1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Dívidas ocultas: Réu nega ser dono de hotéis em Boane

15 de outubro de 2021

Ex-diretor da secreta negou em tribunal ser titular de dois hotéis construídos com subornos das dívidas ocultas. António Carlos do Rosário disse que os empreendimentos pertencem à Txopela, do grupo Privinvest.

https://p.dw.com/p/41kY7
António Carlos do Rosário refuta provas apresentadas pela acusação em tribunalFoto: Romeu da Silva/DW

O réu António Carlos do Rosário disse esta sexta-feira (15.10), durante o julgamento das dívidas ocultas, na capital moçambicana, que os hotéis dos quais é acusado ser dono em Boane, província de Maputo, e também na província de Tete pertencem à Txopela, empresa ligada à Privinvest - o grupo empresarial ligado a pagamentos de subornos.

O Ministério Público confrontou o antigo diretor da Inteligência Económica dos Serviços de Informações e Segurança do Estado (SISE) com declarações do dono da empresa que construiu os dois hotéis, a Wallid Construções, um cidadão argelino, seu amigo.

O hotel em Boane é multifuncional com lojas e centro de conferências num valor inicial de pouco mais de 1,5 milhões de dólares pagos pelo grupo Privinvest, cujas provas foram apresentadas pelos procuradores.

"Esta foi a informação que o senhor Momed Fequi facultou. E disse mais, para o pagamento das referidas obras, foi por instruções do senhor António Carlos do Rosário à Wallid Construções, que recebeu da Logistic International duas transferências no valor de 1.850.000 e 1.175.000 dólares", apontou o Ministério Público.

Mosambik Antonio Carlos do Rosário vor Gericht
Foto: Romeu da Silva/DW

Réu alega confusão por parte da acusação 

Mas o réu António Carlos do Rosário negou as alegações, tudo com fundamento de que houve confusão entre a carta dos advogados de Fequi Momed e do próprio Momed. "Quando fala do nosso cliente fica claro que não é Fequi que está a falar, mas sim os advogados dele. O que a digníssima leu é a carta dos advogados", disse.

E o Ministério Público confirmou: "Sim, é a carta dos advogados, por isso que disse informações, não disse declarações. Em representação do senhor Fequi".

No entanto, o réu António Carlos do Rosário respondeu que, com estas declarações, está-se à procura de contradições. "Meritíssimo ajudou-me com uma prova daquilo que sempre disse, que não trato de assuntos. Irei aos meus e-mails em que o advogado que trabalhava comigo e na altura tratava desses assuntos - e que era da Txopela - está a interagir com Fequi. Está a mostrar o Fequi que esse assunto é Fequi. Não é Rosário", reagiu.

E-mails como prova

Por seu turno, o juiz Efigénio Baptista explicou ao réu que o seu amigo Fequir Momed trocou e-mails que provam que António Carlos do Rosário era proprietário do hotel que foi comprado com dinheiro da Privinvest.

Veja imagens da audição de Ndambi Guebuza

"Nos autos, ele diz que o hotel é seu, porque o senhor é que foi ter com ele para construir, não diz que é Jean Boustani. Diz que o senhor António Carlos dos Rosário é que foi ter com ele para ele construir, ao contrário do que está a dizer agora. E depois, disse mais, que o senhor pagou a ele para construir aquele hotel e pagou através de transferências de dinheiro vindo da Privinvest para a conta dele", apontou o juiz da causa.

Mas o réu respondeu que tudo isso é um festival de "martelanço", referindo-se à falsidade dos e-mails.

"Eu começo a perceber, e como disse ontem, eu já não falava com ele mesmo estando fora, durante muito tempo, porque ele pensa que o hotel era meu. E eu deixei claro que o hotel não era meu. Se você não está a receber dinheiro como diz que não está, que quer mais por isto e por aquilo, já não se entende com os donos do hotel. Eu não tenho como interferir", disse.

Acusação

O antigo diretor da Inteligência Económica do SISE e que era também diretor das três empresas beneficiárias do dinheiro das dívidas ocultas é acusado de ter recebido subornos no valor de 8,9 milhões de dólares pelo seu papel no projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva e criação das companhias.

A justiça considera que as empresas e o projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva foram usadas como ardil para a mobilização dos referidos empréstimos.

A justiça moçambicana acusa os 19 arguidos do processo principal das dívidas ocultas de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela Procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo entre 2013 e 2014.

António Carlos do Rosário volta na próxima segunda-feira (18.10) para continuar a ser interrogado pelo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo pelo seu papel no caso das dívidas ocultas.  

Saltar a secção Mais sobre este tema