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UNITA constata 4.570 mortes em hospitais de Luanda

Cristiane Vieira Teixeira12 de abril de 2016

Grupo parlamentar da UNITA, maior partido da oposição angolana, diz que números apresentados pelo Governo sobre mortes por febres hemorrágicas não correspondem à realidade. UNITA visitou hospitais, morgues e cemitérios.

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Hospital Josina Machel – Maria Pia, em LuandaFoto: Fernando Sefrin

De acordo com as autoridades sanitárias angolanas, que levam a cabo desde fevereiro uma campanha de vacinação para combater a epidemia da febre-amarela que Angola registra desde dezembro de 2015, a doença causou 230 mortes, num total de 1.645 casos.

Em visitas realizadas a diversos hospitais, morgues e cemitérios de Luanda, o grupo parlamentar da UNITA constatou um total de 4.570 mortes registradas nos livros de diversos hospitais, em março. Apenas em quatro cemitérios "foram 8.339 óbitos", registrados durante o mês passado.

A este respeito, a DW África entrevistou o parlamentar Alcides Sakala, porta-voz e secretário para as relações internacionais da UNITA.

DW África: Quais são as conclusões do seu partido após as visitas efetuadas?

Alcides Sakala Berlin
O parlamentar da UNITA, Alcides SakalaFoto: Cristiane Vieira Teixeira

Alcides Sakala (AS): Há de fato uma crise no sistema de saúde. Entendemos que faliu o sistema de saúde, que não tem estado à altura de responder às grandes dificuldades que ocorrem no país, relativamente à febre-amarela e do próprio paludismo que hoje é praticamente um problema nacional. Tomamos esta posição de anunciar estes números como forma também de chamar a atenção da opinião pública nacional e internacional para um problema que carece de solução imediata.

DW África: É possível garantir que todas essas 4.570 mortes constatadas pelo grupo parlamentar da UNITA foram causadas por febres hemorrágicas?

(AS): Isto é a medir pelo número exponencial que se verifica. Há um aumento considerável [do número de mortes] que coincide com o início deste surto de febre-amarela. Temos vindo a acompanhar o movimento nos cemitérios, por exemplo, que é enorme desde quando se anunciou o surto da febre-amarela. Ao levantarmos esse problema é apenas para procurar ajudar na procura de soluções definitivas.

DW África: O que levou a uma discrepância tão grande entre os números anunciados pelo Governo e aquilo que a UNITA constatou no terreno?

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Campanha de vacinação contra a febre-amarela, em LuandaFoto: DW/B. Ndomba

(AS): Isto decorre efetivamente talvez de deficiências no próprio serviço de catalogação. Mas, a medir pelos nossos dados, há de fato esta grande contradição. Com os números que apresentamos, que refletem a situação atual, há toda uma necessidade de se redobrarem os esforços por parte das instituições do Estado para uma solução cabal destes problemas.

DW África: Como a UNITA avalia o volume de recursos destinados pelo Governo para a Saúde, que recebeu 136 milhões de dólares em 2016, contra 221 milhões de dólares destinados ao setor no ano passado?

(AS): A UNITA tem insistido imenso de que é preciso dar mais atenção orçamental para as áreas sociais. Não tem sido feito, agora estão as consequências. Portanto, o Governo não tem capacidade de responder a surtos como o que está agora a ocorrer no país, porque do ponto de vista orçamental não se deu a atenção que se deveria ter dado.

DW África: Além do surto de febre-amarela, há também uma epidemia de malária que já terá afetado cerca de 500 mil pessoas em Luanda nas últimas semanas, sendo a doença a principal causa de morte em Angola. Não foram divulgados os números de mortes por malária em Angola. Que soluções a UNITA aponta?

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Água parada em Luanda (foto), paraíso para a reprodução do mosquito transmissor da malária e da febre-amarelaFoto: DW/B. Ndomba

(AS): É preciso que se dê soluções a todas essas questões que dizem respeito à limpeza das cidades, ao saneamento básico, ao tratamento de lixo, o que é uma questão deficitária ainda no nosso país e, sobretudo, em Luanda neste momento.

DW África: De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Angola vive ainda o pior surto de febre-amarela dos últimos 30 anos. O ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, declarou recentemente a intenção de vacinar toda a população. Mas segundo a OMS, faltam vacinas contra a febre-amarela no mercado. Qual a posição da UNITA neste sentido?

(AS): O que tem havido também é má gestão dos recursos financeiros, sobretudo. Isto reflete, exatamente, a falta de políticas claras de prevenção. Portanto, houve desleixo nesta área e agora estão as consequências que falam por si. Portanto, é preciso modificar o modelo de gestão do próprio sistema de saúde.

DW África: Poderia relatar quais têm sido as consequências práticas das epidemias de febre-amarela e de malária para a população?

[No title]

(AS): O que se conta e o que se vê é dramático, sobretudo o tratamento dos corpos nas morgues da cidade de Luanda que não têm capacidade para fazer face a este número elevado de óbitos que se verifica. É também assim nos cemitérios. De fato, há um quadro dramático que se verifica no país.

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