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Moçambique: Indústria extrativa vive pesadelo com Covid-19

29 de maio de 2020

O novo coronavírus fez recuar os preços do gás no mercado internacional e 24 empresas que operam neste setor em Moçambique já perderam mais de 240 milhões de dólares. Investimentos de sonho transformaram-se num pesadelo?

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Bacia do RovumaFoto: ENI East

O sonho dos investimentos bilionários no setor da indústria extrativa no norte de Moçambique está a transformar-se num pesadelo, devido aos impactos do novo coronavírus. Alguns megaprojetos das Áreas 1 e 4 na bacia do Rovuma estão já a ressentir-se da pandemia, que forçou a baixa do preço do gás.

Até ao momento, 32% das empresas do setor extractivo, nas áreas 1 e 4 da bacia do Rovuma, registaram uma redução de 100% no volume de negócios. As pequenas e médias empresas são as mais sacrificadas, diz o empresário Munir Sacur, do pelouro de hidrocarbonetos e energia da Confederação das Associações Económicas (CTA).

"Mais de 500 pequenas e médias empresas associadas à indústria extrativa foram afetadas pelo impacto da Covid-19 até à data, pelo que 87% dessas empresas fecharam completamente devido à suspensão temporária de contratos", revelou o empresário em conferência de imprensa, em Maputo.

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Nem o megaprojeto de liquefação da gigante francesa Total na Área 1, avaliado em 26 mil milhões de dólares, nem o projeto Coral Sul, da plataforma flutuante de liquefação, estão a resistir à Covid-19.

"Poderá atrasar dois a três meses e ainda assim mantém-se a perspectiva de exploração em 2022. A Exxon Mobile adiou a decisão final de investimento do projeto do complexo Mamba na Área 4, que estava prevista para abril, e projeta um corte de 30% de custos internacionais devido à queda de preço de petróleo e Covid-19", foi ainda anunciado.

O presidente do pelouro dos Recursos Minerais Hidrocarbonetos e Energia da CTA, Simon Santi, acredita que apesar dos efeitos catastróficos do coronavírus na Área 1, liderada pela Total, a preocupação é temporária. "E a partir de junho, os primeiros trabalhos, as primeiras obras vão voltar no acampamento de Afungi, que vai ser limpo por causa do coronavírus", assegurou.

Alerta para mudança de modelo

A pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), Inocência Mapisse, não tem dúvidas de que a queda do preço do gás no mercado mundial vai criar prejuízos económicos a Moçambique.

Mosambik Maputo | NGO-Zentrums für öffentliche Integrität, CIP
Sede do CIP em MaputoFoto: DW/R. da Silva

"A manter-se esta situação, da pandemia e queda de preço do petróleo, as empresas irão rever a sua estrutura de custos. Porque como houve restrições na circulação de pessoas e bens, isso acaba tendo um impacto nas compras e aquisições dessas empresas", explica.

Para que o sonho dos investimentos bilionários na bacia do Rovuma não seja um pesadelo, Inocência Mapisse recomenda um modelo do preço de gás que se baseie na dinâmica da procura e oferta do mercado.

"Olhamos isso como uma espécie de alerta, porque usando este argumento pode-se optar por qualquer mecanismo de estabelecimento do preço do gás natural diferente daquele que está a ser usado a nível internacional, que tenta dissociar um pouco mais o preço do gás e do petróleo."

Os empresários apelam ao diálogo com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia e Instituto Nacional de Petróleos, para avaliar as condições de Moçambique para enfrentar o problema de preços.