremos em condições de financiar então o funcionamento da rádio em breve", disse Mariano Quade, um dos contribuintes, em entrevista à DW África. 

Golpe à democracia

O assalto à estação - reforça - "foi um golpe à democracia". "Nós sabemos que comunicação social é fundamental para denunciar as irregularidades e para uma vigilância atenta àquilo que são os atropelos das regras democráticas. E quando há um ataque nesse sentido para silenciar a comunicação social nós percebemos logo que muita coisa vai mal".

Guinea Bissau Zerstörung Rádio Capital FM
Rádio capital foi vandalizada durante a madurgada do dia 26 de julhoFoto: DW/D. Iancuba

Mariano Quade critica o atual Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, pelo "ataque feroz à liberdade de informação". O ato de vandalismo à Rádio Capital, refere, é um exemplo disso, por ser uma emissora que dá voz aos descontentes. 

"E, portanto, tinha que ser atacada. Isto foi da responsabilidade desta governação. Há provas claras. Se a comunidade internacional pretender reagir tem provas claras daquilo que ataque à liberdade de informação, ao direito à informação e ataque aos jornalistas. Os profissionais da comunicação sentem-se oprimidos neste momento", afirma.  

Os danos causados pela destruição da rádio foram profundos. "O objetivo era destruir a estação para ela não voltar a funcionar nunca mais", considera Mariano Quade.  

Prejuízo

Os custos são variáveis, incluindo os prejuízos económicos. Só em equipamentos danificados - um investimento de cinco anos - rondam os 38 mil euros, segundo confirma Lassana Cassamá. O diretor e fundador da estação garante, em declarações à DW África, que a linha editorial não vai mudar.  

Guinea-Bissau  Lassana Cassama Radio Capital FM
Lassana Cassamá, diretor da Rádio Capital FM

"Na minha perspetiva acho que a diáspora fez um trabalho extraordinário. Nós estamos perante uma encruzilhada de responsabilização da nossa parte que é para não falharmos. A nossa linha editorial vai continuar dando voz ao povo".

"Há muito tempo que estivemos a alertar a sociedade e as autoridades guineenses que estamos a ser perseguidos”, lembra Cassamá. "Nós denunciamos isso à Polícia Judiciária e até hoje ninguém se dignou a responsabilizar os autores", lamenta, referindo que a Guiné-Bissau vive um Estado de terror. 

Resposta da diáspora

A resposta imediata da diáspora na angariação do fundo era de se esperar, na opinião de Armando Conté, um dos ouvintes e participantes assíduos da Rádio Capital.  

"Porque há já alguns anos que a comunidade guineense, sobretudo na diáspora, achou haver uma falta de informação e tendo a Capital FM como o veículo de trazer a nós, a luz, as informações verídicas, concisas, imparciais, então isso tocou toda a diáspora para poder angariar fundos num tempo recorde".  

Guinea Bissau Zerstörung Rádio Capital FM
Foto: DW/D. Iancuba

O jornalista guineense a residir em Londres diz que a rádio tornou-se num veículo de comunicação entre a diáspora e o país, através dos seus programas ouvidos em várias partes do mundo, em busca da verdade. "É isto que provocou uma colisão entre a rádio e o atual poder na Guiné-Bissau". Neste sentido, Armando Conté lança um desafio ao procurador-geral da República:  

"Que encontre o mais rapidamente possível aqueles que violaram o direito dos guineenses na diáspora a terem acesso às informações da Guiné-Bissau, através deste ato de vandalismo voluntário na Rádio Capital FM".  

Para os promotores da campanha, esta mobilização dos guineenses na diáspora "é uma mensagem clara de que as vozes da democracia não se irão calar".

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