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Falta espaço nas morgues de Luanda

Pedro Borralho Ndomba (Luanda)1 de abril de 2016

Casas mortuárias estão sobrelotadas e não podem receber mais cadáveres. A capital angolana está a ser atingida por um surto de febre-amarela e também por malária. Não se sabe quantas pessoas estão a morrer ao certo.

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Foto: DW/B. Ndomba

À entrada de uma morgue, no município de Belas, há um papel com o aviso "Não há lugar". Três jovens ficam desolados ao serem informados pelos funcionários de que a morgue está cheia. Já foram a várias casas mortuárias para entregar o corpo de um familiar, de 22 anos, que suspeitam ter morrido de febres altas. Mas não havia lugar em sítio nenhum.

"Estávamos na morgue do Hospital de Capalanca, em Viana, onde faleceu. Aí, não havia espaço. Fomos diretamente a Catete, no município de Icolo e Bengo. Chegámos lá, disseram que só havia lugar para crianças", conta um dos jovens, que não se quis identificar.

Nesta morgue em Belas, no espaço de uma hora, cinco famílias foram obrigadas a regressar a casa com os corpos de familiares. Há cadáveres que estão a ser colocados nas mesmas gavetas da câmara frigorífica, diz um funcionário, que se identificou com a alcunha "Tribal".

"A morgue está cheia. Não temos lugar para mais corpos. Estamos a colocar quatro ou cinco cadáveres onde só devia haver três", explicou.

Dados oficiais não espelham realidade

Angola está a ser atingida por uma epidemia de malária, que já terá afetado meio milhão de pessoas nas últimas semanas, só em Luanda. Até agora, não foram divulgados dados oficiais sobre quantas pessoas morreram. O país vive ainda o pior surto de febre-amarela dos últimos 30 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As autoridades sanitárias angolanas dizem que, em quatro meses, quase 200 pessoas morreram vítimas da doença.

Angola Leichenhaus in der Stadt Belas
Morgue em Belas, LuandaFoto: DW/B. Ndomba

Um número que não espelha a realidade, segundo um funcionário da casa mortuária em Belas, que pediu para não ser identificado. "Se estes chefes andassem nas morgues, iam conhecer a realidade", afirma o funcionário, considerando que "o controlo do número de pessoas que estão a morrer devia ser feito a partir das casas mortuárias e não nos hospitais, porque há doentes que morrem em casa".

Denúncias da população

Nas redes sociais, multiplicam-se as mensagens, vídeos e fotografias denunciando a falta de espaço em diferentes morgues. Inclusive em hospitais. A ativista Rosa Conde foi uma das pessoas que divulgou, na internet, imagens do que viu no município do Cacuaco, antes de ser condenada a dois anos e três meses de prisão por atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores.

"No momento em que as pessoas começaram a morrer no hospital municipal de Cacuaco, acho que as gavetas das morgues ficaram cheias e começaram a pôr os cadáveres no chão", diz Rosa Conde.

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"Chegou ao ponto de os funcionários não receberem mais nenhum cadáver. Uma mãe de uma criança ficou [à espera] com a filha fora da morgue, das 23h00 às 5h00, momento em que as pessoas vêm fazer o levantamento dos corpos ou dos seus entes queridos. É muito triste", conta a ativista.

O maior partido da oposição em Angola, a UNITA, exigiu que se declarasse o estado de calamidade nacional face à crise no setor da saúde. O ministro angolano da Saúde, Luís Gomes Sambo, no entanto, disse recentemente que não havia necessidade para tal. O governante anunciou que foram disponibilizados mais de 30 milhões de dólares para aquisição de meios hospitalares e para o reforço do pessoal.