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Lojas africanas em Portugal também estão a sofrer efeitos da crise

João Carlos (Lisboa)22 de abril de 2014

A chegada de milhares de emigrantes antes de 2007 reavivou o comércio lisboeta. Porém a crise e a concorrência asiática obrigam agora dezenas de lojistas a fechar portas ou a reinventar estratégias para captar clientes.

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Foto: João Carlos

Lisboa é uma cidade cosmopolita, onde se cruzam pessoas de várias origens, culturas e interesses e por isso a urbe continua a ser um pólo atraente para negócios e comércio local.

Nos anos que antecederam o início da crise económica de 2007, surgiram lojas, mercearias e salões de beleza em zonas estratégicas de Lisboa, frequentadas por clientes africanos. No Cais do Sodré, à beira do rio Tejo, nasceu há cerca de 30 anos a mais antiga loja que começou a comercializar produtos alimentares diversos de origem africana.

Portugal Afrikanisches Haarschnitt in Lissabon
Soulemane Darame trabalha numa loja de produtos africanos numa zona de Lisboa procurada sobretudo por guineensesFoto: João Carlos

"Temos vários produtos, vêm de Angola, Guiné, São Tomé, Cabo Verde… Temos mandioca, vários feijões para a cachupa", nomeia José Carlos, que trabalha há quase 15 anos numa das duas casas que ainda continuam abertas nesta área da cidade, servida por vários meios de transporte público.

"Temos atualmente africanos que vêm aqui comprar coisas para levar para outros países, como Alemanha, para venderem lá", acrescenta.

A clientela de José Carlos é, na maioria, africana. Habitualmente, Inês Santos, de Angola, costuma ir até ao Cais do Sodré comprar produtos da sua terra natal para matar saudades.

"Eu estou cá desde 1975 e já há anos que venho aqui. Compro quiabos, óleo de palma, fuba de milho, peixe seco", enumera a cliente.

Fechar portas

Perto do Rossio, no Largo São Domingos, ainda funciona a casa de Soulemane Darame, que apresenta à porta cartazes de campanha com o rosto de alguns dos candidatos às eleições-gerais na Guiné-Bissau.

"É um sítio por onde passam muitos africanos, particularmente guineesenses, e é interessante ter um negócio africano nesta zona", explica.

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No centro de Lisboa, algumas lojas do género, e não só, fecharam portas. A crise e os negócios ilícitos atingiram grande parte das lojas de comerciantes africanos que antes inundavam o velho Centro Comercial da Mouraria, situado na Praça Martim Moniz.

O centro passou a ser dominado por comerciantes asiáticos, restando apenas uma angolana que vende produtos de beleza feminina. A administradora do Centro Comercial da Mouraria, Emília Bragança, conta que atualmente o local funciona como um armazém.

"Este centro é bastante visitado por africanos que vêm aqui abastecer-se. As lojas que funcionavam aqui acabaram", adianta.

Atrair clientes

Na Praça Martim Moniz, os negócios recentes surgiram com ar inovador para atrair clientela.

"Já tinha perspetiva de abrir um salão. Abri este espaço, que é um salão jovem, estamos a captar novos clientes, mas as coisas estão um bocado difíceis", lamenta o são-tomente Waldir Santos, proprietário de um salão de cabeleireiro.

Portugal Afrikanisches Haarschnitt in Lissabon
A aposta na modernização dos salões de cabeleireiro pretende ser uma mais-valia para atrair clientes jovensFoto: João Carlos

O vizinho e conterrâneo Osvaldo Gomes era um dos antigos inquilinos do Centro Comercial da Mouraria. Para ele, com a saída dos imigrantes africanos por causa da crise em Portugal, o seu salão foi perdendo os clientes habituais.

"Tem a ver com a crise, que é mundial, não é só em Portugal. Então, as pessoas têm emigrado mais, mas temos de enfrentar esse problema", adverte.

Na maioria dos casos, estes africanos enfrentam várias adversidades, como o valor alto das rendas, mas vão resistindo com a esperança de que a crise seja passageira.