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Forças Armadas alemãs encerram missão na Somália

Philipp Sandner | EFE | nm
27 de março de 2018

Após oito anos de serviços, Governo alemão informa que não prolongará a estadia de instrutores militares na Somália. Fim da participação alemã se dá em meio a ataques terroristas e incertezas políticas na Somália.

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Bundeswehr EUTM in Somalia
Forças Armadas alemãs e soldados somalis em 2013 Foto: Imago/Xinhua

No final de março, as Forças Armadas alemãs irão encerrar suas atividades de formação na Somália. Os soldados alemães fazem parte da Missão Europeia de apoio aos soldados somalis. A retirada acontece em clima de insegurança, uma vez que o país sofreu dois ataques terroristas na última semana.

No domingo (25.03), pelo menos sete civis morreram num atentado com um carro-bomba na porta principal da sede do Ministério de Interior em Mogadíscio, capital da Somália. Três dias antes, na quinta-feira (22.03) pelo menos 17 pessoas morreram em um ataque com carro-bomba do grupo jihadistas Al-Shabaab em frente ao hotel Wehliye, também na capital somali. No local, havia sido feita na altura uma reunião do Governo, como informou um porta-voz do Ministério de Segurança da Somália.

Casos como este fazem parte de uma triste realidade na Somália. Em outubro, um caminhão com explosivos matou mais de 500 pessoas em Mogadíscio - mais do que qualquer ataque anterior. Há cerca de 30 anos, o país tem sido palco de confrontos violentos. Apesar da missão militar da União Africana, iniciada em 2014, ter feito o Al-Shabaab recuar em grande parte no país, a ameaça permanece inalterada, especialmente no centro e sul da Somália.

 Um porta-voz do Ministério Federal alemão da Defesa a pedido da reportagem da DW descreve a situação na capital: "Mogadíscio continua a formar um ponto focal de operações do Al-Shabaab, pois os ataques na capital são regularmente noticiados com destaque pelos media". 

Somalia Mogadischu - Bombenanschlag
Ataque terrorista em hotel (22.03) deixou pelo menos 17 mortosFoto: picture-alliance/AA/S. Mohamed

Uma missão sob más condições

Em meio ao clima de insegurança, as Forças Armadas alemãs encerram sua participação na formação de forças de segurança na Somália, que faz parte da Missão de Formação da UE (EUTM: EU-Trainingsmission).

O mandato dos treinadores alemães termina em 31 de março. E em fevereiro, foi oficialmente anunciado que o Governo federal não prolongaria as atividades no país. A missão europeia inclui, de acordo com dados das Forças Armadas alemãs, cerca de 155 pessoas de 12 nações e treinou mais de 5 mil soldados somalis em oito anos. Mais recentemente, apenas cinco soldados alemães estão alocados na Somália como parte da missão.

EUTM Uganda Archiv 2012
Treinamento dos soldados somalis teve início no UgandaFoto: Bundeswehr

O Governo Federal alemão justifica sua retirada devido às "deficiências nas estruturas políticas e institucionais" da Somália. As forças armadas somalis ainda não são fortes o suficiente, disse um representante do Ministério alemão da Defesa à reportagem da DW: "A reforma da política de defesa, gestão de recursos humanos e ajustes estruturais militares ainda estão a faltar, apesar de serem necessários para reforçar o monopólio legítimo da força por parte do exército somali no país como um todo". Como resultado, a EUTM não conseguiu realizar o seu potencial e não contribuiu de forma duradoura para o fortalecimento do exército somali. Entre outras coisas, o ministério criticou o armamento inadequado dos soldados somalis treinados.

"Sem grandes expetativas”

Este veredito parece devastador depois do envolvimento das Forças Armadas alemães na missão por oito anos. Porém, para o cientista político Stefan Brüne, que trabalhou como conselheiro para a missão em 2014, não há surpresas. "Todos os soldados das Forças Armadas com quem conversei durante a minha estadia me deram a impressão de que eles não tinham grande expetativas em termos de treinamento", disse Brüne. De qualquer forma, esta é uma missão pequena. "Pode-se pensar que se trata mais de preservar canais de comunicação informais do que de uma missão de treinamento convincente para o exército somali", conclui.

Devido à situação de instabilidade no país, a formação dos soldados somalis teve lugar inicialmente no Uganda. Somente em 2013, o treinamento foi transferido para a Somália. Em fevereiro de 2017, Mohamed Abdullahi Mohamed tornou-se Presidente e simbolizava na altura uma esperança para o país. No entanto, seu poder permaneceu reduzido na Somália, que após décadas de guerra civil tem estruturas muito fracas e grandes diferenças regionais.

Durante os anos do conflito, várias áreas construíram estruturas autónomas. O Governo central quer discutir essa situação dentro do sistema federal, mas as tensões persistem. A região da Somalilândia tem lutado por três décadas pelo reconhecimento como nação independente.

Soluções políticas e civis
As dificuldades não se limitam a conflitos dentro do país. Stefan Brüne também vê a ação descoordenada de atores internacionais como parte do problema. Ele critica o fato de os EUA usarem cada vez mais os drones no combate ao Al-Shabaab: "Os ataques com drones talvez enfraqueçam a organização em um sentido militar clássico", diz Brüne. "Mas tenta-se isso [solução militar] já há 20 anos e essa proposta de solução não tem sido bem-sucedida até o momento".

Forças Armadas alemãs encerram atividade de formação na Somália no fim de março

Brüne insiste em uma solução política. Teria que haver mais espaço para conversas informais. O Governo Federal alemão considera fortalecer seu envolvimento civil no setor de segurança. Em termos concretos, propõe-se intensificar a cooperação policial, segundo o Ministério da Defesa.

De acordo com o ministério, a Alemanha já fornece apoio a diferentes áreas no país, como a construção da ordem federal, reintegração de ex-combatentes do Al-Shabaab na sociedade e ajuda nos processos de reconciliação em conflitos locais. Dentro da UE, a Alemanha quer continuar seus esforços para reorientar a missão europeia, que se concentraria em tarefas de consultoria e treinamento de instrutores somalis.