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Investimento chinês no Quénia reativa Rota da Seda

Christopher V. Unger | nm
22 de março de 2018

O Governo chinês está a investir em infraestruturas, mas espera um retorno financeiro em África. O Quénia já utiliza a nova linha ferroviária, parte da Nova Rota da Seda, o novo megaprojeto chinês de transporte.

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9838 Seidenstraße 2.0 - Chinas Weg zur Weltspitze
Rota da Seda: um megaprojeto chinês Foto: Arte France/Megane

A China está a investir em massa na expansão de uma nova Rota da Seda - rotas de transporte que passam pela Ásia em direção à Europa e a África. No dia 16 de março, Pequim anunciou a criação de uma agência encarregada de supervisionar a ajuda que o país presta além-fronteiras, para garantir que o apoio financeiro cumpra os objetivos diplomáticos da China.

Foi um dia histórico o dia em que o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, inaugurou a nova linha ferroviária que liga o porto de Mombaça à capital, Nairobi, em maio de 2017. "Hoje celebramos a colocação da primeira pedra para a transformação do Quénia num país industrializado e próspero", declarou na altura. E fez também questão de agradecer o Presidente Xi Jinping e ao povo da China por terem possibilitado a construção da nova linha ferroviária, por onde circulam agora comboios modernos de mercadorias em um trajeto que dura quatro horas e meia. Os comboios nem se comparam aos camiões em mau estado que transportavam as mercadorias anteriormente.

China Seidenstraßen-Gipfel Silk Road and Golden Bridge
Em Pequim, a ponte dourada simboliza a glória da Rota da Seda Foto: picture-alliance/Photoshot/Z. Huansong

A linha ferroviária, orçada em mais de 3 mil milhões de dólares, foi construída e financiada pela China. É uma pequena parte dos milhares de milhões investidos por Pequim em África nos últimos anos. Só em 2016 foram mais de 36 mil milhões de dólares. Mais do que a União Europeia e os Estados Unidos em conjunto, segundo a economista Dambisa Moyo. "A China é atualmente o país que mais investe em África", afirma.

E as formas de investimento são muito variadas, pois a China concentra-se, antes de tudo, na construção de infraestruturas: linhas férreas, portos e estradas. "Claro que há empresas ocidentais a atuar na região, mas há uma grande diferença entre o que as empresas ocidentais fazem aqui e o que a China está a fazer agora", explica. Moyo.

De olho no mercado

O encurtamento de trajetos, como aconteceu em Nairobi, está integrado na Nova Rota da Seda, um megaprojeto chinês lançado em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping. A iniciativa prevê a construção de uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre, para reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Nos próximos 15 anos, mais de mil milhões de pessoas viverão em Nairobi, todos potenciais consumidores de produtos chineses. Por isso, Pequim dedica-se à construção em tempo recorde de novas rotas de transporte na região, que atendam o mercado africano em expansão.

Investimento chinês no Quénia reativa Rota da Seda

Os investidores chineses querem ganhar espaço exclusivo no cenário económico africano. "Eles querem fazer parte disso. Por outro lado, querem manter todos os outros fora. Este é um jogo geopolítico", explica Ganesh Rasagam do Banco Mundial.  Preocupações humanitárias também não fazem parte da agenda dos investidores chineses. "O costume é dizerem: 'só nos interessam os negócios, não fazemos perguntas sobre corrupção ou direitos humanos", afirma Rasagam

Lucro: o único interesse

Isso torna os investidores chineses atrativos aos olhos de muitos países, que aceitam de bom grado a ajuda e os empréstimos milionários. No entanto, isso pode acarretar riscos, alerta o economista Ali Khan Satchu. "A China posiciona-se no centro de uma nova era na infraestrutura global. Os chefes de Estado africanos acreditam muitas vezes que a China é uma espécie de Pai Natal, o que não é verdade. A China quer lucrar com os seus investimentos", esclarece.

Isso pode significar que Pequim queira transportar os produtos chineses pelo Quénia até ao interior do continente através das novas linhas férreas e que matérias-primas retornem pelo mesmo caminho. Além disso, pode haver a expetativa por parte dos chineses de que os comboios e vagões utilizados pelo Quénia sejam comprados na China.

Até o momento, os quenianos estão satisfeitos, porque as estradas melhoraram e há uma nova linha férrea. "Eu acho bom. Temos menos engarrafamentos, as estradas estão em melhores condições e temos menos acidentes", relata um cidadão.

Em África, ninguém se surpreende que investidores estrangeiros estejam apenas atrás do próprio lucro. Não foi só o Quénia a abrir as portas à China. Desde o fim da guerra civil, em 2002, Angola, por exemplo, recebeu mais de 11 mil milhões de euros em empréstimos e doações de Pequim, o que torna a China num dos países que mais financiou a reconstrução de Angola.