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Fogos na Amazónia: "Uma crise internacional"

Debora Antunes | com agências
24 de agosto de 2019

Após dias de incêndios na Amazónia, o Brasil começa a perceber os impactos económicos desta crise: acordos comerciais com países europeus podem ser suspensos. Governo brasileiro vai enviar exército para combater o fogo.

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Brasilien Brände im Amazonasgebiet
Foto: Getty Images/AFP/C. de Souza

Com receio de ver o Brasil sofrer sanções comerciais e ter a sua imagem ainda mais prejudicada no cenário internacional, o Presidente Jair Bolsonaro assinou esta sexta-feira (23.08) um decreto, no qual autoriza o uso das Forças Armadas na Amazónia por um mês, numa tentativa de resolver o problema. No mesmo dia, milhares de pessoas em diferentes cidades brasileiras manifestaram-se contra as políticas ambientais do Governo.

O posicionamento do Presidente do Brasil veio depois da pressão internacional, com países europeus a ameaçar a suspensão de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não respeitar compromissos ambientais assumidos diante da comunidade internacional na última cimeira do G20, em junho, no Japão.

A proposta de suspensão partiu do Presidente francês, Emmanuel Macron, que acusou Jair Bolsonaro de mentir em relação às suas políticas ambientais. Países como a Irlanda também apoiaram Macron, enquanto a Alemanha disse que a suspensão do acordo não ajudaria a combater os fogos na Amazónia. Entretanto, a questão será discutida a partir deste sábado na cimeira do G7, em França.

Crise Internacional

O debate sobre os incêndios na Amazónia foi proposto pelo Presidente francês numa postagem no seu perfil no Twitter, na qual classificou o problema como uma "crise internacional".

"A nossa casa está a queimar. Literalmente. A floresta amazónica - os pulmões que produzem 20% do oxigénio do nosso planeta - está em chamas. É uma crise internacional. Membros da cimeira do G7, vamos discutir esta emergência de primeira ordem em dois dias", escreveu Macron na quinta-feira.

No mesmo dia, Jair Bolsonaro apresentou o seu ponto de vista, criticando a repercussão internacional sobre os fogos no norte do Brasil. Numa transmissão em direto no Twitter, o Presidente brasileiro defendeu que a comunidade internacional está preocupada porque tem interesses na região.

"Nós temos de buscar equilibrar essa narrativa sobre essa região tão rica em tudo, não é? Em minérios, em biodiversidade, em água potável, em riquezas energéticas. É isso que o mundo tá de olho", afirmou Bolsonaro.

O tamanho da destruição

O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018. Pesquisadores apontam a expansão do agronegócio como uma das causas deste problema.

Responsáveis pelos fogos

Entretanto, mesmo afirmando que os dados do INPE são mentirosos, o Presidente Jair Bolsonaro já reconheceu o crescimento da desflorestação, conforme dito na sua última transmissão em direto nas redes sociais, na quinta-feira (22.08).

Mas, para Bolsonaro, as causas dos incêndios seriam criminosas e as organizações não-governamentais internacionais de proteção do meio ambiente seriam as prováveis responsáveis pelo problema, mesmo não havendo provas.

Protest gegen  Jair Bolsonaro Brasilien Rio de Janeiro
Brasileiros protestaram na sexta-feira (23.08), no Rio de JaneiroFoto: Imago Images

Por seu turno, o secretário-geral da Amnistia Internacional (AI) responsabilizou na quinta-feira o Presidente do Brasil pelos fogos que grassam na Amazónia, por permitir a desflorestação de parte deste território e pela inação face a ilegalidades.

"A responsabilidade de parar estes fogos que têm atingido a floresta da Amazónia é do Presidente Bolsonaro e do seu Governo", escreveu Kumi Naidoo numa nota à imprensa, na qual aponta que o Brasil "tem de mudar a sua desastrosa política de permissão de desflorestação, que é o que abriu caminho a esta crise".

Já este ano a Amnistia Internacional visitou o território, "documentando invasões terrestres ilegais e ateamento de fogos perto de territórios indígenas na Amazónia, incluindo na Rondônia, onde muitos dos fogos se concentram", acrescenta-se no texto da organização não-governamental.

Tolerância zero

Não só ambientalistas de todo o mundo esperam uma política de tolerância zero contra o desflorestamento, mas até mesmo os próprios eleitores de Bolsonaro parecem esperar o mesmo. É o que mostrou a pesquisa "Percepções da Amazónia", realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) a pedido da organização não-governamental Avaaz - que ouviu mil pessoas pelo país, entre os dias 14 e 16 de agosto.

Os resultados mostram que, por exemplo, 96% dos entrevistados concordam total ou parcialmente que "o Presidente e o Governo Federal devem aumentar as medidas de fiscalização para impedir o desmatamento ilegal na Amazónia". O mesmo resultado foi verificado entre os entrevistados que declararam ter votado em Bolsonaro na segunda volta das últimas presidenciais.