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Em Angola, violência contra mulheres é parte do cotidiano

15 de janeiro de 2013

Especialistas dizem que tendência é banalizar o tema numa sociedade com vários problemas. Violência, violações e torturas são voltadas especialmente contra "zungueiras" (vendedoras ambulantes).

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Mulheres que sofreram violência sexual
Mulheres que sofreram violência sexualFoto: picture-alliance / dpa

Elas atravessam as  cidades de lés a lés a lés, a pé, e muitas vezes carregando os seus bébés às costas. E assim asseguram o sustento das suas famílias. E muito frequentemente se tornam vítimas de violência, nas ruas de Launda e outras capitais de província: são as zungueiras, ou vendedoras ambulantes.

"Um dos principais problemas é a violência que sofrem por parte dos agentes do Estado: seja das administrações municipais, do governo provincial de Luanda e também da Comissão Nacional", afirma Sizaltina Cutaia da organização cívica Open Society Angola.

Segundo Cutaia, as mulheres sofrem todo tipo de violência: física, sexual, moral ou psicológica. "Ainda têm de estar preocupadas com os fiscais que levam as suas mercadorias e depois submetem-nas a todo tipo de apetências sexuais – seja por parte dos fiscais ou dos polícias", explica.

Polícia pune divulgação de casos

Agressões contra zungueiras foram também registadas por Coque Mukuta, jornalista angolano, que tem vindo também a investigar casos de agressões e assédio sexual contra as ambulantes. O próprio Mukuta foi recentemente detido pela polícia, por registar esse tipo de situações.

"Eu assisti, há duas semanas, na Vila de Viana [cidade próxima à capital, Luanda], a polícias fardados – e fiscais, também identificados – a baterem numa senhora com um cabo elétrico. As pessoas veem, não é segredo nenhum", constata o jornalista.

"Outra cena que se registou no último sábado (12.01), no [bairro de] São Paulo [em Luanda], foi que quatro polícias e três fiscais algemaram, com uma certa brutalidade, uma cidadã – que por sinal estava grávida", relata o jornalista.

De acordo com Coque Mukuta, o assédio sexual acontece diariamente. Muitas vezes os polícias aproveitam-se das nebulosas leis vigentes para exercer pressão sobre as mulheres. É que, fora dos mercados – onde as mulheres teriam que pagar uma taxa – as zungueiras oficialmente não são autorizadas a vender, arriscando-se a pagar multas que podem ascender a três mil kwanzas (cerca de 30 dólares), soma que as mulheres normalmente não estão em condições de pagar.

E é aí que começa o assédio: "Eles [fiscais e polícias] fazem chantagem", diz Coque Mukuta. "Eles pedem 'namoro'. Se não aceitares o assédio deles, não te devolvem as coisas", explica.

"Zungueiras" (vendedoras ambulantes) são frequentes vítimas da violência contra mulheres em Angola
"Zungueiras" (vendedoras ambulantes) são frequentes vítimas da violência contra mulheres em AngolaFoto: DW/R. Krieger

Debate no início e tendência à banalização

O debate sobre esta problemática no seio da sociedade Angola está ainda no início. A sociedade angolana convive com muitos problemas e a tendência é para a banalização, diz Sizaltina Cutaia da Open Society: "A maneira como o Estado e também a imprensa pública apresentam a questão é como se elas [zungueiras] fossem arruaceiras, como se fossem desobedientes, mas não há debate a sério sobre esta matéria".

Não só a Open Society, também a Human Rights Watch chama a atenção para o problema. Em conversa com a DW África, a HRW disse que a problemática está a ser objeto de investigação por parte desta organização de defesa dos direitos humanos.

Autor: António Cascais
Edição: Renate Krieger/António Rocha

Em Angola, violência contra mulheres é parte do cotidiano