1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Nyusi: Terrorismo em Cabo Delgado tem "mão estrangeira"

Leonel Matias (Maputo)
16 de dezembro de 2020

O Presidente moçambicano afirmou hoje no Parlamento que a liderança dos terroristas dos ataques em Cabo Delgado é maioritariamente estrangeira e alguns foram mortos em combate. País deve saber gerir apoios, disse Nyusi.

https://p.dw.com/p/3mon5
Filipe Nyusi, Präsident von Mosambik
Filipe Nyusi, Presidente de MoçambiqueFoto: DW

Um dos temas dominantes do discurso de três horas do Presidente foi a violência armada protagonizada pelos terroristas em Cabo Delgado, desde outubro de 2017. Filipe Nyusi explicou que os ataques foram antecedidos de manifestações de grupos radicais, que começaram em 2012, promovidas por um cidadão de nacionalidade tanzaniana, identificado pelo nome de Abdul Shakulo, que incitava várias práticas contrárias ao Islão, como a desobediência à Constituição da República e a proibição das crianças frequentarem as escolas.

"Dos terroristas capturados ou mortos em combate, distinguem-se cidadãos de origem tanzaniana, congolesa, somali, ugandesa, queniana e, maioritariamente, moçambicanos recrutados, para além de indivíduos de outras partes do mundo", afirmou Filipe Nyusi.

"As suas lideranças são, maioritariamente, estrangeiras, como é o caso dos tanzanianos, Sheik Ibrahimo, que foi abatido, o Sheik Hassan Zuzure, Abdul Azize. Para além destes líderes, conta-se ainda com o Sheik Aji Ulathule e Faragi Nancalaua, que foram mortos também em combate", precisou o Presidente da República.

Reorganizar a defesa nacional

O chefe de Estado falou ainda das fontes de financiamento do grupo terrorista. "Atualmente, as fontes de financiamento conhecidas são a pilhagem de produtos das populações, transferências monetárias de colaboradores via eletrónica e rendimentos provenientes do crime organizado", disse.

Mosambik | Provinz Cabo Delgado | Bernardino Rafael
Exército em Cabo DelgadoFoto: Roberto Paquete/DW

Com todo este currículum de terrorismo no país, Filipe Nyusi afirmou que está na hora de reuniar as tropas e reorganizar a defesa nacional.

"Para o combate ao terrorismo, o governo assume o compromisso de intensificar a formação, reequipamento e modernização das forças de defesa e segurança em todas as especialidades", afirmou o chefe de Estado, acrescentando ainda que já está a reforçar a cooperação internacional.

Nyusi mostra disponibilidade em dialogar, mas...

Pronunciando-se sobre a violência no centro do país protagonizada pela Junta Militar da RENAMO, o Presidente observou que este grupo se recusa a aceitar o diálogo e a depôr as armas.

"A RENAMO nunca reivindicou esse grupo como deles, por isso, nada nos resta agora. Não temos outra solução senão desencadear operações rigorosas contra o inimigo, e é o que está a acontecer neste momento. Contudo, reafirmamos que continuamos abertos para dialogar, visando o estabelecimento da paz, desde que não seja uma chantagem contra o povo que estabeleceu um acordo de paz com a RENAMO", justificou.

 RENAMO Guerillakämpfer in Gorongosa, Mosambik
Junta Militar da RENAMO, dissidência do principal partido da oposiçãoFoto: DW/A. Sebastiao

Nyusi reiterou o convite à Junta Militar para aderir ao processo em curso de desarmamento, desmilitarização e reintegração dos homens armados, que, segundo afirmou, permitiu já o encerramento de seis bases da RENAMO e o desarmamento de cerca de 1490 homens, representando 29% do universo previsto.

O chefe de Estado voltou a negar que os entendimentos alcançados com o ex-líder da RENAMO já falecido, Afonso Dhlakama, para a condução deste processo estejam a ser desvirtuados. "Tudo o que acordámos está a ser implementado", concluiu.

FRELIMO dá "ok" e RENAMO "torçe" o nariz

A FRELIMO dá nota positiva ao informe do chefe de Estado, através de Feliz Sílvia, o porta-voz da bancada. "A avaliação é muito positiva, porque apesar das adversidades, o nosso país continua a crescer em todos os domínios", declarou.

Por sua vez, o porta-voz da RENAMO, Arnaldo Chalaua, disse que o comunicado deixa muito a desejar. "A corrupção flagela muito o nosso país. A questão de Cabo Delgado, a questão do centro do país (palco de ataques armados), deixa-nos de rastos", sublinhou.

"O informe do chefe de Estado devia trazer, pontualmente, o que é necesário fazer em Cabo Delgado, para que a vida volte à normalidade, tendo em conta que há um número considerável de deslocados internos e há um problema sério de violação dos direitos humanos", acrescentou Chalua.

CNE Mosambik
Sede da CNE em MaputoFoto: DW/R.daSilva

CNE: MDM diz que faltou transparência

O MDM, o segundo partido da oposição, boicotou a sessão, alegando falta de transparência na indicação dos membros da sociedade civil para a Comissão Nacional de Eleições (CNE). A eleição decorreu esta terça-feira (16.12), depois de várias horas de impasse e tensão, com concertações de última hora, que se arrastaram por cerca de dez horas.

Na passada quarta-feira (10.12), um grupo da sociedade civil tinha apresentado, igualmente, uma petição junto da Procuradoria-Geral da República, contestando a forma como estava a ser conduzido este processo, que culminou com o registou de 151 candidaturas, representando 35 organizações.

A votação no Parlamento culminou com a eleição de sete candidatos provenientes da sociedade civil e a confirmação de outros dez indicados pelos partidos com assento parlamentar, sendo cinco da FRELIMO, quatro da RENAMO e um do MDM.

Alice Banze, do Fórum Mulher, foi a mais votada entre os candidatos da sociedade civil. "Eu gostaria de trazer como uma mais-valia para este órgão que ele seja muito mais credível e que ele traga também a imparcialidade, para que possa, de facto, funcionar em plenitude, segundo a legislação e a própria Constituição", prometeu.

Saltar a secção Mais sobre este tema