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Cultura

Música clássica no combate à exclusão social em Portugal

16 de setembro de 2017

Instituições alemãs ajudam projeto social que reúne jovens de bairros carenciados de Lisboa. Muitos dos beneficiados são de origem africana.

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Orquestra Geração reúne jovens de bairros carenciados de LisboaFoto: Orquestra Geração/D. Tinoco

Em Lisboa, jovens integrantes do projeto social multicultural Orquestra Geração serão beneficiados com uma ajuda de 12 mil. A inciativa é do Instituto Goethe, em parceria com outras a Associação Bartolomeu dos Alemães em Lisboa e a Embaixada Alemã em Portugal, que até este sábado promovem na capital portuguesa a oitava edição do Festival Cantabile – evento de música clássica.

Inspirados no sucesso do festival em 2016, estas três instituições concluíram que a música erudita pode ajudar a combater a exclusão social. Decidiram por isso apoiar a Orquestra Geração, um projeto pedagógico multicultural que ajuda, através da música, a inclusão de mais de mil jovens, muitos deles oriundos de famílias carenciadas de bairros dos arredores de Lisboa considerados problemáticos. A verba destina-se à compra de instrumentos diversos destinados à formação musical de jovens desfavorecidos.

Juvânia Gomes faz parte da Orquestra Geração. A jovem portuguesa, de 16 anos de idade, aluna do 11º ano, é filha de pais angolanos. Ela toca violino na orquestra de Loures e canta num grupo de jazz. Sempre gostou de música.

"Sempre quis ter uma ligação com a música. Entretanto, um dia chega a minha irmã em casa com um instrumento gigantesco, isto em 2010. Fiquei fascinada e perguntei-lhe o que é isto? Ela disse que surgiu um projeto de música na escola dela, em orquestra, e ela entrou. E eu disse que também queria entrar. Então, no ano seguinte entrei", relata.

Portugal Lissabon Jugendorchester unterstützt vom Goethe-Institut
Juvânia Gomes, de 16 anos, quer seguir no mundo da música como cantora ou violinistaFoto: DW/João Carlos

O gosto pelo violino surgiu graças ao apoio de um professor. "Inicialmente ia tocar viola, pois ela tocava violoncelo. Então, assim íamos ter instrumentos parecidos, com as peças parecidas, que eu na altura pensava que iam ser parecidas. Mas, entretanto, cheguei à minha primeira aula e o meu professor disse-me: 'eu acho que é melhor tu tocares violino porque tens uma postura e dedos para tal'. Então, foi assim que eu comecei a tocar violino e apaixonei-me logo pelo instrumento".

A música clássica como estilo de vida

A jovem, que vive no bairro da Quinta do Mocho, em Sacavém (concelho de Loures), diz que a música clássica influenciou o seu modo de vida. "Mudou a minha forma de pensar que a música clássica não é só para as pessoas que têm possibilidades. Não é só para quem tem um nível de vida superior, pois todos nós podemos gostar de coisas diferentes independentemente do nosso nível de estabilidade financeira. A música clássica revela isso em mim”.

Juvânia Gomes também admite que a música clássica pode contribuir para combater a exclusão social de africanos negros na sociedade portuguesa. "É raro ver um negro ou pessoas de raça africana numa orquestra. Eu acho que a música clássica vem também combater isso", refere. "A Orquestra Geração possibilita-nos fazer parte do mundo da música clássica", afirma sorridente.

Sente-se orgulhosa por isso. Porque também constitui uma referência para outros jovens do bairro e uma das promessas da Orquestra Geração, dirigida por António Wagner Diniz, descendente de alemães.

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Diniz: "projeto é uma oportunidade para os jovens carenciados"Foto: DW/João Carlos

Doações beneficiam projeto com instrumentos

O projeto, de caráter pedagógico e que abrange jovens portugueses de várias origens, receberá este ano a doação das três instituições alemãs, de mais de 12 mil euros, destinados a comprar 37 instrumentos para a orquestra. São 15 violinos, nove violas de arco, 10 violoncelos e três contrabaixos, destinados a mais três escolas.

"Sendo uma oferta de tantos instrumentos, vai nos permitir alargar a nossa ação a mais escolas. Portanto, a nossa ação tem sido uma ação direcionada para os bairros periféricos de Lisboa mais porque nesses bairros, devido à sua caraterística ou ao seu tecido social, não há uma oferta de ensino artístico", explica o professor.

Portugal Lissabon Jugendorchester unterstützt vom Goethe-Institut
Ostermann: "investir em música é combater a exclusão social"Foto: DW/João Carlos

Muitos dos jovens, atraídos para a orquestra, são de bairros considerados problemáticos, adianta o também professor e adjunto da direção do Conservatório Nacional em Lisboa.

"Estamos a falar em territórios muito difíceis. São territórios em que há droga, tráfico de armas, pequeno crime. E, portanto, são zonas em que, por exemplo, os tempos livres têm que ser ocupados para, evidentemente, fazer com que as crianças não caiam nesse tipo de atividades. Aí temos tido sucesso no combate ao abandono escolar. Temos tido sucesso até no aumento do rendimento escolar dos miúdos".

Diniz acrescenta que "muitos dos que já passaram pelo projeto estão no ensino superior ou no ensino técnico-profissional, ligados já à inserção no mercado".

Orquestra-música clássica - MP3-Mono

Ajuda no combate à exclusão social

A DW falou também com Constantin Ostermann Von Roth, da Associação São Bartolomeu dos Alemães em Lisboa, uma das três instituições que decidiram apoiar a inclusão social dos jovens desfavorecidos.

"Ficamos logo encantados porque a Associação São Bartolomeu é uma instituição de solidariedade social e nós temos um grande interesse também na cooperação com certas instituições, especialmente quando tem com alguma ligação com a Alemanha. E, nesse caso, essa ligação veio através do Instituto Goethe, que também teve um grande interesse junto com a Embaixada da Alemanha no sentido de apoiar a Orquestra Geração".

Constantin Ostermann considera que "tudo que tem a ver com a educação, especialmente educação musical, pode sempre ajudar" a combater a exclusão social destes jovens.