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Miala: O "homem dos sete ofícios" da secreta em Angola

13 de março de 2018

Fernando Miala, que chegou a ser detido durante a Presidência de José Eduardo dos Santos, substitui Eduardo Octávio na chefia do SINSE. Presidente João Lourenço justifica escolha do general com a experiência no sector.

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Foto: picture-alliance/dpa

O general Fernando Garcia Miala, detido em 2006 e afastado das funções de diretor-geral dos Serviços de Inteligência Externa (SIE) durante a Presidência de José Eduardo dos Santos, volta à ribalta ao ser nomeado para o cargo de chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) em substituição do comissário Eduardo Octávio. A nomeação foi feita na noite desta segunda-feira (12.03), pelo Presidente angolano, João Lourenço, numa decisão que foi bem recebida por vários sectores da sociedade angolana.

Fernando Garcia Miala foi empossado esta terça-feira (13.03) pelo chefe de Estado. João Lourenço justifica a escolha com a experiência do responsável militar. Afinal, lembrou o Presidente na cerimónia, Miala "passou praticamente por todos os serviços de inteligência no país".

O general é o novo homem forte do SINSE depois de já ter sido vice-ministro do Interior para a área da Segurança, diretor do Serviço de Informação e diretor do Serviço de Inteligência Externa.

Ordem na casa

Isomar Pedro Gomes
Isomar Pedro GomesFoto: DW

Para Isomar Pedro Gomes, antigo quadro sénior da secreta angolana, a escolha de Francisco Miala visa, essencialmente, conter a grande corrupção que tomou conta da estrutura do Estado ao mais alto nível.

"É preciso ver que uma das funções principais da segurança do Estado em qualquer parte do mundo é precisamente a defesa da integridade do país e o principal sector da integridade do país é realmente a economia. E de um tempo a essa parte a economia foi seriamente atacada por indivíduos, ladrões, que danificaram gravemente o país", considera o especialista.

"O regresso de Fernando Garcia Miala", acrescenta, "é um bom indicativo de que João Lourenço pretende pôr ordem na casa e com este competente operativo muita coisa vai ser travada".

Historial conturbado

Para Isomar Pedro Gomes, o general Garcia Miala, enquanto conhecedor profundo da segurança militar e doméstica, assim como da estrutura sectária do regime do MPLA, é uma figura capaz de conter "possíveis rebeliões dos implicados na grande corrupção" contra o Presidente Lourenço. O especialista acredita mesmo que "Fernando Garcia Miala já está em contacto com João Lourenço há bastante tempo e foi ele quem forneceu os dados sobre o paradeiro das grandes fortunas no exterior".

Miala: O "homem dos sete ofícios" da secreta em Angola

Pedro Gomes justifica: "Miala foi a primeira pessoa que denunciou os desvios dos dinheiros vindos da China, no tempo de José Eduardo dos Santos, quando ele [Miala] implica José Van-Duném e o general Kopelipa e outros indivíduos".

Depois desta denúncia, em 2006, a direcção da "secreta", então liderada pelo general Fernando Miala, agora general e chefe do SINSE, foi exonerada por alegada tentativa de golpe de Estado – uma acusação que nunca foi provada.

Mais tarde, em 2007, Fernando Miala viria a ser condenado a quatro anos de prisão por insubordinação, pelo Tribunal Supremo Militar, tendo cumprido a pena.

Três outros colaboradores de Fernando Miala foram condenados a dois anos e seis meses de prisão efetiva. Todos foram acusados de insubordinação por não terem comparecido perante as chefias militares na cerimónia da sua despromoção.

Miala foi igualmente acusado de interferir nas missões da escolta do chefe de Estado, de realizar escutas não autorizadas, além do furto de aparelhos de escuta, e de se envolver em relações alegadamente "promíscuas" com membros da Comunicação Social, mas estes crimes não ficaram provados em tribunal.