1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Investigadores moçambicanos elaboram Mapa de Risco Climático

16 de fevereiro de 2021

Idealizador diz que mapa amplia capacidade de resposta a eventos climáticos extremos e defende aposta em diplomacia ambiental: "Moçambique é um dos países mais vulneráveis, mas com menos voz no debate climático mundial".

https://p.dw.com/p/3pQlU
Mosamik Beira Zyklon Eloise
Foto: AP Photo/picture alliance

Um grupo de pesquisadores moçambicanos está a desenvolver o Mapa de Risco Climático de Moçambique. O projeto começa pelas cidades da Beira e Maputo mas pretende estudar mais urbes vulneráveis a desastres naturais.

O geógrafo José Langa é um dos rostos do projeto, que deverá estar concluído em junho. Langa diz que o país, sendo um dos mais afetados pelas mudanças climáticas, deve começar a apostar seriamente na diplomacia ambiental junto das Nações Unidas. 

DW África: O que viria acrescentar um mapa de risco climático em Moçambique?

José Langa (JL): A ideia é fazer um instrumento para tomada de decisão. É preciso que nós elaboremos um mapa usando conhecimento local, envolver as comunidades [para que], a partir desse instrumento, elas possam tomar uma decisão quando estiverem em situação de vulnerabilidade.

DW África: Acha que, neste momento, não há recursos suficientes para previsão de catástrofes no país?

Afrika  José Langa, Geographer- Climate Risk Map Project
José Langa defende também um foco na diplomacia ambientalFoto: privat

JL: Não basta somente que nós tenhamos previsões quase assertivas. É preciso que essas informações gerem conhecimento e acima de tudo autonomia nas comunidades. O problema não é a priori a questão de falta de recursos, mas é preciso que essa previsão seja recebida e principalmente que as pessoas usem essas informações para tomarem decisões.

DW África: O que tem estado a falhar para que as comunidades estejam envolvidas neste processo de prevenção dos efeitos dramáticos das catástrofes?

JL: A primeira, a educação, sob o ponto de vista de experiência e vivência das comunidades. Temos de levar esse conhecimento para as escolas, fazer essas temáticas importantes para o processo de formação.

O segundo ponto, a nossa capacidade de resposta a essas situações é um problema. Nós temos hoje situações de pessoas que ainda estão expostas à vulnerabilidade depois do Idai. Essas mesmas pessoas passaram agora pelo Chalane e pelo Eloise. Temos um problema sério de capacidade de resposta e é aqui que acredito que faz sentido a metodologia que nós estamos a tentar criar para pensar as mudanças climáticas. Para que as crianças que hoje estão na escola cresçam com conhecimento e tomem decisões que as vão tirar de uma situação de vulnerabilidade ambiental.

Em terceiro, a tecnologia: precisamos investir mais em tecnologias ambientais. Tanto de previsão de risco como também para pensar instrumentos para tomar as decisões. Nós hoje temos a internet e toda a gente tem um telefone. Por que não pensarmos em sistemas de autonomia que nos dão liberdade para decidir perante os eventos?

Mosambik Zyklon Kenneth
Moçambique tem estado na rota de ciclones como o Idai, Chalane ou Eloise Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

DW África: O que é que Moçambique tem de fazer para que os impactos dos eventos climáticos não sejam muito dramáticos?

JL: Se nós tivéssemos capacidade de resposta, se tivéssemos como, a partir de um sinal de alerta de enchente, evacuar as pessoas do local e dar uma acomodação segura, garantir que depois desse evento as pessoas não voltassem para aquela zona de vulnerabilidade, nós íamos começar a reduzir o risco. Mas o grande problema das mudanças climáticas acaba por passar por um debate sobre diplomacia climática. Moçambique, apesar de ser um dos países mais dispostos à vulnerabilidade ambiental, é o país que menos participa do debate climático mundial.

DW África: Moçambique está a conseguir ter essa proatividade e encontrar o seu espaço neste debate climático?

JL: Era necessário, por exemplo, no próximo evento que vamos ter sobre o clima, garantir-se espaço para os países com mais vulnerabilidade apresentarem aquilo que é a sua visão sobre mudanças climáticas. Nós não temos espaço e voz. Isso acontece pela lógica capitalista de que quem decide nos eventos internacionais é quem produz mais, é quem tem espaço. A lógica das Nações Unidas é isso. Há países que têm mais poder do que outros e é preciso pensar a questão da inclusão das questões climáticas nos países menos desenvolvidos. Apesar de não sermos quem provoca somos os mais afetados.

Ciclone deixa mais de 8 mil deslocados em Moçambique