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Liberdade de imprensaGuiné-Bissau

Guiné-Bissau: "Há todo o interesse em instalar o medo"

10 de março de 2021

De vítima de assalto e vandalização na Rádio Capital FM, jornalista passou a suspeito de atentado ao "bom nome" de uma empresa. Sabino Santos acredita que o caso se enquadra no atual clima de intimidação aos jornalistas.

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Sabino Santos, jornalista da Rádio Capital FMFoto: Privat

Em julho de 2020, homens armados invadiram as instalações da Rádio Capital FM, em Bissau, e destruíram vários equipamentos. Na altura, o Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau apontou o dedo ao Estado e considerou o ato "um atentando à liberdade de imprensa e de expressão na Guiné-Bissau", ao livre exercício do jornalismo no país, e um "atentado à democracia".

Na época, a rádio questionou a alteração de procedimentos técnicos da empresa Eletricidade e Águas da Guiné-Bissau (EAGB), que poderão ter impedido a ativação das câmaras de vigilância durante a invasão. A EAGB reagiu - hoje o jornalista Sabino Santos está a braços com um processo por atentado ao "bom nome" da empresa. A DW África conversou com ele.

DW África: Foi constituído arguido?

Sabino Santos (SS): O magistrado disse que eu sou suspeito no processo e estava a ser ouvido na qualidade de suspeito. Agora, se fui constituído arguido, isso não sei. O que posso confirmar, e consta nos autos, é que estou sob termo de identidade e residência, o que significa que, querendo viajar por mais de cinco dias, tenho a obrigação de informar o Ministério Público (MP).

DW África: Que suspeitas recaem contra si?

Guinea Bissau Zerstörung Rádio Capital FM
Rádio Capital FM vandalizada em julho de 2020Foto: DW/D. Iancuba

SS: A EAGB disse, na nota apresentada ao MP, que eu e um colega tínhamos proferido declarações que atentavam contra o bom nome da empresa. Segundo eles, mesmo depois da responsável de marketing conceder a entrevista para nos dizer que nunca interferiram ou tiveram alguma conexão com os assaltantes da Rádio [Capital FM], nós continuámos a proferir essas declarações e, para eles, isso é um atentado contra o bom nome da empresa.

DW África: Solicitou apoio da Ordem dos Jornalistas ou do sindicato?

SS: Não solicitámos, mas tanto o Sindicato dos Jornalistas como a Ordem dos Jornalistas estiveram presentes na audição. Pelo menos, quando eu saí [de lá] vi-os. Há esta solidariedade natural, senti que não precisava de pedir apoio dessas duas organizações porque estão ao corrente do que se está a passar. É um problema ligado ao assalto da rádio. Antes de mim, um colega da administração da rádio já havia sido ouvido no âmbito da mesma participação da EAGB. Não foi preciso acompanhar a presença desses organismos porque eles acompanham o processo.

Guinea Bissau Zerstörung Rádio Capital FM
Até hoje não se conhecem os autores do crime contra a Rádio Capital FM Foto: DW/D. Iancuba

DW África: Acha que o seu caso se enquadra no aparente clima de intimidação e perseguição aos jornalistas na Guiné-Bissau?

SS: Não tenho dúvida. Evitei pronunciar-me sobre o processo porque há uma motivação. Há todo o interesse das pessoas acreditarem que instalaram o medo no país, e eles devem saber que não tenho medo, porque tenho trabalhado de forma profissional em quase tudo o que faço. Não dou ouvidos a essas afirmações aberrantes que essas pessoas fazem, de acusar jornalistas. Hoje, na Guiné-Bissau, toda a gente se sente no direito de acusar jornalistas, mesmo quem não percebe nada do setor. Eu acredito que querem instalar o medo.

DW África: Acha que a Justiça está a ser manipulada contra jornalistas?

SS: Neste momento, na Guiné-Bissau, não só o setor judicial mas quase todos os setores, são passíveis de acusações. E qualquer acusação acaba por corresponder - essa Justiça não está a funcionar, aliás, os próprios operadores de justiça o dizem. Se o Sindicato dos Magistrados e o MP o dizem, se a Ordem dos Advogados o diz, eu penso que qualquer cidadão atento também dirá o mesmo. Não podemos pensar que a Justiça é uma ilha num país completamente desestruturado. O país precisa de uma terapia de choque para poder despertar, [aí] talvez evitaremos considerar que a Justiça está a ser manipulada.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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