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Bissau vs. Conacri: Fecho de fronteiras estremece relações

Iancuba Dansó (Bissau)
6 de outubro de 2020

"Houve violação da livre circulação de pessoas e bens" e o impacto pode ser grande para a economia guineense, dizem analistas. Tensão entre presidentes dos dois países na origem da tensão, acreditam.

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Grenze zwischen Guinea-Bissau und Guinea Conakry
Fronteira entre a Guiné-Bissau e Guiné-ConacriFoto: F. Tchuma Camara

Até ao momento, a única reação das autoridades guineenses veio da ministra dos Negócios Estrangeiros, Suzy Barbosa, que em entrevista à agência Lusa lamentou que a Guiné-Conacri "não tenha informado oficialmente” a vizinha da Guiné-Bissau sobre o encerramento das fronteiras, que aconteceu a 29 de setembro.

Barbosa afirmou que "por questão de diplomacia e de bom relacionamento entre países vizinhos seria de bom tom informar esses países”.

As autoridades da Guiné-Conacri terão alegado razões de segurança para tomar a decisão nas vésperas das eleições presidenciais previstas para 18 de outubro.

Questões étnicas em jogo?

O analista político Luís Vaz Martins afirma que "em circunstância alguma o Presidente Sissoco escondeu a sua simpatia para com o líder da oposição [Cellou Dalien Diallo, de Conacri] e que por coincidência também é do seu grupo étnico (fulani)". 

Guinea-Bissau Präsident Umaro Sissoco Embaló
Umaro Sissoco EmbalóFoto: GB presidency

Para Martins, a decisão de Conacri poder ter ligação com questões tribais, que jogam contra o Presidente daquele país, Alpha Condé.

"E daí que há uma espécie de aliança dos líderes da nossa sub-região, que pertencem uma determinada fação tribal, que parece, claramente, ter uma agenda no sentido de promoção, de que determinadas individualidades ou figuras políticas pertencentes a este mesmo grupo étnico possam atingir o poder", afirma.

É de conhecimento público a antipatia do chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, para com o seu homólogo, Alpha Condé.

Durante a campanha eleitoral para as presidenciais na Guiné-Bissau, Embaló desferiu ataques contra Conde, acusando-o de "matar o seu povo”, numa alusão à manifestação popular contra o regime de Conacri.

Abertura de um canal de diálogo?

O professor das relações internacionais, Fernando Mandinga da Fonseca, interpreta o fecho das fronteiras da seguinte forma: "Significa que deve existir um mal-estar entre os dois países".

E "Se nós considerarmos o pronunciamento da chefe da diplomacia da Guiné-Bissau, Suzy Barbosa, que demonstrou uma certa preocupação em relação a esse não aviso prévio. [Esse caso] estremece, certamente, as relações bilaterais entre esses dois países”, finaliza.

Há uma vasta comunidade da Guiné-Conacri residente na Guiné-Bissau e as relações entre os dois estados remontam desde o período colonial. Por isso, Fernando Mandinga da Fonseca aponta uma saída para um eventual mal-estar entre os dois países.

Guinea Präsident Alpha Condé
Alpha CondéFoto: Getty Images/C. Binani

"[Pode ser] dentro da abertura de um canal de diálogo e também nas instâncias da integração regional, porque esses dois países são integrantes da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental). Portanto, há fóruns para a resolução desta situação”, sugere.

Consequências 

A Guiné-Bissau está separada da Guiné-Conacri a leste e sul. Diariamente regista-se a circulação de cidadãos e bens de um país para outro. Mas o fecho das fronteiras põe em causa esta prática, afirma o jurista Luís Peti.

"Pode constituir uma flagrante violação do princípio de livre circulação e bens dentro de espaço da CEDEAO. Esta decisão unilateral da parte da Guiné-Conacri fere grandemente este princípio, não só no que tem a ver com o próprio espírito do princípio, mas também as questões económicas”, sublinha.

O economista Serifo Só prevê impactos negativos para a economia da Guiné-Bissau com o encerramento da fronteira:

"Este impacto gera um mal-estar, não só na economia popular, mas também na própria economia do estado da Guiné (Bissau), porque se formos ver, os produtos que entram pela via da Guiné-Conacri, pagam impostos e taxas nas fronteiras e isso também é mais uma perda para o próprio estado da Guiné-Bissau”, alerta.

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