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Pemba está a mudar com a chegada dos deslocados internos

Nádia Issufo
14 de julho de 2020

Graças às famílias de Pemba, muitos deslocados de guerra têm um teto onde morar. A cidade está mais povoada e nota-se muita gente sem ocupação. "Só não se percebe mais por causa do estado de emergência", afirma bispo.

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(Fotografia de arquivo)Foto: DW/E. Silvestre

O recrudescimento dos ataques armados no norte de Moçambique está a obrigar as populações a buscarem refúgio em regiões que ainda vivem em paz.

Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, tem sido o porto seguro para muitas famílias, que chegam desprovidas de meios de sobrevivência. Aqui encontram algum alívio graças ao apoio de famílias de boa vontade e ONG. Conversámos com o bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, sobre o acolhimento dos deslocados.

Mosambik Pemba Dom Luiz Fernando Lisboa
Bispo de Pemba, dom Luiz Fernando LisboaFoto: DW/D. Anacleto

DW África: Como está a ser o acolhimento dos deslocados internos na cidade de Pemba?

Luiz Fernando Lisboa (LFL): Neste momento já se fala em mais de 250 mil deslocados internos. Toda a província de Cabo Delgado - nos distritos onde não há conflitos armados, seja da região sul ou centro e também a região aqui de Pemba e região vizinha - está cheia de deslocados. Desde o início do ano, dos ataques às grandes vilas, a cidade de Pemba tem recebido muitos deslocados. Quase todas as famílias de Pemba, mais de metade das famílias de Pemba, estão a acolher uma, duas ou três famílias [deslocadas]. As famílias de Pemba têm demonstrado uma grande abertura de coração abrindo as suas casas, a sua vida privada, para receber pessoas que precisam de apoio nesse momento.

DW África: Já se nota alguma alteração no tecido social de Pemba com a chegada dos deslocados?

LFL: Com certeza, é fácil notar isso. Nos bairros vemos muita gente, então se percebe muito bem. Só não se percebe mais por causa do estado de emergência: muitas instituições não estão a funcionar, as igrejas não estão a funcionar, nem as escolas. Mas, se houver um regresso à escola, isso vai-se perceber muito claramente nas escolas, porque há um numero de crianças e jovens que estão cá na cidade e que devem ser acolhidos pelas escolas, não se vai poder fechar as escolas para ninguém. Então, isso vai-se demonstrar muito claramente no regresso às aulas. E é claro, o número de pessoas que anda pela cidade que não tem ocupação, que não tem emprego, isso já se nota tranquilamente, tanto nos bairros como na cidade. 

DW África: As autoridades lançaram recentemente um projeto para promover a paz em Cabo Delgado, com o apoio do Japão e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Visa promover, entre outras coisas, mecanismos de prevenção de conflitos e o fortalecimento das instituições. O que espera desse projeto se considerarmos o intensificar da insurgência aí?

LFL: Qualquer projeto que vise a promoção da paz, de mecanismos que visem a prevenção de conflitos e fortalecimentos das instituições, é muito bem-vindo. Tomara que esse projeto do Japão e do PNUD dê muito certo e ajude muitas pessoas. Nós precisamos ainda de outros projetos que visem cuidar do número de pessoas que é absurdamente grande e que precisam de ser ajudadas nesse momento. O mais importante é a comida. Mas não é só comida, há muitos tipos de ajuda que essas pessoas precisam. Então, esses projetos, quando são bem desenhados, quando são colocados a sério na prática, são bem-vindos e ajudam. O nosso povo tem precisado muito dessa ajuda e, se nós estamos juntos do Governo para ajudar essa gente, isso é muito importante.

Deslocados em Cabo Delgado pedem apoio