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SociedadeCabo Verde

Guerra na Ucrânia faz disparar preços em Cabo Verde

Ângelo Semedo
7 de junho de 2022

Subida generalizada de preços, causada pela guerra na Ucrânia, está a empurrar muitas famílias cabo-verdianas para situações de fome. À DW, economista diz duvidar da eficácia das medidas anunciadas pelo governo.

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"Gostaríamos que os preços diminuíssem, porque estamos a sofrer", apela a varredora Maria Pereira
"Gostaríamos que os preços diminuíssem, porque estamos a sofrer", apela a varredora Maria PereiraFoto: Ângelo Semedo/DW

A guerra na Ucrânia está a ter um impacto devastador na vida de muitas famílias cabo-verdianas. A subida global dos preços dos alimentos e dos combustíveis, causada pelo conflito, está a tornar mais difícil a vida de muitos cidadãos, sobretudo os mais pobres.

Cristina Barreto, de 51 anos, é varredora de rua na Cidade da Praia e diz que a sua situação "está complicada". Por isso, já não consegue fazer as suas habituais três refeições diárias.

Chefe de uma família de nove pessoas, Cristina Barreto, cujo marido está doente há 11 anos, confessa estar "a passar por muitas dificuldades".

"O dinheiro que ganho é para pagar a loja no final do mês e fazer pequenas compras. Não dá para mais nada. Se eu tomar café, não consigo almoçar, e se almoçar, não consigo jantar", conta à DW.

Cristina Barreto: "Se tomar café, não consigo almoçar"
Cristina Barreto: "Se tomar café, não consigo almoçar"Foto: Ângelo Semedo/DW

"Estamos a sofrer"

Também Maria Pereira, de Porto Mosquito, diz sentir na pele os efeitos da subida dos preços. Vendedora de peixe, tem sete pessoas em casa para alimentar, mas o dinheiro começa a ser pouco.

"Gostaríamos que os preços diminuíssem, porque estamos a sofrer", afirma Maria Pereira à DW, especificando a sua situação:

"No meu caso, quando vendo esses peixes, nos mil escudos [9 euros] que ganho, tenho que tirar 400 escudos [3,60 euros] para pagar o transporte e o resto é para comprar arroz e óleo para levar para casa, para poder passar o dia com a família".

Paulo Correia: "O dinheiro não chega"
Paulo Correia: "O dinheiro não chega"Foto: Ângelo Semedo/DW

Mais difícil está também a vida de Paulo Correia. Condutor de profissão, conta que, em 23 anos de trabalho, este é o pior momento que está a viver.

"Agora temos que pagar 153 escudos [1,38 euros] por um litro de gasóleo. Colocamos doze a treze litros de combustível no carro por cerca de dois mil escudos, mas não dá para fazer quase nada. Quando apanhas um frete, mesmo que cobres dois contos, o dinheiro não chega. Se aumentarmos o preço, os clientes reclamam. A situação está complicada", diz.

Em entrevista à DW, o economista Avelino Bonifácio diz que a guerra na Ucrânia veio agravar a situação do país, que ainda lidava com os efeitos da seca e da crise gerada pela pandemia de Covid-19. E que "há uma clara degradação das condições das pessoas".

Segundo o analista, regista-se "uma duplicação do número de pessoas em situação de carência alimentar e de risco de pobreza extrema, cuja percentagem duplicou. Há um empobrecimento quase generalizado da população cabo-verdiana, sobretudo, das famílias com baixo nível de rendimento ou sem rendimentos fixos".

Medidas do governo

O economista duvida que as medidas anunciadas, em março, pelo Governo, para mitigar a alta dos preços sejam implementadas.

"Creio que o Governo fez um esforço considerável, tendo em conta a dupla situação a que fiz referência, o aumento das despesas e a diminuição das receitas. Agora, a minha maior preocupação tem a ver com a implementação dessas medidas. A perceção que se tem é que essas medidas não estão sendo, de facto, implementadas e que não passaram de meros anúncios", avalia.

Apesar das dificuldades por que passam as famílias, o Governo deixou claro que não há condições para aumentar os salários, mesmo havendo pessoas a receberem do Estado remunerações de 50 euros mensais, um valor inferior ao salário mínimo, que ronda os 130 euros.

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