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Grupo de teatro Lusotaque celebra 10 anos de existência

Vanessa Raminhos16 de fevereiro de 2016

“Cabo de Omar” é a mais recente peça do grupo de teatro Lusotaque, da Universidade de Colónia, cidade onde já fizeram três apresentações. No dia 12 de fevereiro, o grupo trouxe até Bona a sua mais recente produção.

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O elenco da peça "Cabo de Omar"Foto: Philipp Buron

“A peça trata de uma pessoa de um povoado no Brasil que foi para o Iraque para mostrar as imagens horrorosas da guerra daquela época. Desapareceu e foi declarado como um herói na terra dele. Então, todas as autoridades construíram um mito de heroísmo e, de repente, esse herói morto, volta vivo. E as autoridades estão aí sem saber o que fazer com ele”, explica Fabian Aquilino, um dos responsáveis pela adaptação que o grupo Lusotaque fez da peça “O Berço do Herói”, do autor brasileiro Dias Gomes, escrita na década de 60, durante a ditadura brasileira.

Apesar de hoje o país viver em democracia, Fabian reconhece que as realidades não são assim tão diferentes. “O interessante dessa peça é que agora em democracia, e antigamente em ditadura, a verdade é desconfortável. Como é que se trata uma verdade assim, que entra num mundo de mentiras e vira tudo um caos, um perigo. E é essa a alegoria: nós somos todos a mentira e encontramos a verdade, e o que fazemos com essa verdade, como é que tratamos dela?”.

Theateraufführung Bonn - Cabo de Omar
Foto: Philipp Buron

Wesley Franklin é Omar Ibrahim, o jovem jornalista desaparecido. Apesar de já fazer teatro há vários anos, esta é a sua peça de estreia no Lusotaque. “Eu já faço teatro desde os 9 anos. Já são 12… não 13 anos, mas aqui com o Lusotaque é a primeira vez, e é a primeira vez na Alemanha! E então é outro público, é outro teatro. É a primeira vez com outro clima, outra receção. E eu sinto muito isso, de ser uma estreia, por ser um outro público, uma outra cultura. Apresentar a minha cultura para uma outra é bem diferente!”, afirma o jovem ator.

10 anos de teatro lusófono na Alemanha

Este ano, o grupo comemora o seu 10.º aniversário, mas não é pela experiência que os atores deixam de ficar surpreendidos com a reação do público e com o impacto que a língua portuguesa tem no mundo.

“Nunca pensei que eu fosse achar um grupo de língua portuguesa aqui na Alemanha”, confessa Cris Carrilho, que dá vida a Antonieta, a falsa viúva de Omar Ibrahim. “Mas mais incrível ainda foi que o Instituto Camões, em Lisboa, fez uma vez um festival de teatro – e eu já fazia parte do grupo – e nós fomos convidados para apresentar lá. E estiveram grupos da Rússia, da Croácia, da Sérvia, da Polónia, todos em língua portuguesa. E eu também nem sabia que era possível assim nesses países terem grupos de teatro em língua portuguesa!”.

Para além da experiência referida por Cris Carrilho, Wesley considera que o Lusotaque tem um papel muito importante na divulgação da língua portuguesa junto dos alemães. “Quando você termina de apresentar, você vê que tem gente que tem interesse na língua portuguesa, que assiste à peça, e que entende pela imagem, pela estética. E no fim [de uma apresentação] uma menina veio ao pé de mim me dizer ‘Ah, me ensina português! Eu quero aprender português!’ e isso é muito gratificante”.

Theateraufführung Bonn - Cabo de Omar
Wesley Franklin no papel de Omar IbrahimFoto: Philipp Buron

"Cada vez somos mais conhecidos"

Um dos membros fundadores do grupo, Fabian Aquilino faz um balanço bastante positivo dos 10 anos de existência do Lusotaque e confessa que nunca esperou que o grupo chegasse até aqui. “É impressionante, na verdade, o que aconteceu durante esses 10 anos porque a língua portuguesa, em geral, não é muito conhecida. E tem público que que ver isso, e não são poucos, são muitas pessoas. E depois de 10 anos, o público é cada vez maior e tem cada vez mais cidades para onde a gente vai. Eu sou um membro fundador e não pensava que daí a 10 anos íamos continuar existindo, mas cada vez somos mais conhecidos.”

A peça estreou no final de janeiro, em Colónia, e esta é a quarta vez que os atores sobem ao palco com “Cabo de Omar”. Em Bona o sucesso não foi exceção, numa sala cheia de falantes e não falantes de português, que não deixaram de reagir aos momentos de crítica à forma como o poder esconde as verdades mais inconvenientes.

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