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Donald Trump pouco interessado em África

Carsten von Nahmen | ms
28 de junho de 2017

Nos primeiros seis meses de mandato, o Presidente norte-americano, Donald Trump, falou muito pouco sobre o continente africano. Os Estados Unidos arriscam-se a perder influência na região, alertam vozes críticas.

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Foto: Getty Images/AFP/M. Ngan

Poucas semanas depois de ter tomado posse como Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump telefonou a dois chefes de Estados africanos: Muhammadu Buhari, da Nigéria, e Jacob Zuma, da África do Sul. E garantiu-lhes que estava disposto a fortalecer as relações bilaterais. 

Em março, Trump também ligou ao Presidente queniano, Uhuru Kenyatta. Mas, desde então, nada mudou na política norte-americana para África.

O continente parece estar fora da agenda em Washington. A Casa Branca está mais preocupada com escândalos domésticos, com temas como a imigração e o terrorismo e países como o Irão e a Coreia do Norte.

Donald Trump pouco interessado em África

Seis meses depois da entrada em funções da nova administração, ainda não foi nomeado um secretário de Estado para África, critica Bronwyn Bruton, vice-diretora do Centro Africano do "Atlantic Council", um centro de pesquisa independente em Washington.

"A política para África não é desenvolvida a nível superior, mas sim por secretários-assistentes. E se não há um secretário para África ativo, basicamente não existe nenhuma política para África", sublinha a investigadora. Por causa deste desinteresse, alerta, os Estados Unidos arriscam-se a perder influência na região.

Boa notícia para ditadores africanos

A política externa de Donald Trump, em geral, não coloca muita ênfase na construção de alianças estratégicas a pensar na melhoria a longo prazo das condições económicas e na boa governação. São mais favorecidos os lucros a curto prazo através de acordos bilaterais.

Para Bronwyn Bruton, esta pode ser uma boa notícia para ditadores em África e uma má notícia para ativistas de direitos humanos. "Há uma série de regimes que foram marginalizados pelo Governo de Barack Obama, como o Zimbabué, o Sudão e a Eritreia, que estão contentes e cheios de expetativas porque há um Presidente que não se importa muito com os direitos humanos", lembra a vice-diretora do Centro Africano do "Atlantic Council".

Barack Obama no Fórum Económico EUA-África que decorreu em Nova Iorque, em 2016
Barack Obama no Fórum Económico EUA-África que decorreu em Nova Iorque, em 2016Foto: Reuters/K. Lamarque

Negligenciar as alianças e a cooperação regional também pode criar um vácuo político e económico em África, avisaram já vários observadores. Um espaço que países como a China, a Índia ou o Brasil estão ansiosos por preencher.

O advogado nigeriano Ayodele Kusamotu, que participou recentemente na Cimeira Económica EUA-África em Washington, não tem dúvidas: "Há uma grande competição por recursos provenientes de África. E a China está muito à frente e está a fazer muito mais para África e em África".

Potenciais parcerias de negócios

O que não faltam são oportunidades de investimento em África. "Há imensas oportunidades de negócio em muitos mercados africanos para empresas americanas nas área da tecnologia, produtos e serviços, lembra Brian Neubert, diretor do centro de media regional do Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-americano em Joanesburgo, na África do Sul. "E é claro que muitos países africanos podem desenvolver produtos para o mercado norte-americano", acrescenta. Nos PALOP, destacam-se investimentos de empresas norte-americanas da área petrolífera em Angola (Chevron) e na exploração de gás em Moçambique (Anadarko, ExxonMobil). 

No entanto, a única área em que é quase certo que os EUA se envolvam mais é a militar, sobretudo na luta contra grupos terroristas - uma das promessas centrais de Donald Trump durante a campanha eleitoral do ano passado.

Já no tempo de Barack Obama, os Estados Unidos aumentaram as suas bases militares em todo o continente para realizar ataques aéreos.