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Crise angolana afeta alunos e professores

Anselmo Vieira, Lubango28 de janeiro de 2016

Com o início do ano letivo esta sexta-feira, 29 de janeiro, os pais e encarregados de educação queixam-se de vários problemas que as crianças terão de enfrentar, nomeadamente a carência de material escolar.

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Foto: picture-alliance/dpa

Sobretudo na província da Huíla, no sul de Angola, estima-se que 2016 será um ano difícil para os agentes e utentes do ensino angolano: com a continuada baixa do preço do petróleo, a principal fonte de rendimento do país, a crise chegou “em cheio” ao setor da educação.

Os pais e encarregados de educação queixam-se da cada vez mais visível carência de material escolar. As autoridades, na província da Huíla, contam com mais de oitenta escolas fechadas, por falta de professores, e um crescente número de crianças fora do sistema normal de ensino.

Livros escolares no mercado paralelo

A venda de alguns de materiais escolares - como manuais de caligrafia, livros de Matemática ou Língua Portuguesa - é proibida pelo Ministério da Educação, que alega que a distribuição desse material é "tarefa do Estado" e que, segundo a constituição, "o ensino primário é gratuito".

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O encarregado de educação na província da Huíla, Fernando Paciência José, está estupefacto com a venda do material no mercado informal, onde um livro de língua portuguesa, por exemplo da 6ª classe do ensino primário, custa o equivalente a 12 euros: "Está mais caro: era trezentos kwanzas, agora estamos a comprar a mil e novecentos kwanzas", conta Fernando Paciência José ao repórter da DW África.

Demonstration der SINPROF in Lubango, Angola
Manifestação do sindicato dos professores, SINPROF, na cidade do Lubango, em 2013Foto: DW/A. Vieria

Milhares de crianças fora o ensino primário "obrigatório"

Albano Cawele, também encarregado de educação, prevê um ano letivo difícil para alunos e professores: desde a aquisição de material escolar à carência de docentes. Cawele aponta, como consequência, um número elevado de crianças que poderão ficar fora do sistema normal de ensino, pelo menos durante este ano letivo. "Na Huíla fala-se num défice de três mil professores. Eu acredito que esse número seja mais elevado", conta Cawele.

Entretanto, o Presidente do Sindicato Nacional de Professores de Angola SINPROF, Guilherme Silva, exige “mais dignidade para o setor”, de modo a melhorar de forma substancial a qualidade do ensino: "Nós temos bons professores só que há professores que galgam quilómetros, gastando o seu salário pagando táxis e no fim do més não têm quase nada, sobretudo os professores do ensino primário", salienta o sindicalista.

Faltam quase 4mil professores na província da Huíla

As autoridades da educação da Huíla falam num déficit de 3.995 professores e, como consequência, contam com 108mil crianças fora do sistema normal de ensino. O Sindicato Nacional de Professores, por sua vez, em conjunto com os pais e encarregados de educação, falam em números mais elevados.

Américo Chicoty Bildungspolitik Angola
Américo Chicoty, Director provincial da Educação da Huíla, admite que foram encerradas 80 escolasFoto: DW/A. Vieira

Segundo o Director provincial da Educação, Ciência e Tecnologia da Huíla, Américo Chicoty, a situação que se vive no sector da educação é também o resultado da ausência de concursos públicos para colocação de novos professores, tendo o último ocorrido em 2012.

Américo Chicoty lembra que, na zona leste da província da Huila, dezoito escolas encerraram no ano de 2015 por falta de professores: "Enquanto não houver admissão de professores a situação vai prevalecer."

Schulunterricht in Cabinda, Angola
O governo angolano não consegue dar ensino primário a todas as crianças. Foto: escola em CabindaFoto: Nelson Sul D'Angola