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Exército da Nigéria nega uso de balas reais em protesto

AFP | mjp
14 de novembro de 2020

Exército nigeriano reitera que não abriu fogo contra um milhar de pessoas que se manifestavam contra a Unidade Especial Antirroubo da polícia, a 20 de outubro. Amnistia Internacional regustou 12 vítimas mortais.

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Nigeria l Proteste gegen Polizeigewalt in Lagos
Foto: Afolabi Sotunde/Reuters

Perante uma comissão de inquérito judicial criada para investigar o tiroteio de 20 de outubro e alegações de abusos por parte da Unidade Especial Antirroubo da Polícia nigeriana (SARS), este sábado (14.11), o Exército da Nigéria negou ter disparado balas reais contra manifestantes pacíficos, em Lagos.

Os protestos contra a violência policial - e especificamente contra a controversa SARS - começaram a 8 de outubro, com as autoridades a prometer desmantelar este esquadrão da polícia, perante o aumento da pressão. A instabilidade culminou a 20 de outubro, quando as forças de segurança dispararam contra cerca de mil manifestantes em Lagos, matando 12 pessoas, segundo a Amnistia Internacional. A organização afirma que pelo menos 56 pessoas foram mortas nas três semanas de protestos.

"Podem ver que eles estão a disparar para o ar, sem munições reais", afirmou o general Ahmed Ibrahim Taiwo, durante a apresentação de vídeos para sustentar a versão do Exército dos acontecimentos de 20 de outubro.

O tiroteio foi amplamente condenado pela comunidade internacional. "Tem havido muita desinformação em relação ao Exército nigeriano", disse Taiwo. O "único crime foi ter-se apresentado ao serviço para nos proteger a todos", acrescentou, confirmando que os soldados foram destacados para a região, a pedido do governador.

Em resposta às declarações de uma testemunha que diz ter visto um cadáver no local, o porta-voz dos militares afirmou que "a vítima que ela viu tinha sido dominada pelo choque". As autoridades, no entanto, ainda não se pronunciaram sobre muitas outras denúncias semelhantes de sobreviventes.

O governador do estado de Lagos, Babajide Sanwo-Olu – que anteriormente negou ter chamado o Exército a intervir – afirmou que havia apenas duas mortes confirmadas.

Nigeria Abuja | Aussschreitungen
A 20 de outubro, a polícia disparou gás lacrimogéneo para dispersar outra manifestação, em Abuja.Foto: Kola Sulaimon/AFP/Getty Images

Criminosos infiltrados, diz Exército

O general do Exército nigeriano passou a maior parte da sua apresentação denunciando a violência dos "hoodlums" ou bandidos, uma palavra frequentemente usada na Nigéria para criminosos, que, segundo as autoridades, controlaram os protestos.

"Perante a urgência da situação, não é uma surpresa a imposição de um recolher obrigatório pelo governador", afirmou Taiwo.

Segundo a polícia, 51 civis e 22 agentes foram mortos nos protestos e 205 esquadras da polícia e outros edifícios foram incendiados ou vandalizados.

O Governo prometeu uma série de reformas e garantiu aos manifestantes que tinha ouvido as suas exigências, mas muitos afirmam que está em curso uma campanha para os intimidar.

O painel judicial foi adiado na semana passada, depois de dois membros se absterem em protesto contra a decisão do Banco Central da Nigéria de congelar as contas bancárias de 20 apoiantes das manifestações contra a violência policial – uma medida condenada por grupos de defesa dos direitos humanos.

"As autoridades deveriam remover imediatamente todas as medidas financeiras punitivas que aparentemente foram impostas a indivíduos ou organizações, simplesmente por fornecerem informações ou prestarem apoio a pessoas que exercem os seus direitos fundamentais", considera Anietie Ewang, investigadora da Nigéria na Human Rights Watch.

"Quaisquer tentativas de reprimir protestos legítimos e apelos genuínos à responsabilização através do bloqueio arbitrário de fundos seria um abuso grosseiro de poder", acrescenta.

Nigéria desmantela unidade policial, mas protestos continuam