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Instabilidade ameaça livraria histórica do Cairo

Bertolaso-Krippahl, Cristina30 de agosto de 2013

Dono da famosa Lehnert & Landrock, no Cairo, deixou o Egito devido à instabilidade que se vive no país. Agora, a capital egípcia pode perder este marco cultural.

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A violência no Cairo é endémica. O número de mortos cresce diariamente. Edouard Lambelet abandonou a sua cidade natal antes da nova vaga de distúrbios sangrentos. O dono da famosa livraria alemã da capital egípcia, a Lehnert & Landrock, foi viver com a filha nos Estados Unidos da América. Não se tratou de uma fuga, o livreiro de 76 anos há muito planeara a mudança. Mas, com a sua partida, está ameaçada a existência de uma instituição no Cairo.

A livraria Lehnert e Landrock no Cairo existe há quase cem anos. É a primeira na cidade para quem procura literatura internacional, e geralmente é conhecida por "livraria alemã". Apesar de o seu dono ser um suíço. Edouard Lambelet passou a infância e juventude neste país, onde foi doutorado em Geologia. Mas nasceu no Cairo e em 1979 juntou-se ao pai, Kurt Lambelet, na livraria fundada por dois alemães em 1924. Kurt Lambelet era o enteado de um deles e herdou a livraria durante a Segunda Guerra Mundial.

Irmandade agravou a situação, diz dono da livraria

A livraria sobreviveu a todas as vicissitudes, mas a situação deteriorou quando a Irmandade Muçulmana assumiu o poder após a revolução. Lambelet queixa-se de que durante o ano em que governou a irmandade, o desemprego subiu em flecha e os país perdeu as suas reservas de divisas. Para avançar na vida não era preciso conhecimentos de nada, apenas pertencer à irmandade.

"Na política não há gente íntegra, em lado nenhum do mundo. Mas há gente capaz e inteligente", considera. "No Egito só há pessoas capazes no exército. Vimos como destituíram Morsi, quando muitos milhões de pessoas foram para a rua exigir a sua demissão", diz Lambelet.

Quase não há clientes na sua livraria cairota. Para comerciantes como Lambelet, os últimos meses foram uma catástrofe. A situação tensa impede a vinda de turistas. Recentemente, o governo alemão lançou uma advertência contra viagens ao Egito. Mas também os cairotas evitam a livraria. Ao que parece, estes tempos não são de leitura.

Faltam clientes e salários para os funcionários

"O país atravessou muitas guerras e revoluções, todas com a duração de um mês. Mas esta é a primeira vez em que vemos uma paralisia do movimento há dois anos", conta Lambelet, revelando que "há dias em que não entra um único cliente na livraria. As pessoas têm medo de vir ao centro da cidade, onde estamos localizados".

Lambelet lamenta a situação e lembra que antigamente o Egito era considerado um dos países mais seguros do mundo. Mas durante a revolução há dois anos, acrescenta, o Governo do ex-ditador Hosni Mubaral libertou mais de 20 mil criminosos das prisões, que contribuíram muito para a insegurança atual. O livreiro refere que, por duas vezes, a sua mulher já foi assaltada em pleno dia nas ruas do Cairo.

O homem que viveu três quartos da sua vida no Egito e que louva a hospitalidade e generosidade dos egípcios, diz que está considerar seriamente encerrar a livraria ou trespassá-la aos seus empregados. "Temos que pensar no futuro, tal como todos os egípcios", começa por justificar. "Tenho cerca de 15 empregados. Pela primeira vez, receberam apenas metade do salário. Mais não tenho na caixa. Se insistirem em receber mais, terei que fechar. E aí ficarão sem nada".

Uma das tradições da livraria prevê que os empregados recebam apenas um pequeno salário base e comissões sobre as vendas. Mas, se não há vendas, também não há comissão. Lambelet concede que os seus empregados têm dificuldades em subsistir. Mas também não sabe qual é a solução.