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Haverá mudanças em Angola com João Lourenço?

25 de agosto de 2017

Só haverá mudanças em Angola se o futuro Presidente tiver força para se impôr, defende analista ouvido pela DW, que vê em João Lourenço um possível "Mikhail Gorbachev angolano". Será possível uma maior abertura política?

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Angola Präsidentschaftswahlen Joao Lourenco
Resultados apontam João Lourenço como novo Presidente de AngolaFoto: picture-alliance/AP/B. Fonseca

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) venceu as eleições gerais com 61,70% dos votos, de acordo com a atualização dos dados provisórios divulgada esta sexta-feira (25.08) pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), elegendo João Lourenço como Presidente da República.

Ao que tudo indica, não parece haver mudanças em relação a eleições passadas. Para comentar este cenário, a DW África entrevistou o analista Eugénio Costa Almeida, investigador no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL).

Segundo o especialista, João Lourenço até poderá implementar reformas políticas importantes em Angola, seguindo um modelo semelhante à "Glasnost", medida política implantada na antiga União Soviética por Mikhail Gorbachev, a pensar numa maior abertura política. Contudo, as mudanças dependerão da força política do candidato do MPLA que, segundo o investigador, Lourenço ainda não tem. 

Eugenio Costa Almeida
Eugénio Costa AlmeidaFoto: Almeida

DW África: Há alguma diferença nestas eleições angolanas em relação ao passado?

Eugénio Costa Almeida: O problema nestas eleições, e que a oposição está a falar neste momento, é que a fraude não diz respeito à eleição em si, mas tem a ver com a votação.

DW África: A palavra que mais se ouviu na campanha foi "mudança", desde os partidos até aos eleitores. Mas o que poderá mudar em Angola?

ECA: Eu acredito que haja vontade de mudança. No entanto, o problema diz respeito ao resultado das eleições. Qual será o resultado do partido de ganhar e qual será a força desse partido e, depois, dentro do partido. Ou seja, como o Presidente vai distribuir os pelouros. Em função da distribuição dos pelouros governativos, e mesmo de outras condicionantes, é que verificaremos se haverá, ou não, mudança. Sem querer ser irónico, eu diria que mudança vai haver, porque muda-se o Presidente da República. Logo aí, há mudança. Entretanto, a questão de mudanças políticas é o que se deseja e o que se pede. O problema é se o partido terá capacidade de mudança. Além disso, saber se o Presidente eleito, em princípio João Lourenço, terá força suficiente para impor as mudanças necessárias.

DW África: Mas acredita que Lourenço tenha força política?

ECA: Neste momento, acredito que ele não tenha força política. Entretanto, penso que ele a poderá ganhar e que José Eduardo dos Santos, quem o propôs, o ajude a ter a força necessária. 

DW África: Mas basta mudar uma cara para mudar um regime?

Haverá mudanças em Angola com João Lourenço?

ECA: É preciso considerar que o Presidente eleito é João Lourenço, mas o Presidente do MPLA é José Eduardo dos Santos. Será uma situação como a de Moçambique no passado: Filipe Nyusi foi eleito, mas o líder da FRELIMO era Armando Guebuza – embora, posteriormente, o primeiro tenha conseguido impor-se. É isso o que veremos, se João Lourenço conseguirá ter força para se impor face à ortodoxia que persiste no MPLA.

DW África: E com Isabel dos Santos na presidência da Sonangol e José Filomeno dos Santos a gerir o Fundo Soberano de Angola, que influência os filhos de José Eduardo dos Santos poderão ter?

ECA: Essa pergunta coloca-se noutros termos. Será que se vão manter nas respetivas lideranças?

DW África: E qual é a expetativa para um futuro Governo de João Lourenço?

ECA: Que o mesmo possa ser um "Mikhail Gorbachev angolano", criando uma "Glasnost". Espera-se uma "glasnostização" da política angolana.

Tainã Mansani Jornalista multimédia
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