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Em Berlim, presidente egípcio promete "Estado de direito"

30 de janeiro de 2013

Morsi garante avançar com reformas democráticas e quer ampliar relações com a Alemanha "sem interferências internas". Berlim apresenta demandas e pede respeito aos direitos humanos. Violência no Egito deixou 54 mortos.

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O presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi recebido pela chanceler alemã Angela Merkel com honras militares em Berlim
O presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi recebido pela chanceler alemã Angela Merkel com honras militares em BerlimFoto: AP

Em visita a Berlim, nesta quarta-feira (30.01), o presidente egípcio Mohamed Morsi se deparou com uma onda de demandas apresentadas pelo governo alemão e organizações da sociedade civil.

Depois de um breve encontro com Mohamed Morsi na capital alemã, a chanceler Angela Merkel exortou o primeiro presidente islâmico egípcio a respeitar os direitos humanos no país do norte africano, atualmente palco de protestos violentos que resultaram em duas mortes no Cairo, nesta quarta-feira (30.01).

Em coletiva de imprensa durante a visita relâmpago de Morsi a Berlim, Merkel destacou ainda que para a Alemanha é importante haver um canal de comunicação com todas as forças políticas no Egito e que a liberdade religiosa precisa ser uma realidade no país. Segundo a chanceler alemã, o desenvolvimento de uma economia crescente seria uma contribuição para a criação de condições políticas estáveis.

Após o encontro com Morsi, o ministro alemão da Economia, Philipp Rösler (do Partido Liberal Democrata, FDP, minoritário na coligação de governo), pediu liberdades sociais no Egito em troca de uma parceria econômica "justa". Hans Heinrich Driftmann, presidente da Câmara Alemã de Comércio e Indústria (DIHK), afirmou que, à luz da insegurança atual para empresas alemãs no Egito, a visita de Morsi a Berlim serviu para restabelecer "confiança".

"Egito será um Estado de direito"

O presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi recebido pela chanceler alemã Angela Merkel com honras militares em Berlim
O presidente do Egito, Mohamed Morsi, foi recebido pela chanceler alemã Angela Merkel com honras militares em BerlimFoto: picture-alliance/dpa

O presidente Mohamed Morsi assegurou que quer avançar com reformas democráticas no Egito. Ele garantiu que irá tornar o país “um Estado de direito civil”, que não será governado por militares [como os governos que o antecederam], e que vai permitir "opiniões e contra-opiniões".

Morsi também lembrou que a Alemanha acompanha o processo democrático no Egito desde o início [há dois anos, quando a revolta popular paralisou o país durante 18 dias e acabou por derrubar o então presidente Hosni Mubarak].

Falando num "novo salto da cooperação", o líder egípcio disse ainda querer ampliar as relações entre o país africano e a Alemanha nas áreas econômica, cultural, política e científica – porém "sem interferência em questões internas".

Respondendo à pergunta sobre se pretende incluir a oposição num governo com participação de todos os partidos do Egito, Mohamed Morsi considerou a existência de um governo estável e que as eleições legislativas, marcadas para daqui a três ou quatro meses, vão decidir sobre uma nova liderança.

Morsi também disse que declarou estado de emergência no Egito a contragosto. A medida seria "temporária" e teria por objetivo garantir a segurança dos cidadãos egípcios e "acabar com assaltos criminosos". O estado de urgência deverá ser revogado "assim que não houver mais necessidade".

Por causa da atual instabilidade no Egito, Mohamed Morsi cancelou ida à França, mas insistiu em manter a visita à Alemanha – mesmo não encontrando o presidente do país europeu, Joachim Gauck.

Egito, "chave" para sucesso dos protestos no mundo árabe

Ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle: ajudas financeiras alemãs ao Egito dependeriam dos avanços democráticos no país
Ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle: ajudas financeiras alemãs ao Egito dependeriam dos avanços democráticos no paísFoto: picture-alliance/dpa

Algumas horas antes da chegada de Mohammed Morsi a Berlim, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle (FDP), também preveniu em entrevista à televisão alemã ARD que as ajudas financeiras alemãs ao Egito dependeriam dos avanços democráticos no país, e apelou ao diálogo.

"O Egito é um parceiro de grande importância para a Alemanha e também é um país chave para que os protestos no mundo árabe, em geral, possam ter sucesso. Aconselho paciência estratégica com o Egito. Ou seja: dizemos o que temos a criticar, mas é preciso fortalecer a comunicação. O diálogo é a melhor maneira de obter influência", assinalou Westerwelle.

A chanceler alemã também sublinhou o papel do Egito no processo de paz palestino-israelense, atualmente paralisado. "O Egito tem uma voz importante e pode dar uma contribuição igualmente importante", afirmou Merkel, agradecendo a Morsi pelo empenho em conseguir um cessar-fogo após os mais recentes ataques israelenses à Faixa de Gaza.

A chanceler alemã ainda afirmou que seu país se sente na obrigação de atingir uma solução de dois Estados para israelenses e palestinos.

Papel da Economia

Segundo a imprensa alemã, intenção de Morsi em Berlim seria um alívio da dívida
Segundo a imprensa alemã, intenção de Morsi em Berlim seria um alívio da dívidaFoto: dapd

Segundo a imprensa alemã, Morsi viajou à capital alemã para conseguir um alívio da dívida do país africano e possíveis investimentos do país europeu, num momento em que investidores internacionais não acreditam que o Egito apresente garantias suficientes de segurança.

Em dezembro de 2012, Berlim suspendeu a redução parcial – que poderia atingir até os 250 milhões de euros – da dívida egípcia junto à Alemanha, que totaliza 2,5 mil milhões de euros.

A Alemanha é o terceiro parceiro comercial do Egito, depois dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita.

Manifestantes pedem o fim da violência no Egito

Ativistas da organização de direitos humanos Anistia Internacional protestam diante da chancelaria, em Berlim, contra a visita do presidente egípcio, Mohamed Morsi
Ativistas da organização de direitos humanos Anistia Internacional protestam diante da chancelaria, em Berlim, contra a visita do presidente egípcio, Mohamed MorsiFoto: dapd

Durante a visita de Morsi a Berlim, dezenas de manifestantes convocados pela Anistia Internacional protestaram, diante da sede do governo alemão, contra as violências militares e policiais no Egito que, com as ocorrências mais recentes, já deixaram 54 mortos em todo o país.

As piores violências desde a eleição de Morsi, em junho de 2012, começaram na última quinta-feira (24.01), com protestos da população contra o líder egípcio.

Para tentar conter a crise, o presidente islâmico decretou estado de emergência e um toque de recolher em três províncias ao longo do canal de Suez, onde a maioria das mortes foi registrada.

Enquanto isso, no Egito...

Na manhã desta quarta-feira (30.01), Mohamed El-Baradei, uma das principais figuras da principal coligação da oposição egípcia, pediu uma reunião de urgência com Morsi para tentar resolver a crise no país.

O partido oposicionista FSN (Frente da Saudação Nacional, em tradução livre), exige que Mohamed Morsi assuma a responsabilidade pelas violências fatais nos últimos dias, assim como a formação de um governo de união nacional. O FSN, ecoando várias vozes no país, avalia que a Constituição egípcia, aprovada num polêmico referendo em dezembro de 2012, "não é válida", já que não representa a população egípcia e porque fere direitos fundamentais.

Autora: Renate Krieger/dpa/reuters/afp
Edição: Cristiane Vieira Teixeira