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Simões Pereira e Sissoco Embaló dependem dos derrotados

António Cascais
27 de novembro de 2019

O vencedor da segunda volta das presidenciais guineenses vai depender de quem está em condições de reunir apoios de todos os candidatos derrotados na primeira volta, diz o analista político guineense Augusto Nhaga.

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Guineenses serão chamados a votar outra vez a 29 de dezembroFoto: DW/B. Darame

O analista político guineense Augusto Nhaga considera que na política tudo é possível, mas não tem dúvidas de que Umaro Sissoco Embaló poderá beneficar de algum mal estar entre o engenheiro Domigos Simões Pereria e os dois candidatos derrotados, nomeadamente José Mário Vaz e Nuno Nabiam.

Em entrevista à DW África, Augusto Nhaga diz que os dois candidatos que vão disputar a segunda volta das presidenciais conhecem os seus pontos fracos e fortes porque eram membros do PAIGC, até 2015.

O analista diz ainda que eles têm estilos políticos muito diferentes: um mais ocidentalizado e outro mais africanizado. Nhaga refere ainda que os votos na Guiné-Bissau se caracterizam-se pela crença no candidato e no partido e não tanto pela mensagem que eles difundem.

DW África: O que distingue estes dois candidatos?

Augusto Nhaga (AN):  O que distingue estes dois candidatos é que um é um candidato mais próximo do estilo ocidental e o outro é mais africano, mais acessível ao cidadão comum. Portanto, a forma de fazer política dos dois candidatos é totalmente diferente. Acho que, tendo em conta a reação do eleitor guineense, como podemos constatar na publicação de resultados, um acaba sendo candidato mais votado nos centros urbanos e outro noutras regiões do país.

Umaro Sissoco Embaló Wahlen in Guinea Bissau
Umaro Sissoco EmbalóFoto: DW/B. Darame

DW África: Umaro Sissoco usa turbante. O que quer dizer isso?

AN: Pela justificação que Umaro apresenta ao eleitor guineense é distintivo, para se poder identificar. Porque como era a primeira vez que se apresentava como candidato às presidenciais, tinha que procurar algum sinal para facilitar os eleitores limitados em termos de leitura, para que possam reparar mais facilmente na sua imagem e na sua fotografia no boletim de voto. Isso não tem nada a ver com aquilo que as pessoas estão a dizer, que ele é um fundamentalista. Longe disso, ele justifica recorrentemente que a sua esposa é da religião cristã. Portanto, nada contra nenhuma pessoa que tenha uma religião diferente da dele. Ele não é representante dos radicais islâmicos como alguns pretendem veicular, que deve estar a ostentar símbolos de radicais islâmicos. Mas o candidato Umaro Sissoco Embaló refutou isso em várias ocasiões: que não é nada disso, é apenas distintivo e até exemplificou com Kumba Ialá, que também utilizava barrete vermelho na cabeça, que era também um distintivo da cultura de um grupo étnico da Guiné-Bissau.

DW África: As acusações mútuas foram muito bem audíveis. Umaro era acusado de ser financiado por potências árabes, obscuras. Domingos Simões Pereira chegou a ser acusado de ser financiado por dinheiro da droga. Como interpreta isto? Fazem sentido essas acusações?

AN: Não. Aaho que isso tem mais a ver com a falta da lei que define o financiamento dos partidos políticos ou candidatos aos processos eleitorais. Porque o nosso país ainda não tem uma lei sobre fontes de financiamento de uma forma clara e objetiva. Entretanto, cada um mobiliza fundos e nós todos ficamos na dúvida de saber de que fontes resulta esse financiamento, porque sabemos que as empresas, as multinacionais que financiam as candidaturas têm interesse em receber contrapartidas. Agora, que contrapartidas? Ninguém sabe, mesmo falando das eleições legislativas passadas. A lei eleitoral manda que os partidos concorrentes ou candidatos têm a obrigação de submeter relatórios financeiros à CNE, mas pelo que eu sei, apenas uma formação política apresentou um relatório financeiro para justificar. E no resto dos partidos ninguém se dignou a apresentar um relatório porque há uma dificuldade de justificar a origem dos fundos. Aí logo aparecem espculações. Então, não posso confirmar que Sissoco é financiado pelos radicais islâmicos e nem confirmar que Domingos Simões Pereria recebeu dinheiro de drogas para financiar campanha. Mas o que é verdade é que são muitos os fundos que ninguém sabe explicar a sua origem e, sendo assim, dá lugar a especulações.

Guinea-Bissau Ministerpräsident Domingos Simoes Pereira
Domingos Simões PereiraFoto: picture alliance/AA/D. Aydemir

DW África: Umaro é apoiado pelo MADEM G-15 e Domingos pelo PAIGC e, no fundo, os dois eram do PAIGC. Pode explicar o caminho de Umaro Sissoco?

AN: Não só ele, quase toda a direção do MADEM-G15 são militantes expulsos em 2015, quando se iniciou a crise política que o país viveu até este momento. Acho que Umaro Sissoco conhece muito bem a base política do PAIGC, como Domingos Simões Pereira também conhece. Cada um conhece o ponto forte e fraco do adversário. Umaro está hoje a liderar a oposição na caça ao voto para Presidente da República e Domingos Simões Pereira mantém a máquina do PAIGC para o acompanhar nesse embate. Então, o percurso é interessante e sabemos que as acusações feitas na campanha eleitoral são das pessoas que conhecem bem um e outro.

Simões Pereira e Sissoco Embaló dependem dos derrotados

DW África: Agora, quem tem mais hipóteses de ganhar e de que depende essa hipótese?

AN: Quem tem hipótese de ganhar vai ser certamente aquela pessoa que estará em condições de reunir apoios de todos os outros candidatos derrotados na primeira volta sobretudo quem vai contar com apoio do engenheiro Nuno Gomes Nabiam e de José Mário Vaz. Os eleitores guineenses acreditam muito no seu candidato ou no seu partido. Os votos cá na Guiné-Bissau não oscilam como voto do outro lado que depende das circunstâncias, que depende do resultado da confrontação e apresentação de uma mensagem clara. Os nossos eleitores acreditam mesmo na orientação dessa pessoa, não sendo ele concorrente, mas dando orientação que o nosso sentido de voto é para este. Então, toda aquela massa, toda aquela base que apoiou a candidatura desse indivíduo acaba por respeitar aquela orientação.

DW África: Mas é sabido que nem Jomav nem Nabiam têm grande respeito por Domingos e provavelmente terão algum ódio. Há indícios de que esses candidatos vão apoiar Sissoco?

AN: Não podemos afirmar porque na política tudo é possível, mas pelos vistos Umaro Sissoco Embaló poderá beneficiar de algum mal estar entre o engenheiro Domingos Simões Pereira e os dois candidatos derrotados isto é, se respeitaram o resultado da primeira volta acho que em termos superficiais podemos afirmar que Umaro Sissoco Embaló tem mais condições de dialogar com essa candidatura em detrimento de Domingos Simões Pereira, até porque na política tudo é possível. Podemos pensar desta forma, mas podemos chegar a um resultado contrário em que Domingos Simões Pereira pode beneficiar do apoio de uma ou outra candidatura derrotada na primeira volta.

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