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Guarda Presidencial de Angola abalroa carro do diretor do "Folha 8"

António Rocha25 de setembro de 2013

William Tonet viu o seu carro ser abalroado, na noite passada, pela Unidade de Guarda Presidencial da República de Angola, em Luanda. O visado é o diretor do "Folha 8", o único diário considerado independente no país.

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Vista parcial de LuandaFoto: AP

Na noite de terça-feira (24.09), cerca das 22:50 horas em Angola, o jornalista e advogado angolano, William Tonet, que saía da Faculdade onde leciona, situada no Morro Bento, em Luanda, numa rua estreita deparou-se com uma coluna de três viaturas da Unidade de Guarda Presidencial da República de Angola (UPG) em sentido contrário.

William Tonet é diretor do "Folha 8", um dos mais antigos semanários independentes de Angola e já tem nas costas mais de 80 processos-crimes, na sua maioria movidos por pessoas próximas do poder, sobre alegadas calúnias, difamação e injúria. Contudo, o jornalista nunca cumpriu pena de cadeia por crimes jornalísticos.

Aos microfones da DW África, Tonet, que é também dirigente da Coligação Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), desvendou mais pormenores do sucedido.

DW África: O que é que na realidade aconteceu?

William Tonet (WT): Abalroaram a minha viatura na parte frontal esquerda, no lado do condutor, e depois puseram-se em fuga como se nada tivesse acontecido. Tentei, depois do susto, fazer uma perseguição para tirar satisfações, mas fui dissuadido por outros automobilistas que, por precaução, me aconselharam a não o fazer porque poderiam mesmo disparar, perante a ameaça prévia que havia sido feito na sua retirada.

William Tonet Journalist Angola
William Tonet, jornalista e advogado angolano, já foi constituído arguido em mais de 80 processos-crimeFoto: VOA

DW África - Foi um acidente ou algo mais sério?

WT: Eu não quero ainda especular. Acho que eles tinham possibilidade de consumar se fosse algo premeditado. O que é real é uma série de factos que vêm acontecendo contra a minha pessoa. Pode ser mera coincidência. O facto de ontem também pode ser mais uma mera coincidência, mas que está ligado a determinados sectores e isso naturalmente levanta sempre suspeição. Pode ser que seja um mero incidente por desrespeito às leis de trânsito do condutor ou do seu chefe de equipa.

É verdade também que não se justifica sempre que essa unidade presidencial ande em sentido contrário, mesmo quando nada o justifique e com a violência com que o fazem. Por outro lado, eu já tive também um sobrinho que morreu assim. Foi alvejado em plena luz do dia na zona do Prenda e quando lá fomos não houve consequências de nenhuma espécie.

Unfallfahrzeug von William Tonet Angola
Carro de Wiliam Tonet após incidente envolvendo a Guarda Presidencial angolanaFoto: William Tonet

Ontem aconteceu a mesma coisa. Abordámos a unidade policial mais próxima e disseram-nos que, em relação à UGP, eram incompetentes para o tratamento de qualquer ocorrência. Abordada a própria UGP, dizem que não podem confirmar porque não tinham viaturas sem matrículas, quando se sabe que as suas viaturas não têm matrículas quando andam na rua.

DW África: Vai apresentar queixa ou levar o caso mais avante?

WT: Por mais provas que nós tenhamos, como em todos os casos em que temos vindo a ser acusados, a ser impedidos de trabalhar, pesadas todas as provas e evidências, o regime mostra-se insensível quando se trata do nosso caso. Portanto, nós vamos continuar a resistir, a rezar.

Esperamos que, efetivamente, não tenha mão do senhor Presidente da República [José Eduardo dos Santos], dos serviços de inteligência ou da Procuradoria Geral da República que, de forma recorrente, têm ações inamistosas em relação à nossa independência de pensamento. Se se comprovar que houve mão deste órgãos será muito mau para o próprio regime, mas eu quero entender que qualquer ação que possamos fazer, com as instituições partidocratas que temos, redundará em nada.

Guarda Presidencial de Angola abalroa carro do diretor do "Folha 8"