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Doação de Angola para Fundo contra a fome divide opiniões

Adolfo Guerra (Menongue)
5 de junho de 2022

Angola prometeu doar 10 milhões de dólares para o Fundo de Combate à Fome em África. Há quem questione se, antes de prometer dinheiro para o exterior, o país deveria concentrar-se em resolver os problemas internos.

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Foto de arquivo (2021): Seca na província do NamibeFoto: Adilson Abel/DW

O Presidente João Lourenço prometeu na semana passada que Angola vai contribuir com 10 milhões de dólares para o Fundo Humanitário da União Africana (UA), para combater a fome e pobreza no continente.

"Angola anuncia que vai contribuir com 10 milhões de dólares americanos", disse o chefe de Estado angolano em Malabo, na Guiné Equatorial, durante a Cimeira da UA sobre Questões Humanitárias e a Conferência de Doadores. É uma das maiores contribuições africanas para o Fundo Humanitário, em conjunto com a África do Sul.

No entanto, há quem questione se Angola tem condições para disponibilizar tanto dinheiro em plena crise alimentar no sul do país. Centenas de milhares de pessoas precisam de ajuda urgente, e o Governo não decreta o estado de emergência, a arrepio dos apelos da oposição e sociedade civil.

Adelino José, secretário provincial da FNLA no Cuando Cubango, lembra que há pessoas que, para sobreviver, comem os restos que encontram em contentores do lixo: "Nós aqui passamos por situações extremas de pobreza e fome, que ceifaram vidas humanas. Este dinheiro não deveria ser entregue, porque nós próprios estamos a passar mal", critica.

"O Governo dizia que não tinha dinheiro para os vários projetos sociais e para sustentar o povo angolano. Agora, onde teve possibilidade para tirar estes 10 milhões de dólares americanos para disponibilizar ao Fundo Humanitário?", questiona Adelino José.

Dinheiro pode chegar para todos

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Alberto Viagem, diretor-geral da Associação Juventude Unida para o Desenvolvimento Sadio Sociocultural (AJUDSS) acredita, no entanto, que, bem distribuído, o dinheiro pode dar para todos. Além de que os 10 milhões podem contribuir para a boa imagem de Angola no estrangeiro.

O ativista afirma também que o Fundo Humanitário da União Africana é meio-caminho para a independência de África em relação a outros continentes. Ajudará a resolver os problemas africanos com soluções africanas.

"Sabemos que a União africana atua com base em diversos mecanismos, todos eles em prol dos interesses de África", sublinha.

Com a guerra na Ucrânia, os preços dos principais produtos básicos aumentaram. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch avisou no fim de semana que milhões de pessoas estão em risco de fome no continente, onde muitos países já lutavam contra os efeitos nefastos da pandemia da Covid-19 e das alterações climáticas.

"UA deve gerir bem"

Bernardo Kativa, agente social e professor de carreira, concorda com a contribuição de 10 milhões de dólares para a União Africana. Mas avisa que é preciso ter cuidado para que o dinheiro não se perca no caminho.

"Em princípio, o projeto é bem-vindo, esperamos que se faça sentir em todos os países africanos. Este valor, a União Africana deve também gerir bem, para evitar que haja desvios", alerta.

Na semana passada, durante a reunião de 20 chefes de Estado e de Governo em Malabo, o Presidente do país disse que "África deve assumir a liderança do seu próprio desenvolvimento".

De acordo com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), só na Somália, Etiópia e Quénia, cerca de 14 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar devido à pior seca em 40 anos.

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