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Dívida e Lobito: JLo leva "batatas quentes" para Pequim

Nádia Issufo
15 de março de 2024

Presidente de Angola, João Lourenço, iniciou hoje uma visita oficial a Pequim com temas "espinhosos" na agenda: a renegociação da maior dívida de Angola e a conciliação de interesses entre China e EUA no país africano.

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O Presidente angolano, João Lourenço, e seu homólogo chinês,  Xi Jinping (foto de arquivo)
O Presidente angolano, João Lourenço, e seu homólogo chinês, Xi Jinping (foto de arquivo)Foto: Kyodo/dpa/picture alliance

A convite do seu homólogo chinês, Xi Jinping, João Lourenço iniciou esta sexta-feira (15.03) uma visita à China. Na mala, o Presidente angolano leva dossiers espinhosos, a destacar a dívida a Pequim, maior credor de Angola, e a sua crescente aproximação comercial aos EUA, uma viragem de Luanda incompatível com os interesses chineses em Angola.

No centro da discórdia estará o Corredor do Lobito, que poderá ser usado para chantagear Luanda. Mas a necessidade de diversificar fontes de crédito em nome de uma maior independência de Angola poderá ser o "discurso-bálsamo" que João Lourenço vai passar a  XI Jinping. 

Em declarações à DW, o académico angolano Paulo Inglês diz que uma das coisas que JLo vai fazer é tentar conciliar, "porque abriu-se muito para os EUA, o Corredor do Lobito [tem intereses norte-americanos], os EUA já estão no norte de Angola, na zona do Soyo, onde vão abrir uma base", disse.

Académico angolano Paulo Inglês
Académico angolano Paulo Inglês Foto: DW/N. Issufo

Dívida externa

"Por outro lado, a maior dívida externa que Angola tem é com a China. Então, como gerir isso? Ao mesmo tempo, estar ao lado dos EUA e, por outro lado, ter uma dívida com a China que condiciona isso. Eu acho que João Lourenço foi [à China] negociar]", explica o académico.

De facto, João Lourenço deixou entender já ter conseguido renegociar os termos da dívida, porém não se sabe o que terá oferecido em troca. Mas nem tudo são glórias, pois no campo geoestratégico, Angola meteu-se numa "saia justa" no que se refere aos interesses chineses em África a partir de Angola.

É que Luanda entregou o Corredor do Lobito a um consórcio com interesses norte-americanos, apesar do concurso para a sua gestão ter sido vencido pela China. O que pode custar a Angola ter privilegiado os EUA?

"O problema tem a ver com a gestão da dívida, eu acho que a China vai fazer chantagem, vai dizer se vocês estiverem do nosso lado, vamos renegociar a dívida, se não a gente vai apertar ainda mais. A nossa dívida, o serviço do orçamento para a dívida externa já está quase a 70%", disse.

Angola deve mais de 17 mil milhões de dólares à China e a maior hidroelétrica do país africano está a ser construída por chineses
Angola deve mais de 17 mil milhões de dólares à ChinaFoto: Yan Yan/Photoshot picture alliance

"Nas mãos da China"

Angola está nas mãos da China, pois lhe deve mais de 17 mil milhões de dólares, além de que a maior hidroelétrica de Angola está a ser construída por chineses. É por isso que o economista angolano Nataniel Fernandes defende que as relações entre Luanda e Pequim têm de estar normalizadas e reguladas.

"Ainda assim foi importante para Angola tentar diversificar as fontes de crédito, não podíamos estar completamente dependentes de um único credor - a diversificação de fontes de crédito foi uma importante jogada para Angola", afirma o analista.

E poderá ser com este discurso "calmante" que João Lourenço vai tentar conquistar Pequim, que Angola se quer posicionar melhor no teatro das nações e na geopolítica e manter relações mais sólidas com a maioria dos atores externos, diz Fernandes.

Mesmo assim Luanda não escaparia à conta, pois isso "pode custar à Angola uma instransigência da China na gestão da nossa dívida", explica.

"Estamos a lutar para pagar e tem sido penoso para Angola e para os angolanos. Temos pago somas altíssimas, não só em juros mas em serviços da dívida e isso tem retirado um pedaço grande do nosso orçamento anual", acrescenta o analista.

E não restará a Angola outra saída se não oferecer contrapartidas para "acalmar" a China, como por exemplo mais oportunidades de negócios em Angola, antevê Paulo Inglês. Mas a que preço?

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