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Guineenses temem efeitos da crise no comércio de caju

Iancuba Dansó (Bissau)
12 de março de 2020

Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau receiam que a crise pós-eleitoral possa afetar a campanha do caju. União Europeia pede a atores políticos para "priorizarem o diálogo" e resolverem a crise na Guiné-Bissau.

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Foto: DW/B. Darame

O chefe da diplomacia da União Europeia apelou esta quinta-feira (12.03) às forças de defesa e segurança guineenses para não interferirem no processo político. Em comunicado, Josep Borrell defendeu ainda que os atores políticos na Guiné-Bissau devem "priorizar o diálogo e abster-se de qualquer ação unilateral que possa exacerbar ainda mais as tensões".

"As eleições presidenciais na Guiné-Bissau ocorreram em 24 de novembro e em 29 de dezembro de 2019, [mas] o processo ainda não foi concluído e todas as partes devem respeitar o quadro legal e constitucional para resolver a crise pós-eleitoral", sublinhou.

O Alto-Representante da União Europeia para a Política Externa pediu ainda que a Ecomib, a força militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estacionada no país, garanta a segurança das instituições e dos órgãos do Estado.

À revelia do Parlamento, Sissoco toma posse

Preocupações com economia

A crise política na Guiné-Bissau agravou-se depois de Umaro Sissoco Embaló ter tomado posse como Presidente, a 27 de fevereiro, enquanto decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, apresentado por Domingos Simões Pereira.

O presidente da Associação Nacional dos Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau (ANIE-GB), Mamadu Iero Jamanca, teme que a crise possa prejudicar a economia. Segundo o responsável, neste momento, com a situação política indefinida, é difícil perspetivar como será a campanha da castanha de caju, o principal produto agrícola e de exportação da Guiné-Bissau.

"Muito sinceramente, a perspetiva não é a grande coisa, porque nós vivemos das atividades económicas e, em qualquer parte do mundo, os operadores económicos devem ter o cuidado de que não se faz negócio em ambientes de incerteza, mas é o que estamos a viver na Guiné, neste momento", afirma o responsável em entrevista à DW África.

"Estamos numa situação de extrema incerteza, que poderá condicionar a campanha e comercialização e exportação da castanha de caju", acrescenta.

Mamadu Iero Jamanca, Präsident der Gesellschaft für Importe und Exporte aus Guinea-Bissau
Mamadu Iero Jamanca, presidente da ANIE-GBFoto: DW/I. Dansó

"Ambiente não é mau, é péssimo"

Todos os anos, a Guiné-Bissau arrecada cerca de duzentos milhões de dólares, fruto da exportação de caju. Mas, nos últimos anos, apesar de o Fundo Monetário Internacional ter apelado para que se faça uma campanha de comercialização e exportação de caju transparente, as constantes crises políticas acabam por ensombrar a atividade.

Os dados oficiais da exportação da castanha de caju de 2019 ainda são desconhecidos, mas estima-se que tenham sido exportadas cerca de duzentas mil toneladas do produto.

Para este ano, Mamadu Iero Jamanca diz que ainda não é possível fazer uma previsão.

"Se, até ao próximo mês, não encontrarmos soluções que tendam a apaziguar a situação e rever o ambiente de negócio que se vive neste momento, que não é mau, é péssimo, não poderemos estar em condições de perspetivar nada", diz o presidente da ANIE-GB.

Devido ao momento político na Guiné-Bissau, não foi possível à DW África registar as declarações das entidades governamentais ligadas à campanha de comercialização e exportação da castanha de caju.

Mas cidadãos ouvidos nas ruas de Bissau mostram-se preocupados com a eventual influência da crise política na comercialização e exportação do produto: "Temos familiares que dependem da campanha de comercialização da castanha de caju, mas, agora que o país está nesta crise política, é preciso acionar mecanismos para sanear a situação", apela Amadu Sidi Djaló, estudante universitário.

Outro cidadão, Ibraima Turé, alerta para o facto de o atual clima político poder desencorajar os operadores estrangeiros, que são os maiores compradores da campanha, "sobretudo os indianos".

"Se o país não estiver estável, certamente que não vamos ter aqui os empresários para comprar a castanha", conclui.

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