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ConflitosEtiópia

Etiópia: Centenas detidos por supostas ligações com rebeldes

AFP | Reuters | Lusa
18 de julho de 2021

Centenas de pessoas foram detidas e empresas encerradas na capital da Etiópia, Adis Abeba, por suspeitas de apoio aos rebeldes da região de Tigray. Rebeldes continuam atividade em Afar e Amhara.

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Handschellen auf Untergrund mit Paragraphenzeichen
Foto: picture-alliance/imageBROKER/R. Poller

Os detidos são suspeitos de terem ligações com a Frente de Libertação Popular de Tigray (TPLF), adiantou o chefe da polícia federal, Getu Argaw, à Ethiopian Broadcasting Corporation (EBC) citado pela agência France-Presse.

A TPLF é classificada, desde maio, como uma "organização terrorista" pelas autoridades da Etiópia.

"Um total de 323 pessoas suspeitas de ajudar a TPLF em várias atividades foram presas", confirmou Getu Argaw, ao avançar ainda que diversas empresas "com ligações com os suspeitos foram fechadas e estão atualmente sob investigação".

A Amnistia Internacional acusou na sexta-feira (16.07) a Etiópia de ter prendido, arbitrariamente, dezenas de habitantes do Tigray, nas últimas semanas, desde que os rebeldes que combatem as tropas do Governo federal conquistaram o controlo de grande parte da região.

Entre os detidos encontram-se ativistas e jornalistas, alguns dos quais foram espancados e levados para locais a centenas de quilómetros da capital, disse a Amnistia, em comunicado.

Rebeldes ativos em Afar e Amhara

Os rebeldes na região de Tigray, na Etiópia, realizaram operações contra as tropas pró-governamentais na vizinha região Afar, disse um porta-voz rebelde este domingo (18.07).

A "ação muito limitada" visou forças especiais e combatentes de milícias da região de Oromia, a maior da Etiópia, que se encontravam em massa ao longo da fronteira entre Tigray e Afar, disse à agência de notícias AFP o porta-voz rebelde Getachew Reda.

"Tomámos essas medidas para assegurar que essas forças fossem enviadas de volta para Oromia, e conseguimos fazê-lo", disse Getachew, acrescentando que houve algumas baixas, sem fornecer números.

Uma reportagem da imprensa estatal publicada no sábado (17.07) à noite acusou a Frente Popular de Libertação de Tigray de bloquear a entrada de ajuda em Tigray via Afar utilizando "bombardeamentos pesados" e "artilharia pesada".

"Rejeitando o cessar-fogo pelo Governo federal, a TPLF está a tentar arduamente expandir o conflito para a região de Afar", lê-se na reportagem da Ethiopian News Agency.

Getachew negou que qualquer entrega de ajuda tivesse sido interrompida.

"Onde os combates aconteceram, não há nenhuma grande autoestrada que esteja a ser utilizada para fins de ajuda", disse ele.

Getachew confirmou ainda que unidades rebeldes também estavam ativas na região norte de Amhara.

"Também realizámos operações bem sucedidas em Wag Hemra, que se situa na região de Amhara, e mesmo neste preciso momento algumas unidades estão a operar entre Mai Tsebri [no oeste de Tigray] e o território adjacente de Amhara", afirmou.

Numa declaração publicada no Twitter eeste domingo, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, referiu-se à "junta" da TPLF como "o cancro da Etiópia". "Certamente, a junta será removida para que não volte a crescer", acrescentou. 

Soldados libertados

Entretanto, Debretsion Gebremichael, líder da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF), disse à agência Reuters, no final da sexta-feira (16.07), que libertaram 1.000 soldados de baixa patente do Governo capturados durante os recentes combates.

"Mais de 5.000 (soldados) ainda estão connosco, e vamos manter os oficiais superiores que vão ser julgados", disse ele.

Ele disse que os soldados tinham sido levados para a fronteira sul de Tigray com a região de Amhara na sexta-feira, mas não disse quem os recebeu nem como foi negociada a libertação.

A Reuters não pôde confirmar independentemente o relato.

O conflito

O Tigray tem estado a braços com um devastador conflito há oito meses, que atingiu um importante ponto de viragem em finais de junho, quando forças rebeldes, que se opõem ao Governo federal, retomaram grande parte do território desta região norte da Etiópia, levando o Governo a declarar um cessar-fogo unilateral.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2019, enviou o exército federal para Tigray em novembro passado com o objetivo de derrubar as autoridades regionais da TPLF.

Na altura, o líder do Executivo etíope disse que operação foi em resposta aos ataques aos campos do exército federal ordenados pela TPLF, um partido que dominou o poder na Etiópia durante três décadas.

Ahmed Abiy declarou a vitória no final de novembro após as forças do lado do Governo terem controlado a capital regional, Mekele. Mas os combates continuaram. E, em 28 de junho, forças rebeldes pró-TPLF recapturaram Mekele, e depois grande parte de Tigray nos dias seguintes. Nessa altura, começaram as detenções em Adis Abeba, segundo a Amnistia Internacional.

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