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Governo luso confiante na remota das relações com Luanda

Lusa | nn
15 de setembro de 2018

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, estará na segunda e terça-feira em Luanda numa visita oficial que o Governo luso acredita que contribuirá para a retoma das relações político-económicas com Angola.

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Portugal Ministerpräsident Antonio Costa
Foto: Getty Images/AFP/T. Charlier

António Costa chega a Luanda na manhã de segunda-feira (17.09), durante um feriado dedicado ao "Herói da Nação", o que remeteu a parte institucional e política do seu programa para terça-feira, altura em que se encontrará com o Presidente da República de Angola, João Lourenço.

Em 2011, Portugal entrou em crise económico-financeira, sendo sujeito até maio de 2014 a um programa de assistência acordado com a 'Troika' (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Depois, em 2014, foi a vez de Angola entrar em crise com a quebra dos preços do petróleo nos mercados internacional, fator ao qual se juntou mais recentemente a decisão da justiça portuguesa de constituir como arguido o antigo vice-presidente de Angola Manuel Vicente no âmbito da "Operação Fizz", o que gerou, como resposta, o cancelamento por parte de Luanda de todas as visitas de alto nível envolvendo Portugal.

Angola - Vize-Präsident Manuel Vicente
Relações entre Angola e Portugal esfriaram com a "Operação Fizz", com o vice-presidente angolano Manuel Vicente a ser constituído arguido em PortugalFoto: Getty Images

Entre 2014 e 2017, de acordo com os dados fornecidos pelo executivo de Lisboa, as trocas comerciais entre Portugal e Angola caíram cerca de 40%. Com Angola a apresentar sinais de recuperação económica e de renovação política e, sobretudo, com a resolução do caso judicial - "o irritante" - de Manuel Vicente, após a decisão da justiça portuguesa de transferir este processo para Luanda, o Governo português considera que se encontram agora reunidas as condições políticas para "um novo salto" na cooperação estratégica entre os dois países.

"O campo está agora aberto", disse fonte do executivo nacional, salientando que a visita oficial de António Costa a Angola "tem sido preparada de forma intensa ao longo dos últimos meses" e que as autoridades angolanas "têm manifestado grande empenhamento".

Vista de João Lourenço a Portugal

Sinal do novo clima político foi ainda a marcação para 23 e 24 de novembro da visita de Estado a Portugal do presidente angolano, João Lourenço - algo que não acontecia desde 2009, quando o anterior chefe de Estado de Angola, José Eduardo dos Santos, esteve pela última vez em Lisboa. Ainda segundo o Governo português, mesmo no período de maior tensão em consequência do processo judicial que envolveu Manuel Vicente, as relações pessoais entre o primeiro-ministro português e o chefe de Estado angolano "foram sempre muito boas".

Desde que sucedeu a José Eduardo dos Santos na chefia do Estado angolano, João Lourenço já teve duas reuniões a sós com António Costa, a primeira no final do ano passado em Abidjan, durante a última cimeira entre União Europeia e África, e em janeiro deste ano, em Davos, na Suíça. "Nas duas ocasiões ficou sempre a convicção de que as relações luso-angolanas voltariam ao normal logo que estivesse resolvido o 'irritante' judicial, algo que transcendia o Governo e o Presidente da República de Portugal", disse fonte diplomática.

Berlin Joao Lourenco Präsident Angola
João Lourenço foi eleito em agosto de 2017 e empossado como Presidente da República de Angola um mês depoisFoto: DW/Cristiane Vieira Teixeira

Fim da dupla tributação

Na terça-feira, os governos de Portugal e de Angola assinam uma convenção para acabar com a dupla tributação e um memorando para o início de um processo de regularização das dívidas a empresas nacionais. Estes são dois dos documentos mais importantes da lista de acordos a fechar na presença do Presidente angolano e do primeiro-ministro português.

O memorando para o início do processo de regularização de dívidas a empresas portuguesas, cujo montante global é estimado no mínimo (embora não oficialmente) entre os 400 e os 500 milhões de euros, será assinado pelo secretário de Estado Adjunto das Finanças português, Ricardo Mourinho Félix, e um alto-representante angolano.

Programa de Costa em Luanda

Na segunda-feira, no primeiro dia de visita oficial, António Costa tem no seu programa várias iniciativas que traduzem de forma simbólica o interesse do Governo português em retomar a normalidade da cooperação com Angola - país que está entre os dez maiores destinos das exportações nacionais, onde estão instaladas mais de mil empresas com capitais mistos luso-angolanos e onde residem cerca de 150 mil portugueses.

António Costa visita nesse dia a Fortaleza de Luanda, mais concretamente o renovado Museu Nacional de História Militar, vai dar um passeio pela Baia de Luanda, desloca-se ao Navio Patrulha Oceânico Viana do Castelo, aqui numa ação para evidenciar a importância da cooperação técnico-militar. Já na parte da tarde, visita a obra do hospitalar materno-infantil da Camana, cuja construção está a cargo da empresa portuguesa Casais, num projeto avaliado em 194 milhões de dólares norte-americanos.

A cooperação na área da saúde volta a estar na agenda do primeiro-ministro na terça-feira, ao fim da tarde, antes de regressar a Lisboa, quando se deslocar ao Instituto Hematológico Pediátrico, cujas obras estão a cargo da Mota Engil, envolvendo cerca de 38 milhões de dólares norte-americanos.

Ao longo dos dois dias de presença de Luanda, António Costa estará acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da Agricultura, Capoulas Santos, e pelos secretários de Estado Teresa Ribeiro (Negócios Estrangeiros e Cooperação), Eurico Brilhante Dias (Internacionalização) e Ricardo Mourinho Félix (Adjunto e das Finanças). Tanto Augusto Santos Silva, como Capoulas Santos, continuarão em Luanda na quarta-feira para aprofundamento dos contactos com as autoridades angolanas.