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Formação europeia no Mali vista com apreensão

25 de janeiro de 2013

A UE prometeu assistência ao exército do Mali, não com tropas de combate, mas através da formação de soldados. O país recebeu assistência na luta anti-terrorismo no passado, mas todos os projectos fracassaram.

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União Europeia forma exército do Mali
União Europeia forma exército do MaliFoto: Reuters

No dia 17 de Janeiro, o Conselho de Ministros da União Europeia (UE) aprovou o envio de até 450 militares europeus para o Mali, sobretudo para dar formação ao exército de Bamako. Tendo em conta que o país já se encontra em guerra com os islamistas no norte, na qual intervêm tropas de vários países, nomeadamente a França, há quem critique esta ajuda europeia como vindo demasiado tarde. Mas o chefe da delegação da UE no Mali discorda.

Segundo Richard Zink, "para o que é habitual na UE, esta é até uma missão muito rápida". "Repito que se trata de uma missão de formação, não de combate", afirma, lembrando que "a formação começa em Março, mas a segunda componente da missão, a assistência em questões de organização e estrutura, inicia já em Fevereiro".

Apoios não foram eficazes no passado

Zink aponta o sucesso de uma missão semelhante na Somália, mas há quem duvide que as situações sejam comparáveis. O exército do Mali já no passado recebeu muito apoio da Europa e dos Estados Unidos da América. Mas, em vez de contribuir para luta anti-terrorismo, conseguiram exactamente o oposto, de acordo com Modibo Goita, docente da Academia da Paz em Bamako.

Militares europeus não vão participar nas operações de combate, mas sim formar os soldados malianos
Militares europeus não vão participar nas operações de combate, mas sim formar os soldados malianosFoto: Reuters

"Cerca de 80 soldados formados pelos americanos para combater os terroristas desertaram e juntaram-se às fileiras dos islamistas, com armas e bagagem", afirma o especialista.

Após duas revoltas, muitos tuaregues do norte, que acusam o Governo central de discriminação, foram aceites no exército sem formação, para promover a reconciliação nacional. O que causou um grande problema. Há meses que ninguém sabe sequer ao certo quantos soldados ainda há. O seu número está calculado entre 4 mil e 6 mil e 500. E desde o golpe de Estado de 22 de Março de 2012, o exército encontra-se profundamente dividido. Nem todos os soldados aprovaram o procedimento do líder dos golpistas, Amadou Haya Sanogo.

Precariedade e falta de disciplina são problemas do exército

O oficial do exército francês, Panya Harivongs, que trabalhou mais de um ano no Mali, aponta outros problemas graves, tais como o facto de, em muitos países africanos, os jovens aderirem ao exército "apenas para conseguirem um posto que garanta um salário certo ao fim do mês". "Por isso falta-lhes a motivação", justifica, concluindo que "no Mali acresce uma grande falta de disciplina".

Indisciplina e falta de motivação são alguns dos problemas dos soldados malianos, de acordo com especialista
Indisciplina e falta de motivação são alguns dos problemas dos soldados malianos, de acordo com especialistaFoto: Reuters

No passado, ninguém se interessou por estes problemas, diz Harivongs. O oficial lembra que, em África, excepção feita a situações de guerra, os soldados têm uma posição precária, algo que "acontece que em muitos países africanos".

"O chefe de Estado tem outras prioridades. A sua guarda pessoal, que o protege, está bem equipada e é bem paga. Mas o exército não tem meios suficientes para garantir uma boa formação", explica Harivongs.

A guerra no norte poderá levar os responsáveis no Mali a mudar de atitude. Afinal, tornou-se por demais evidente no ano passado, que um exército mal equipado e preparado representa um grande risco. O chefe da delegação da União Europeia no Mali, Richard Zink, mostra-se confiante, afirmando que "hoje, os malianos anseiam pela ajuda externa, porque têm consciência da necessidade de uma mudança".

"E essa é também a nossa oportunidade", conclui.

Autora: Cristina Krippahl/ Katrin Gänsler
Edição: Maria João Pinto/ António Rocha

Formação europeia no Mali vista com apreensão