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Igreja católica denuncia: há pessoas a morrer de fome no sul de Angola

5 de outubro de 2012

Na regiao da Huíla, no sul de Angola, há quem morra de fome. A denúncia é feita pela igreja católica, que está a apelar às autoridades uma intervenção urgente, especialmente, no município dos Gambos.

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Foto: DW

Jonas Pacheco é sacerdote da Sé Catedral do Lubango e está preocupado com a crise alimentar que está a atingir a Huíla. Com cerca de 1500 habitantes, a província está a ser uma das mais afectadas pela falta de chuva no país, de acordo com a igreja católica.

Na voz do vigário da Sé Catedral da capital da região, há mesmo quem já tenha morrido de fome: “Geralmente os velhos e crianças. Tenho notícias de que algumas famílias perderam alguém por falta de alimentação. Não é uma situação que se possa calcular ainda porque, nesta região, as casas das pessoas ficam distantes umas das outras".

Segundo Jonas Pacheco, a igreja está inquieta. "A nossa preocupação, de facto, é um apelo urgente para que as autoridades possam olhar para esta situação de irmãos nossos que estão a passar mal.”, diz. 

Hungernde Kinder in Flüchlingscamp "Neue Hoffnung" in Angola
Crianças e idosos deverão ser os mais afectados pela fome na província de Huíla, diz a Igreja CatólicaFoto: AP

Fome é consequência da seca e vai ter efeitos nos mais novos

A seca, explica o sacerdote, é a principal causa da carência alimentar dos habitantes da região. “Aqui no sul de Angola, particularmente nesta região da Huíla, há quase 4 anos que não chove com regularidade. E as populações não puderam cultivar e colher o necessário para a sua subsistência, particularmente no município dos Gambos."

Também o padre Jacinto Pio, coordenador da Associação Construindo Cidadania, no município dos Gambos, admite estar muito preocupado, apesar de não confirmar a ocorrência de mortes. “Não nos constou ainda que tenha morrido alguém. Mas é uma região grande, com dificuldades de comunicação. Naturalmente, esta fome vai ter reflexos nas crianças, na nutrição, etc. Isso sim, vai ter efeitos, sem dúvida nenhuma.”

Governo conhece problema mas falta intervenção

Jacinto Pio lembra ainda que esta não é uma crise inédita, considerando que o governo deverá estar consciente da situação, “eles dominam a região e sabem que é semi-árida e que estas fomes são cíclicas", sublinha. "Não é uma fome que vem de surpresa e, com certeza, têm o domínio da situação".

Ainda assim, o padre prefere dar o benefício da dúvida às autoridades. "Agora, como se está em transição de um governo provincial para outro, depois das eleições, vamos lá  ver o que é que o novo governo vai fazer, para arrecadar recursos e poder fazer alguma coisa.”

Mas nao faltam críticas da parte do activista. Jacinto Pio, que trabalha de perto com a comunidade dos Gambos, diz que a situação actual deste município e de Chibia, os mais afectados pela fome, é algo incompreensível.

Municípios mais afectados são ricos em minerais

O padre explica que “os dois municípios são muito ricos em termos minerais e, além disso, têm o granito negro". Por isso, acredira que "de facto, o que se passa não é a ausência de recursos mas a má distribuição. No futuro, era preferível, por exemplo, que se obrigasse essas empresas a depositar alguma coisa na conta local, ao nível dos municípios, para servir para estas crises".

Hunger in Angola: Menschen warten auf Essen
Sé Catedral do Lubango está a promover recolha de arroz, massa e óleo para apoiar os mais afectados.Foto: AP

Jacinto Pio conclui: "não se compreende uma região onde existe tanta rocha ornamental estar sem dinheiro para enfrentar uma crise destas. É um escândalo.”

Enquanto o governo não intervém para combater o problema da fome na província do Huíla, os dois padres já puseram as mãos ao trabalho. Jonas Pacheco está a organizar uma recolha de alimentos para ajudar as famílias mais carenciadas, enquanto que a associação de Jacinto Pio está a apoiar as comunidades a conhecerem os seus direitos para defenderem as suas terras daquilo que chamam o “assalto das elites”.

Autora: Maria João Pinto
Edição: Helena Ferro de Gouveia