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Filme moçambicano destacado no Festival de Cinema de Locarno

Rui Martins (Locarno)10 de agosto de 2016

"Comboio de Sal e Açúcar", de Licínio Azevedo, brasileiro que vive há quarenta anos em Maputo, é projetado esta quarta-feira na tela de 300 m² da Piazza Grande. Esta é uma honra reservada apenas a grandes produções.

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Foto: Ukbar Filmes

"Comboio de Sal e Açúcar" é provavelmente o primeiro grande western africano. A longa-metragem conta a história de um comboio e dos seus passageiros, que embarcam numa viagem perigosa durante a guerra civil moçambicana.

O realizador teve a ideia ao ler o jornal: "Descobri que, no norte do país, havia um comboio que as mulheres usavam para viajar 700 km até ao Malawi, atravessando a guerra", diz. "Elas compravam sal no litoral para trocar por açúcar no Malawi. Depois, voltavam [a Moçambique] e vendiam [o açúcar]. Com isso, sustentavam a família. Era uma viagem infernal."

Licínio Azevedo pensou inicialmente em realizar um documentário, mas optou mais tarde por um romance. Para fazer o filme, o cineasta contou com o apoio de produtores franceses, portugueses, sul-africanos e brasileiros, além dos prémios em dinheiro por ele obtidos há dois anos, no âmbito do programa "Open Doors" do Festival de Cinema de Locarno.

Film Still he Train of Salt and Sugar
"Logística e organização foi o mais difícil", diz realizador Licínio AzevedoFoto: Ukbar Filmes

Um filme de guerra num país em guerra

O mais difícil, segundo o realizador, foi iniciar as filmagens e gerir uma locomotiva e as carruagens em linhas férreas onde transitavam outros comboios comerciais e de passageiros.

"Essa logística e organização foi o mais difícil, ainda mais tratando-se de um filme de guerra num país onde a guerra civil estava a recomeçar", conta Licínio Azevedo em entrevista à DW África.

Segundo o realizador, não foi fácil conseguir autorização do Governo para filmar - a equipa já estava no terreno quando as autoridades terão dado "luz verde". O Ministério da Defesa acabou, no entanto, por apoiar a produção, "colocando um grupo de trinta a quarenta militares para treinar os atores, trabalhar connosco. Porque, num país em guerra, basta dar um tiro no mato que o povo todo fugiria para o outro lado da fronteira."

Apesar de reviver um período muito concreto, a guerra civil em Moçambique, para Licínio Azevedo, "Comboio de Sal e Açúcar" conta uma história que poderia ser adaptada a outras realidades e que interessa a públicos de todo o mundo: "Acho que temos um grande filme - um filme moderno, um western, um filme de guerra - uma história que se poderia ter passado na América Latina, no México, na Índia, na China, seja onde for."

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