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Dívidas ocultas: Réus admitem ter recebido 191 mil euros

Lusa | af
24 de setembro de 2021

Os dois arguidos admitiram terem recebido quantias da Privinvest e da M.Moçambique Construções, do réu Fabião Mabunda. Esta última empresa terá sido usada como veículo do dinheiro das "dívidas ocultas" pela família Leão.

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Mosambik | Korruptionsskandal | Bruno Langa
Foto: Romeu da Silva/DW

Ao vigésimo dia do julgamento do caso do maior escândalo financeiro em Moçambique, o empresário Cremildo Manjate, proprietário de uma empresa que monta caixilharias de alumínio, disse em tribunal que recebeu, em maio de 2014, um depósito no valor de 125 mil dólares (106 mil euros) da empresa M.Moçambique Construções, de Fabião Mabunda, co-réu nos presentes autos. A empresa é acusada pelo Ministério Público moçambicano de ter sido usada como veículo do dinheiro das "dívidas ocultas" pela família Leão.

A empresa de construção civil pagou o dinheiro por ordens de Ângela Leão, arguida e mulher de Gregório Leão, antigo diretor do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), para quem o arguido fez vários trabalhos de montagem de caixilharias.

Questionado pelo Ministério Público sobre a razão de o pagamento ter sido feito para a conta do seu irmão, Cremildo Jossias Manjate, o arguido respondeu que a sua conta no banco indicado por Ângela Leão se encontrava inativa.

A resposta não convenceu o Ministério Público que o confrontou com extratos bancários que mostram que a conta só deixou de ser usada em 2015, após o pagamento dos 106 mil euros.

Dinheiro da Privinvest

Esta sexta-feira (24.09), a sexta sessão do tribunal judicial da Cidade de Maputo começou por ouvir o arguido Zulficar Aly Ismael Ahmad, 49 anos, comerciante, que admitiu que entraram na sua conta bancária 100 mil dólares (85 mil euros) pagos pela Privinvest, empresa acusada de pagar subornos alimentados pelas chamadas "dívidas ocultas".

Mosambik | Ângela Leão im Gericht
Ângela Leão - esposa do ex-diretor do SISEFoto: Romeu da Silva/DW

Ahmad informou ao tribunal que o dinheiro foi depositado na sua conta a pedido de um amigo brasileiro e também com nacionalidade libanesa que morreu, em 2015.

"Facultei-lhe a conta, passada uma semana ou duas, longe de imaginar que fossem 100 mil dólares, fui levantar o dinheiro e devolvi", disse Ahmad.

O arguido assumiu que pela cedência da conta ao amigo brasileiro recebeu dois mil dólares (1.700 euros).

Zulficar Ahmad adiantou ainda que uma parte do dinheiro foi levantada e entregue ao amigo brasileiro por dois sócios seus numa sociedade de prestação de serviços.

Confrontado pelo Ministério Público sobre o facto de um dos sócios ter dito ao tribunal que ficou com 15 mil dólares (12 mil euros) de compensação pelos levantamentos bancários que efetuou, Ahmad remeteu que esta pergunta devia ser feita ao sócio.

O arguido negou que a sua conta em dólares tenha sido aberta apenas para receber o depósito da Privinvest, uma vez que é o único valor creditado na mesma.

Julgamento prossegue

O julgamento do processo principal das "dívidas ocultas" prossegue na próxima semana, com a audição dos dois últimos arguidos: o antigo diretor do SISE Gregório Leão e o antigo diretor da Inteligência Económica da instituição e arguido António Carlos do Rosário.

Após o interrogatório dos dois antigos dirigentes do SISE, segue-se a audição dos declarantes.

A Justiça moçambicana acusa os 19 arguidos de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela Procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.

As "dívidas ocultas" foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.

Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.

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