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Julgamento dos jovens ndetidos agendado para 16 de novembro

Manuel Luamba (Luanda) / LUSA19 de outubro de 2015

Os 15 jovens angolanos detidos desde 20 de junho, transferidos no domingo (18.10)para Hospital Prisão de São Paulo (Luanda), vão ser julgados a 16 de novembro. Familiares estão desolados com a situação.

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Foto: DW/N. Sul de Angola

Acusados de preparação de uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos e o seu Governo, os 15 jovens detidos foram transferidos para Hospital Prisão de São Paulo e serão julgados no Tribunal Provincial de Luanda a partir de 16 de novembro.

Para além dos detidos, serão igualmente julgadas outras duas ativistas, nomeadamente, Rosa Conde e Laurinda Gouveia, arroladas no mesmo processo conhecido como “Golpe de Estado”.

Os advogados já foram notificados e deram a conhecer a data do julgamento aos familiares que se mostraram desolados com a situação. Nem os advogados de defesa nem os familiares aceitaram reagir à decisão.

Julgamento vai dissipar todas dúvidas

Salvador Freire presidente da associação cívica Mãos Livres considerou oportuno o julgamento mas lembrou que a detenção dos jovens ativistas é ilegal.

“Os jovens ainda são inocentes porque ainda não foram julgados. Evidentemente estão a cumprir uma prisão ilegal. Apesar de serem acusados de vários crimes continuam a ser inocentes”.

Freire entende que o julgamento vai dissipar todas as dúvidas sobre o processo. Embora duvidar do sistema judicial angolano, espera contudo que a justiça seja feita.“É importante que se realize o julgamento o mais rapidamente possível. No nosso país, há uma burocracia tão grande, que leva as pessoas a não acreditarem no sistema de justiça. O julgamento vai dissipar todas as dúvidas que pairam em relação aos jovens. A sociedade está à espera e vamos aguardar que se faça justiça, de facto”, concluiu Salvador Freire.

Angola Associação Mãos Livres in Luanda
Associação angolana "Mãos Livres"Foto: DW/P.B. Ndomba

Ativistas torturados nas celas

Mbanza Hanza e Albano Bingobingo foram torturados nas celas onde se encontravam detidos. Raúl Mandela, um dos ativistas cívicos que este domingo (18.10) visitou os detidos disse que são visíveis os sinais de tortura nos corpos dos dois jovens.

“Eles estavam a protestar um direito plasmado na Constituição. Os serviços prisionais queriam juntar-lhes aos presos altamente perigosos e eles protestaram. O Director da CCL (Comarca Central de Luanda) mandou espanca-los. São visíveis as cicatrizes. Esta gente não tem princípios democráticos, não respeita a Constituição”, sublinhou Raúl Mandela.

"Luaty está abatido mas continua consciente"
Entretanto, o estado de saúde de Luaty Beirão em greve de fome há quase um mês continua a inspirar cuidados segundo a sua sogra Patrocínia Guerreira, que como afirmou à DW África "entrego tudo nas mãos de Deus” para em seguida acrescentar que “dia após dia, o Luaty está mais abatido, os olhos mais fundos, mais magro, mas continua consciente. Fala pouco mas bem, a aparência está muito desgastada. Já estamos no vigésimo nono dia em greve de fome, começa a ser cada dia desgastante para nós os familiares. Vamos só orar, rezar para que Deus alimente o seu espírito porque de outra forma não tem como”.

Luaty Beirão Rapper aus Angola
Luaty Beirão, vinte e nove dias em greve de fomeFoto: Luaty Beirão

Na última sexta-feira (16) Luaty Beirão, recebeu a visita do Padre Pio Wacussanga. O Padre Pio, conversou com o ativista naquilo que denominou de "cinco minutos de conversa” em que o regresso ao passado dominou o encontro. Wacussanga exige a libertação dos 15.

A mensagem foi mais de conforto para ele e para todo grupo. O Luaty, quando começou a crise da seca e da fome, visitou-nos nos Gambos e esteve com as crianças. Então, a nossa conversa girou em torno deste lindo episodio que ele protagonizou e da sua coragem. Eu enquato sacerdote e cidadão quero vê-los fora”.

Prossegue onda de solidariedade

O músico de intervenção português Luís Cília escreveu uma carta de apoio aos 15 jovens angolanos detidos, e afirmou ser "pouco credível" que "possam fomentar qualquer 'golpe de Estado'". "Só se for um golpe de Estado das mentalidades e isso é imprescindível em qualquer país que se orgulhe do seu passado de luta contra o colonialismo", afirma Luís Cília na carta que é subscrita também pelos músicos Sérgio Godinho e Manuel Freire.

Julgamento dos jovens ativistas detidos agendado para 16 de novembro

Em declarações à agência Lusa, Luís Cília sublinhou que esta carta é "um grão de areia na indignação geral" sobre a detenção de 15 jovens, entre os quais o luso-angolano Henrique Luaty Beirão, formalmente acusados pelo Ministério Público angolano de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano.

"É uma situação um bocado absurda resolver acusá-los de um golpe de Estado. Um golpe de Estado é feito com armas e canhões, com um exército. Onde está ele? Só se for um exército de ideias, e, como sabe, esse é altamente perigoso", afirmou.

Luís Cília, nascido no Huambo em 1943, passou a adolescência em Angola e fez os estudos em Lisboa, até que nos anos 1960 se exilou em Paris. Foi aí que gravou, à guitarra, o disco "Portugal-Angola Chants de Lutte", no qual denuncia sem censuras a guerra colonial e a criticar abertamente o envio de tropas para África.

Em 1973 gravou, também em França, "Contra a ideia de violência a violência da ideia", que, segundo o próprio, sintetiza o que pensa sobre o que se passa agora.
"Tenho ainda um enorme carinho por Angola, não conheço estes jovens que estão presos e sei que os meus amigos angolanos se vão zangar comigo, mas é um caso de consciência", disse.

Na carta divulgada, Luís Cília sublinha: "Seja em que forma musical ou ritmo se exprime a rebeldia dos jovens deve ser sempre ouvida pelos 'mais velhos'. Mesmo se, em certos momentos essa rebeldia não é compreendida. O diálogo, senhores!".Além de Luís Cília, Sérgio Godinho e Manuel Freire, outros músicos portugueses e angolanos manifestaram anteriormente solidariedade com os 15 detidos em Angola, através das redes sociais e das vigílias já realizadas em Lisboa. Entre eles estão, por exemplo, Batida, Pedro Abrunhosa, Capicua, Aline Frazão, Kalaf Epalanga, Mayra Andrade, Boss AC, Paulo Furtado, David Santos e Rita Redshoes.

Angola Luanda Gefängnis Luaty Beirao
Foto: DW/J. Carlos