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Eleitores deixam de votar por medo de violências na Nigéria

29 de abril de 2011

Vinte mil soldados e policiais extra foram convocados para escrutínios governamentais nos Estados de Kaduna e Bauchi (norte). Participação teria sido baixa por temores de violências, diz organização católica Caritas

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Soldados armados e policiais foram convocados para garantir a segurança durante as eleições governamentais
Soldados armados e policiais foram convocados para garantir a segurança durante as eleições governamentaisFoto: DW/Gänsler

As medidas de segurança nos Estados de Kaduna e de Bauchi, no norte da Nigéria, foram reforçadas para impedir que as violências ocorridas após a eleição presidencial (16/4) se repetissem durante o escrutínio que escolheu os governadores das duas regiões nesta quinta-feira (28/4).

Na última semana, protestos contestando o resultado da eleição presidencial, que deu o cargo mais alto do país ao Presidente cessante Goodluck Jonathan, acabaram por matar mais de 500 pessoas, segundo uma organização nigeriana de defesa dos direitos humanos. 74 mil pessoas teriam sido deslocadas em todo o país. Jovens protestaram em cidades do norte da Nigéria, queimando igrejas, mesquitas e residências na pior onda de violências na Nigéria em anos.

Jovens nigerianos protestam perto da barricada em Kaduna, no norte do país
Jovens nigerianos protestam perto da barricada em Kaduna, no norte do paísFoto: picture-alliance/dpa

De acordo com a agência noticiosa católica alemã, KNA, 20 mil soldados e policiais a mais foram convocados para observar o desenrolar das eleições governamentais em Kaduna e Bauchi, cujos escrutínios foram adiados em dois dias por causa da tensão pós-eleitoral.

Nesta quinta-feira (28/4), até o final da tarde, não se registraram incidentes durante as eleições de governadores em Kaduna e Bauchi. Segundo a organização católica Caritas, a participação teria sido baixa, porque muitas pessoas teriam tido medo de ir aos locais de votação – tanto por causa da presença massiva de militares quanto por temores de mais violências. Além disso, cita a KNA, quem não se registrou nas zonas eleitorais onde mora teve ainda mais dificuldades de chegar aos locais de votação.

Acalmar os ânimos

A maioria dos 36 Estados nigerianos escolheu governadores, senadores e parlamentos regionais na terça-feira (26/4). As eleições para governador são a última etapa de um processo eleitoral visto por observadores como um dos mais justos em décadas na Nigéria, apesar das piores violências registradas em anos.

O partido People’s Democratic Party (PDP), no poder, conseguiu manter 16 governos regionais, mas perdeu quatro deles na terça-feira – Ogun e Oyo (sudoeste), Nasarawa (centro) e Zamfara (norte). No norte do país, porém, o PDP tirou da oposição as rédeas do Estado de Kano, o mais populoso da região. Em Sokoto, também no norte, o PDP ganhou a maior parte dos assentos na assembléia regional.

A comissão eleitoral optou pelo adiamento das votações em Kaduna e Bauchi, atualmente controlados pelo PDP, para que os "ânimos se acalmassem" nas duas regiões do norte nigeriano.

Eleição de Jonathan poderia reabrir fissuras políticas

Durante as eleições presidenciais, a maior parte dos eleitores do norte preferiu o candidato Muhammadu Buhari, que vem da região de confissão majoritariamente muçulmana. Buhari liderou uma junta militar que governou a Nigéria nos anos 1980. Goodluck Jonathan, o Presidente eleito, é originário do sul cristão.

Attahiru Jega, diretor da Comissão Eleitoral Nacional Independente, optou por adiar escrutínios em Kaduna e Bauchi
Attahiru Jega, diretor da Comissão Eleitoral Nacional Independente, optou por adiar escrutínios em Kaduna e BauchiFoto: AP

A eleição de Jonathan causou polêmica, porque ele chegou ao poder no ano passado após a morte de Umaru Yar’Adua, que representava o norte muçulmano. Existe uma lei não-escrita na Nigéria, prevendo a alternância no poder e essa alternância não se verificou com a eleição de Jonathan no passado dia 16/4. A oposição também acusou o campo de Jonathan de ter manipulado os resultados.

De acordo com analistas citados pela Reuters, a vitória de Jonathan também deu mais poder ao sul cristão – o que poderia reabrir fissuras políticas no maior fornecedor de energia da África.

"A vitória de Jonathan trouxe de volta, com vingança, todo o abismo religioso e de seitas, sem falar nas amarguras étnicas", escreveu Olakunle Abimbola, do jornal The Nation. Muitos também viram nos protestos pós-eleitorais no norte da Nigéria uma reação ao fato de a região, empobrecida, ter sido "descartada" do poder.

Ainda na terça-feira (26/4), dia das eleições governamentais em 24 Estados nigerianos, várias bombas explodiram na cidade de Maiduguri, no nordeste da Nigéria. Pelo menos três pessoas morreram diante de um local de votação.

"Futuro da Nigéria depende de desenvolvimento do norte"

Para o ativista de direitos humanos Emmanuel Onwubiko, o futuro da Nigéria vai depender do desenvolvimento do norte do país. "A situação da segurança no norte é muito crítica, porque sempre voltam a acontecer assassinatos em plena rua", comenta Onwubiko. "Mas, se for possível condenar os criminosos, o governo poderá devolver a sensação de segurança à população", afirma.

A segurança, porém, é apenas um aspecto do desenvolvimento do país mais populoso do continente africano. A situação no Delta do Níger (sul) também será significativa, segundo observadores como Emmanuel Onwubiko. A população não beneficia dos lucros do petróleo que é produzido naquela região, conhecida como uma das mais pobres da Nigéria.

Por outro lado, Onwubiko diz ter um pouco de esperança – porque, pela primeira vez, os nigerianos teriam escolhido bons dirigentes. "A Nigéria tem um futuro brilhante pela frente", assim o espera Onwubiko. "Os políticos nigerianos vão concretizar aquilo que prometeram. Assim, vão melhorar as condições de vida de toda a população".

Autora: Renate Krieger (com Katrin Gänsler e agências KNA/rtr/afp)

Revisão: Marta Barroso

Vítimas de violências pós-eleitorais esperam atendimento em Kaduna
Vítimas de violências pós-eleitorais esperam atendimento em KadunaFoto: AP